José Geraldes
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Morrer
nas estradas portuguesas
As estradas portuguesas
continuam a ser um cemitério. Seja numas mini-férias
ou simples “ponte”, o número de mortos
por acidente de viação não pára
de aumentar.
E já não falamos dos que ficam inválidos
para a vida inteira ou com sequelas de vária ordem.
Trata-se de uma tragédia que urge suster para bem
de todos nós.
Daí decorre a necessidade de eliminar as causas
que provocam tantos desastres.
A maioria dos estudos sobre o comportamento dos portugueses
ao volante revela que a velocidade excessiva é
a causa principal dos acidentes.
Um inquérito feito em vários países
da União Europeia aponta que 42 por cento dos portugueses
sentem prazer em conduzir com velocidade. Nos outros países
membros, a média é de 34 por cento. Uma
percentagem menor, pois.
Quanto aos limites de velocidade nas auto-estradas também
somos campeões. Dos 1025 entrevistados portugueses,
64 por cento admite ultrapassar habitualmente os limites
contra uma média de 56 por cento nos outros países.
Nas áreas urbanas, 30 por cento reconhece também
passar os limites, face a 24 por cento dos restantes países.
Como se vê, nesta matéria levamos vantagem
aos estrangeiros. Mas é curioso verificar que também
somos os que exigem maiores penalizações
para os prevaricadores. Assim, 80 por cento dos portugueses
defendem que os infractores devem ser punidos por excesso
de velocidade contra 60 por cento dos outros países.
Mais ainda. Os portugueses aparecem como os mais exigentes
no aumento dos limites de velocidade nas auto-estradas
na percentagem de 48 por cento contra a média europeia
de 43 por cento.
Nota-se uma contradição entre o que se pratica
e o que se deseja. Cometem-se as maiores transgressões
contra o Código da Estrada e, depois, querem-se
os maiores castigos. Há aqui um problema de personalidade
dupla. E de contradições.
A explicação das incoerências dos
condutores portugueses é avançada num estudo
da autoria de Luís Reto e Jorge de Sá intitulado
Porque nos matamos nas estradas.
Estes autores concluíram que os portugueses referem
ser o excesso de velocidade a primeira transgressão
nas estradas. Mas trata-se de um erro.
Segundo a análise exaustiva feita no livro, a falta
de civismo e o excesso do álcool figuram entre
as duas primeiras causas dos acidentes, sendo o excesso
de velocidade a terceira causa. A razão surge no
facto de o excesso de velocidade não ser visto
de forma negativa.
Mas há um outro reverso da medalha. Um relatório
da Direcção Geral de Viação
de 2003 considera a velocidade excessiva como a causa
principal dos milhares de acidentes ocorridos. Como explicar
a discrepância ?
O centro do problema estará na variação
da velocidade e tipos de estrada. O especialista de tráfego
Jorge Santos, psicólogo e docente na Universidade
do Minho explica : “Alguém que vai numa estrada
em que a circulação média é
de 80 km / h faz poucas ultrapassagens e tem uma condução
estável e pouco exigente.” E sublinha : “Numa
estrada em que há grandes variações
de velocidade, os condutores têm de travar mais
vezes e fazem mais ultrapassagens”.
O psicólogo seguidamente concretiza : “Quando
as variações de velocidade são associadas
a uma velocidade média de circulação
mais elevada ou em área urbana o problema é
acrescido”. E conclui “não haver causa
directa entre velocidade e sinistralidade”.
Ora um outro estudo de 1997 comprova exactamente a velocidade
excessiva como causa da maioria dos acidentes.
A experiência mostra que a falta de civismo, o álcool
e a velocidade excessiva estão associadas e formam
o trio que matam milhares de portugueses por ano. O bom
senso manda que se eliminem estes erros. Para andarmos
seguros nas estradas.
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