O primeiro
livro de Natália
de Natália
Correia
Por Eduardo Alves
Com apenas
23 anos, Natália Correia publicou este romance que,
numa jovem escritora, pode surpreender positivamente: pela
escrita vigorosa, pela solizez da sintaxe narrativa e pela
clareza das posições ideológicas. São,
afinal, já tão cedo, as mesmas que vai aprofundar
ao longo de uma vida onde nunca separou os valores estético-literários
da participação histórica e cívica.
Uma rua de Lisboa, com as suas gentes, as suas casas, os seus
hábitos. Uma galeria de personagens, de ofícios
e comportamentos: do jovem marçano ao homem das castanhas,
velho e sábio, da actriz reformada, dona da pensão,
à prostituta que sustenta a família. O destino
das pessoas e do bairro, “a materialização
da dor humana esfarrapada, exposta, vertendo pus e sangue…”
“Anoiteceu no Bairro” revela, além do mais,
a cuidada aprendizagem de uma tradição romanesca
onde se cruzam as vozes de Dostoiesvsky, aqui invocado, e
os caminhos do romance naturalista urbano: nos tipos, na construção
dos ambientes e dos retratos, nas situações.
E vemos já a futura dramaturga a ensaiar aqui, com
sucesso, a arte da representação teatral e da
composição do diálogo.
O “monólogo interior” serve-lhe para aprofundar
os “olhos da alma” dessas personagens que parecem
acreditar num destino hostil, mas que a jovem escritora põe
a interrogarem-se sobre essa força que é, para
algumas, um “horrível fatalismo da raça”. |