Por entre teorias políticas,
onde se aborda uma mesma temática através
de dois prismas diferentes, um positivo e outro negativo,
ou recorrendo às áreas da educação,
o conceito de liberdade apresenta alguns contornos semelhantes.
Olhar para as perspectivas contemporâneas do conceito
de liberdade foi um dos intuitos da mais recente iniciativa
do Instituo de Filosofia Prática. As jornadas decorreram
na Sala dos Conselhos da UBI, nos passados dias 4 e 5
de Novembro e reuniram um conjunto de investigadores sociais
de vários países. Teoria Política,
Ética e Ciências da Educação
foram os três grandes campos de discussão.
Uma simples palavra que pela sua utilização
e infinita aplicabilidade na vivência humana ganha
inúmeras interpretações. Quer se
olhe para a definição mais clássica
e escolástica, quer se aplique a definição
do senso comum, a noção de liberdade ganha
uma “libertinagem” própria e toma a
face de quem a utiliza. A fazer fé nas palavras
de Elena Garcia Guitián, investigadora da Universidade
Autónoma de Madrid (UAM) e participante neste seminário,
“a preocupação individual e colectiva
com a liberdade é um bem essencial ao ser humano”.
A ideia ganha consistência num período em
que a palavra liberdade “é utilizada nos
mais variados contextos e com os mais dispares significados”,
reitera Fernando Vallespín da UAM.
Maquiavel referia que “se alguém se preocupa
só com a sua liberdade, descurando a liberdade
dos outros, a vida pública acabará por perder
o seu espaço próprio”. Uma referência
que serviu de mote para a discussão de liberdade
como factor de não dominação. Num
contexto mais político, André Barata, da
Universidade da Beira Interior (UBI) e os dois investigadores
da UAM falaram “livremente” deste importante
conceito. Fernando Vallespín apresentou mesmo o
caso prático da política espanhola. A relação
entre Zapatero e os media, os seus adversários
e os cidadãos. O jogo que é feito em torno
da comunicação, das principais medidas políticas
e de quase tudo o que tem a ver com o processo governativo.
A discussão ganhou asas e tomou novas liberdades
a serem abordadas as transições políticas
dos regimes para as novas formas de Estado. O papel deste
na vida dos seus cidadãos, na sua liberdade, foi
mostrado em forma de disfarce democrático que não
espelha as ditaduras económicas que sustentam “grande
parte dos regimes actuais”, explicam os intervenientes.
Retratos que se podem aplicar ao caso português,
o qual nas últimas semanas tem conhecido evoluções
negativas. Foi também das concepções
negativas e positivas de liberdade, teorizadas por Hannah
Arendt e Isaiah Berlin, que este primeiro conjunto de
investigadores falou.
Ética e política
foram áreas que falaram da liberdade
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Uma ética de alforria
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Lá diz o ditado que a liberdade de um indivíduo
acaba onde começa a de outro. A antropologia cultural
cuidou de repescar estes saberes milenares para as ciências
sociais e daí que um debate ou seminário
versando sobre liberdade não possa ter lugar sem
uma passagem pela ética.
A ciência da moral foi revelada por Pedro Galvão
num trabalho que fala do consequencialismo e dos limites
da liberdade. Sem criar, de qualquer forma, barreiras
aos participantes, este investigador da Universidade de
Lisboa abriu o debate que seria complementado por outras
duas intervenções de docentes da UBI. António
Bento e Ana Leonor Santos passearam-se pelo conceito da
“educação liberal” em Leo Strauss
e pela aporia de Aquilies e da tartaruga.
Estudar os direitos e os limites que uma pessoa tem de
poder dispor de si foram objectivos destas intervenções
éticas. A aprendizagem, a correcta utilização
da liberdade, no sentido individual ou colectivo, no bem
ou no mal, “é sobretudo uma acção
ética”, aponta Pedro Galvão.
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A educação deve ser uma maior aposta
das polítcas democráticas |
Passadas as teorias políticas e éticas,
a iniciativa do Instituto de Filosofia Prática
(IFP) guardou para o final uma das melhores abordagens
sobre a liberdade. A polidez e a cortesia, a instrução
e o respeito ganham nobreza e razão de ser com
a boa utilização da liberdade.
Maria Luísa Branco, da Universidade da Beira Interior
tomou lugar junto a Michael Apple, da Universidade do
Wisconsin-Madison, para falar sobre a educação
cívica no contexto de uma educação
democrática. Em forma de conclusão e de
apanhado de ideias, esta investigadora da UBI e uma das
organizadoras das jornadas, alude para o facto da educação
estar na base da verdadeira cidadania democrática.
A falta de sensibilização para os temas
em volta da cidadania, em torno do papel colectivo de
cada um, da participação na vida activa
comum leva os investigadores a diagnosticar graves doenças
cívicas aos regimes políticos vigentes.
Falando sobre o seu campo de estudo, a investigadora Luísa
Branco alerta para o facto da educação estar
hoje “muito tecnologizada e pouco ordenada para
este tipo de assuntos”. De todo o quadro de escolas
que investigou, a docente da UBI aponta para um desajuste
das políticas educativas em relação
à cidadania e à importância que a
educação tem nesta temática, na formação
de uma boa liberdade, teses suportadas por Michael Apple.
O investigador americano da Universidade do Wisconsin
veio à UBI falar sobre educação e
sobre o papel desta na liberdade e nas conhecidas “sociedades
desenvolvidas”. Para Apple, a educação
que sustenta a cultura de cada ser humano é o pilar
da liberdade. Uma educação perspectivando
o outro “produz um homem completamente diferente
daquele que é moldado por um regime educacional
egocêntrico”. Este estudioso referiu como
exemplo, o caso do seu próprio país.
Um dos mais reconhecidos
pensadores da actualidade vê a reeleição
do presidente americano com muita desconfiança
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Políticas à parte
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À margem do encontro, nos intervalos deste seminário,
uma das conversas que ocupou grande parte do descanso
dos participantes foi a reeleição do presidente
americano, George W. Bush.
Quer pela sua nacionalidade, quer pelos estudos que tem
desenvolvido no campo educacional e político, Michael
Apple encontrava-se num lugar de destaque para comentar
o assunto. Segundo este pensador, a reeleição
de Bush “foi um completo desastre”. Classificando
o presidente texano como “portador de uma arrogância
brutal”, as suas políticas têm mudado
o sentido “da liberdade”, em várias
nações do mundo.
Com um discurso marcado pela acutilância das ideias,
Michael Apple mostra-se “bastante preocupado com
a situação actual do planeta”. Na
óptica deste pensador, que teoriza sobre variados
assuntos “o mundo está transformado num gigantesco
supermercado onde os ricos compram aos pobres, o que lhes
apetece”.
Este fosso económico “que fica mais fundo
a cada dia que passa”, é um ataque a todas
as nações que se “opõem ao
regime”. Como exemplo das macro políticas
económicas, Apple utiliza a própria reeleição
de George W. Bush. Este investigador refere que “a
presidência de uma das mais importantes nações
do planeta foi comprada por um bilião de dólares”.
“É agora mais árduo” o caminho
a percorrer pela civilização.
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