A presidente do Conselho
de Administração do Hospital Distrital Sousa
Martins da Guarda, Isabel Garção, afirma
não equacionar o encerramento da Maternidade daquela
unidade, para ser concentrada no Hospital da Cova da Beira,
na Covilhã. O encerramento daquele serviço
nos hospitais da Guarda e Castelo Branco, e a sua consequente
concentração na Covilhã, foi sugerida
num estudo encomendado pelo Ministério da Saúde
à Comissão Nacional de Saúde Materna
e Neonatal, presidida pelo ex-ministro da saúde,
Albino Aroso.
Isabel Garção, que se reuniu com os deputados
europeus Francisco Assis e Edite Estrela para analisar
a situação do hospital, afirma aos jornalistas
não estar "demasiado preocupada" porque
tem "muita esperança", apesar de o relatório
já há muito tempo estabelecer a meta de
mil e 500 partos para cada maternidade. "Há
aspectos a ter em conta, de geografia de recursos que
existem, de interioridades que têm de ser efectivamente
equacionadas", afirmou a responsável hospitalar
da Guarda, sublinhando que as outras maternidades têm
"um número muitíssimo menor" de
partos do que aqueles ocorrem no Hospital da Guarda, onde,
assegura, é também salvaguardada a qualidade.
"Disso a população da Guarda pode estar
tranquila, porque temos condições muito
boas para actuar e profissionais muito bons, não
temos que estar preocupados com o nível de qualidade
que estamos a dar e queremos continuar nesta matéria",
diz.
Referindo-se ao facto de o referido relatório estar
já em posse do Ministro da Saúde, Luís
Filipe Pereira, para decisão a curto prazo, Isabel
Garção observa que o próprio ministro
já disse que "não é nada que
já esteja consumado", e sustenta que o relatório
em cima da secretária é apenas a informação
técnica, cabendo agora ao titular da pasta da Saúde
analisar os dados.
Médicos contestam resultados do estudo
Já os médicos do serviço de Obstetrícia
e Ginecologia do Hospital distrital Sousa Martins, na
Guarda, contestam os resultados do estudo encomendado
pelo Ministério da Saúde que aponta para
o encerramento da maternidade daquela unidade hospitalar.
Em comunicado, os médicos dizem que foram confrontados
com aquele estudo, que aponta a transferência das
parturientes para o Hospital Pêro da Covilhã,
na Covilhã. O estudo, elaborado pela Comissão
Nacional de Saúde Materna e Neo-natal, refere-se
ao Plano Estratégico de Reordenamento da Maternidade
da Beira Interior.
Os obstetras e ginecologistas do Hospital distrital da
Guarda "rejeitam categoricamente" os argumentos
apresentados no referido plano e sublinham que não
encontram "qualquer justificação para
que as grávidas do distrito da Guarda sejam obrigadas
a ter os seus filhos na Covilhã, sem que para isso
haja qualquer garantia de melhoria assistencial".
A presidente da Câmara Municipal da Guarda, Maria
do Carmo Borges, também critica os resultados deste
estudo e manifestou-se convicta de que o encerramento
do bloco de partos do Hospital distrital Sousa Martins
não vai acontecer. "O ministro (da Saúde)
vai ser uma pessoa inteligente", afirma. Por seu
turno, Ana Manso, vereadora do PSD no executivo autárquico
e também vice-presidente do grupo parlamentar social-
democrata na Assembleia da República, diz que enquanto
estiver como deputada tudo fará para que a questão
"nem sequer se coloque". "A maternidade
não deve nem pode fechar em situação
alguma, deve continuar no Hospital da Guarda, não
faz sentido fechá-la. É um serviço
básico, uma especialidade fundamental para o bom
e normal funcionamento de uma unidade que todos queremos
cada vez mais prestigiada, até porque se prevê
o inicio da construção do novo hospital
no final de 2005, princípio de 2006", afirma.
Da Guarda à Covilhã para pagar portagem?
Entretanto, os médicos do Centro de Saúde
da Guarda elaboraram uma "carta aberta" dirigida
"à sociedade civil política",
onde pedem que se evite o encerramento da Maternidade
do Hospital da Guarda. Sem pôr em causa os motivos
técnicos e profissionais que levaram os responsáveis
do estudo a querer agrupar serviços, os médicos
do Centro de Saúde pretendem saber por que se pretende
"transferir a Maternidade onde mais consultas e partos
se fazem por ano para outra unidade, onde se realizam
menos". "Não deveria ser deslocada a
maternidade que menos profissionais tem ao serviço
e não o inverso?", questionam.
Lembram ainda que "as mulheres grávidas não
necessitam apenas da maternidade para os partos".
"Mais de 50 por cento [das grávidas] são
vigiadas nos Centros de Saúde e necessitam de se
deslocar às maternidades pelo menos quatro vezes
antes do parto e as que são vigiadas no próprio
Hospital precisam pelo menos de uma consulta por mês
na maternidade durante a gravidez", explicam. "Será
que este volume de deslocações (da Guarda
e de Castelo Branco para a Covilhã) está
já a ser contabilizado como rendimento das futuras
portagens da A-23", interrogam os médicos,
que se assumem como representantes das suas utentes grávidas
e dos seus filhos.
Recentemente o executivo municipal da Guarda aprovou um
voto de protesto, enviado ao Ministério da Saúde,
face à eventual transferência da Maternidade
do Hospital da Guarda para o da Covilhã, tendo
a presidente da autarquia, Maria do Carmo Borges, desfiado
o Governo a fazer um levantamento dos nascimentos na Guarda
e compará-los com os de outras cidades.
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