Anabela Gradim
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PISA outra
vez
Portugal voltou
a ficar em lugar muito pouco honroso nos testes do PISA
(Programme for International Student Assessment), um estudo
realizado pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico (OCDE) que visa medir
as competências e conhecimentos dos alunos de 15
anos a matemática, e literacia científica
e de leitura. Já há três anos os resultados
do estudo tinham revelado uma desproporção
entre o investimento feito nos alunos do básico
e secundário, e os resultados por eles obtidos
nos testes. Nesta última edição o
que podemos verificar é que pouca ou nenhuma evolução
houve no desempenho dos estudantes portugueses. Dá
ideia que, mais reforma menos reforma, mais currículo
alternativo, menos área-escola, tudo fica exactamente
na mesma como esteve, está e estará. É
desesperante. E preocupante, também, se pensar
que o nosso futuro colectivo depende dos jovens que hoje
obtêm resultados destes.
Vamos então a resultados: Em literacia científica
Portugal ocupa o 27º lugar, apenas à frente
da Turquia e do México; e é ultrapassado
pela Finlândia, Japão, Coreia, Austrália,
Holanda, República Checa, Nova Zelândia,
Canadá, Suíça, França, Bélgica,
Suécia, Irlanda, Hungria, Alemanha, Polónia,
República Eslovaca, Islândia, Estados Unidos,
Áustria, Espanha, Itália, Noruega, Luxemburgo,
Grécia, e Dinamarca.
Nas competências de leitura sai-se um pouco melhor,
ocupando o 24º lugar, e na literacia matemática,
de novo recua para 25º lugar, à frente da
Itália, Grécia, Turquia e México.
Não sei se são resultados destes, e a persistência
de resultados destes, que explicam depois coisas tão
extraordinárias como continuarmos a divergir da
média de crescimento europeu, termos sido nos últimos
anos ultrapassados pela Grécia; olharmos para o
desenvolvimento da Espanha e da Irlanda – outrora
também entre os mais pobres – por um canudo;
e já estarmos, neste momento, abaixo da Eslováquia,
que acaba de aderir, e prestes a ser ultrapassados pela
República Checa.
O que explica que ainda não se tenha conseguido
dar a volta a «isto», produzindo um modelo
de desenvolvimento sustentado, depois de mais de 15 anos
a receber ajudas comunitárias que deveriam actuar
nesse sentido? Não há um diagnóstico
unívoco quanto às causas (é a melancolia,
a saudade, a corrupção, a preguiça,
a psicologia da «pimenta da Índia e ouro
do Brasil», a ineficácia da administração
pública, a economia paralela…) e a lista
é virtualmente infinita. Mas entre as causas que
as há para todos os gostos também estão
os arrepiantes níveis de literacia da população
portuguesa, e os números elevadíssimos de
abandono escolar e não-conclusão do secundário
entre os mais jovens. Já se percebeu há
muito que não é atirando com dinheiro para
cima dos problemas que estes se resolvem. O problema da
nossa escolaridade obrigatória talvez não
passe por mais dinheiro, e sim por outra atitude em relação
à escola e à vida em geral. O pior é
quando olhamos em volta e vemos a malta que há
uns anos concluiu o PISA acotovelando-se aos milhares
para o casting do programa Ídolos, e jogando resignadamente
no loto à espera que a sorte mude. Bem podem esperar
sentados.
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