António Fidalgo
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Aprender do
Brasil
Encontra-se por vezes na academia portuguesa
uma atitude de menorização, quando não de sobranceria,
relativamente ao ensino e investigação científica feitos
no Brasil. É uma atitude filha da ignorância. Como grande
país, com 182 milhões de habitantes, com 2,7 milhões de
alunos no ensino superior, o Brasil tem o melhor e o pior
nas suas universidades. Em recente viagem ao Brasil dei-me
conta de aspectos muito positivos da universidade e da
investigação brasileiras, que Portugal faria bem em tomar
como exemplo. Refiro-me hoje em particular e nomeadamente
ao sistema de financiamento e de avaliação da pós-graduação.
Em Portugal não existe uma política de pós-graduação.
Os mestrados e doutoramentos são da competência das universidades,
o Ministério regista esses cursos, e é tudo. O Ministério
não financia cursos de pós-graduação, deixa ao arbítrio
de cada uma das instituições sob sua tutela quanto é que
estas devem cobrar por uma pós-graduação, que pode ir
do zero a 5 mil euros por ano de propinas anuais. O Ministério
também não avalia as pós-graduações. Há mestrados e doutoramentos
em Portugal, sobretudo mestrados, que são desprovidos
de qualquer credibilidade.
O Brasil assume a pós-graduação como elemento integrante
de uma política do ensino superior. Financia-a e avalia-a.
Isto é tanto mais digno de nota quando se conhecem as
dificuldades financeiras do Brasil e se sabe também das
ajudas financeiras significativas que Portugal tem desde
há quase 20 anos recebido da União Europeia. O Brasil
considera que a pós-graduação é um meio para por si se
desenvolver. Há ali um propósito nacional de fomentar
e financiar a investigação (a pesquisa, como se diz em
português do Brasil) através da pós-graduação que não
existe em Portugal.
Tal como os cursos de graduação, isto é de licenciatura,
os cursos de mestrado e de doutoramento no Brasil são
aprovados pelas instâncias federais e financiados de acordo
com as avaliações periódicas desses cursos. Uma vez aprovados
os cursos de pós-graduação passam a ser avaliados com
consequências bem reais. A classificação vai de 1 a 7,
de fraco a excelente. Um curso que obtiver uma classificação
inferior a três deixa de ser financiado e fecha para ser
reestruturado. Um curso que tiver uma boa classificação
é fortemente financiado, obtendo alguns dos seus alunos
bolsas para fazer estágios no estrangeiro. Neste momento,
por exemplo, o Labcom da UBI tem uma bolseira "sandwich",
inscrita em doutoramento numa universidade brasileira,
e em Fevereiro receberá mais outro bolseiro de outro PPG
(Programa de Pós-Graduação). A CAPES é a instituição que
aprova, avalia e financia os cursos de pós-graduação no
Brasil. Uma consulta à sua página na Internet (www.capes.gov.br)
será uma oportunidade para académicos e políticos portugueses
aprenderem do bom que se faz no Brasil.
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