José Geraldes
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Pensar
o País
Os últimos dados
sobre Portugal fornecidos pelo Eurostat, organismo de
estatística da União Europeia, não
abonam nada a nosso favor. O País regrediu no PIB
(Produto Interno Bruto) para níveis de 1997. Significa
isto que estamos a empobrecer em vez de criarmos mais
riqueza.
A Grécia que tradicionalmente ocupava o último
lugar dos 15, ultrapassou-nos em 2002. Agora com a Europa
alargada a 25 estados, passámos para o último
lugar. Malta, Eslovénia e Chipre estão à
frente de Portugal.
No horizonte próximo, não se vislumbram
sinais de melhoria. E, segundo os especialistas, serão
necessárias dezenas de anos para convergirmos com
a União Europeia.
Mal saídos de uma recessão que nos levou
à depressão e a bater no fundo, as perspectivas
para a consolidação do nosso futuro afiguram-se
negras. As previsões dos organismos internacionais
de crescimento para 2005 ficam aquém do que seria
para desejar.
A OCDE antevê um crescimento apenas de 2,2 por cento
em contraste com os 2,4 avançados no ano passado.
O Fundo Monetário Internacional orienta-se para
1,4 por cento. A União Europeia prevê 1,3
por cento.
Os organismos nacionais dão números ainda
mais pessimistas. O Ministério das Finanças
avança com um crescimento na ordem dos um por cento
e o Banco de Portugal dá um ligeiro aumento de
1,25.
Cavaco Silva, ex-primeiro ministro, numa conferência
no Porto, disse preto no branco que Portugal tem de crescer
mais. Caso contrário, cairá na “segunda
divisão” dos países da Europa quanto
ao desenvolvimento. E, com ênfase, sublinhou: “Enquanto
não crescer à volta de 3 a 3,5 por cento
Portugal continua a afastar-se do desenvolvimento dos
outros”.
Para que o País possa crescer na convergência
da União Europeia, precisa de políticas
adequadas. E de uma revolução nas mentalidades.
De mais trabalho. De assunção de responsabilidades.
Portugal não pode avançar quando uma grande
maioria de cidadãos vive e suga o Estado. Sem produzir
riqueza.
A evasão fiscal não pode continuar como
até aqui. Ninguém entende as razões
pelas quais os governos têm medo de combater a fuga
aos impostos. Decerto, haverá grandes interesses
e pessoas a quem não interessa nada mudar. Formulam-se
boas intenções mas depois na prática
continua tudo na mesma.
Sem reformas profundas não é possível
colocar Portugal na rota da convergência europeia.
Toda a gente fala da necessidade das reformas. Mas quando
chega o momento de as fazer, há logo um coro de
protestos de empresários e sindicatos. Claro as
reformas necessárias deviam ter sido feitas no
tempo das “vacas gordas”. Mas isso não
implica que sejam adiadas. Os países que nos ultrapassaram,
tiveram a coragem de fazer as reformas no tempo oportuno.
A este propósito, cita-se o caso da Irlanda como
exemplar e que soube bem utilizar os fundos comunitários.
Entre nós, estes fundos serviram para enriquecer
uma legião de “chico-espertos” , criando
uma casta de novos-ricos e defraudando o País.
O que dizem os estrangeiros de nós, corresponde
a uma verdade sem contestação. O problema
de Portugal não é conjuntural mas estrutural
marcado pela ausência de reformas como sublinhava
o presidente da Câmara de Comércio Italiana.
Impõe-se pensar o País, organizá-lo,
mobilizá-lo. Não fazer as coisas sem projectos,
não improvisar mas dar-lhe um rumo. Para citando
Fernando Pessoa, “cumprir Portugal”.
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