António Fidalgo
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As portagens
e Lisboa ou Madrid
O Governo português
deliberou que deveriam ser introduzidas portagens nas
novas auto-estradas conhecidas por SCUTS, nomeadamente
na A23 que liga Vilar Formoso a Torres Novas. As razões
são tanto de natureza filosófico-política,
de que devem ser os utilizadores a pagarem e não
todos indiscriminadamente, como de natureza circunstancial,
as dificuldades orçamentais de momento. Há
ainda outros argumentos para que se introduzam portagens,
como há também bons argumentos contra a
sua introdução. Uma consideração
da máxima importância deverá ser tida
em conta e é a da coesão do território
nacional.
Quem se encontra aqui junto à fronteira de Espanha
sabe que as auto-estradas construídas, entre Badajoz
e Madrid, e auto-estrada em construção para
Salamanca, Valladolid e Burgos, não tem portagens.
Uma viagem de carro da Beira Interior para Madrid ficará
consideravelmente mais barata que uma viagem para Lisboa.
Neste momento a construção da auto-estrada
entre Salamanca e a fronteira portuguesa está em
plena construção e o mesmo se passa com
a auto-estrada entre Plasencia e Naval Moral. Dado que
a gasolina é neste momento significativamente mais
barata em Espanha do que em Portugal e que os custos previstos
da auto-estrada em Portugal cobrirão os custos
de combustível até Madrid, estarão
os políticos alfacinhas conscientes da desunidade
nacional que a introdução de portagens na
A23 provoca no território nacional? Não
são as distâncias em si que contam, mas o
tempo, a comodidade e o custo. Se esses políticos
de gabinete acham que os poucos votos da interior pouco
contam, que as vastas regiões desertificadas por
estas bandas não valem o investimento aqui feito,
então olhem para o que se passou nas últimas
eleições na América, em que as regiões
mais populosas, as costas e os grandes lagos, foram vencidas
pela massa territorial com menos população.
Claro que as pessoas aqui não precisam de ir a
Madrid como precisam de ir a Lisboa e que pagarão
aonde precisam de ir. Mas falamos aqui de sinais e de
tendências. E começamos com o desnecessário,
as férias e o lazer. Fazer férias cá
dentro? Pagando cá as estradas e não pagando
lá? Ser patriota não é ser parvo.
Um português junto à fronteira que atesta
o depósito do automóvel em Espanha, um casal
que decide ir passar um fim de semana a Madrid em vez
de ir a Lisboa, porque é mais barato, não
deixam de ser patriotas. O sentido de estado, de coesão
do território nacional, de ministros que julgam
que a pátria é uma empresa bem administrada
é que deve ser posto em causa. Ponto.
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