O director do GICC mostra-se muito optimista quanto ao balanço do Festival de Teatro
Festival de Teatro da Covilhã
Mulheres à beira de um ataque de nervos

“Fui às compras”, de Virgílio Almeida, foi a peça escolhida pelo GICC- Teatro das Beiras para a penúltima noite do “Festival de Teatro da Covilhã”. Dora Bernardo e Pedro Oliveira subiram ao palco do Auditório do Teatro das Beiras, perante um público tímido, mas que se mostrou satisfeito.


Por Rosa Ramos


Uma mulher de meia idade permanentemente à beira de um ataque de nervos. Matilde é um verdadeiro furacão de emoções contidas. Vinga-se nas palavras: Fala com o cão. Fala entre ataques de sinusite e ataques de ansiedade. Fala ao telefone, quase sempre. Fala de Portugal e dos portugueses. Fala dos homens e das mulheres. As frustrações, os desejos contidos, os fracassos emocionais, o medo e a raiva da solidão. Não há homens perfeitos. “O problema é que eles não são Deuses”, diz a determinada altura. Imagens de relacionamentos antigos, com um pouco de humor à mistura. Conversas femininas. O lugar da mulher na nossa sociedade. A troca de papéis entre homens e mulheres. Matilde é uma mulher sofrida, que dispara contra os homens, mas que se está a matar a si própria.
Y, interpretado por Pedro Oliveira, é a representação daquilo que Matilde teria sido, caso tivesse nascido homem. Coisas do acaso. Coisas da genética. Y vive numa dimensão paralela, mas surge no mundo de Matilde sempre que ela se emociona. Y é a alegria, a tristeza e as memórias levadas ao extremo. É o confidente e o ciumento. O revoltado e o dedicado.
Com encenação de Carlos Gomes e Carlota Gonçalves, “Fui às compras” estreou em Setembro passado em Lisboa, no Teatro da Mala Posta. Este é a décima primeira vez que sobe ao palco. Um espéctáculo que assenta num discurso feminino sobre os homens. Carlos Gomes refere que “é fácil que as mulheres se identifiquem com Matilde”. Porém, faz questão de acrescentar que esta não é uma peça óbvia, de consensos. “Pode chegar a intimidar o público”.
“Fui às compras” esgotou no Teatro da Mala Posta. Ainda sem saber onde a peça estará em cena a seguir, Carlos Gomes manifesta o desejo de continuar pelos caminhos da itinerância. “É um espectáculo fácil de levar pela estrada. Somos apenas sete pessoas e a cenografia é muito simples”, explica.
Quase a encerrar mais um Festival de Teatro da Covilhã, que este ano comemora os 30 anos do Teapenltima_peca_do_festivaltro das Beiras, um espectáculo sobre as relações entre homens e mulheres. Porque todos temos um lado feminino e masculino.

Director do GICC satisfeito

Fernando Sena, director do GICC- Teatro das Beiras, mostrou-se satisfeito na penúltima noite de Festival. “Para já, o balanço é positivo. A taxa de ocupação da sala tem sido entre os 85 e os 90 por cento e esgotaram dois dos espectáculos”, refere.
Relativamente à alteração do programa que levantou alguma polémica na noite de sábado, dia 11 de Novembro, Fernando Sena desdramatiza a situação. “O que aconteceu é que a actriz da peça prevista adoeceu subitamente. Não entendo a importância que foi dada à situação.” Já no fim da conversa com o Urbi et Orbi, o director apelou a uma maior compreensão para com o teatro e a cultura.