Por Rosa Ramos


O Auditório Municipal da Guarda foi o local escolhido pela banda de Jamie Stewart para actuar no nosso País

No passado dia 1 de Novembro, a cidade da Guarda recebeu um importante evento cultural. O mais curioso, porém, é que apenas cerca de trinta pessoas estiveram presentes. Quando questionadas, qualquer uma delas descreveu com entusiasmo o furacão emocional que avassalou o auditório da Câmara Municipal da Guarda. Jamie Stewart, vocalista e guitarrista e Caralee McElroy, percussionista, organista e acordeonista, conhecidos no meio como Xiu Xiu, proporcionaram setenta minutos de descargas, ora energéticas e esquizofrénicas, ora intimistas, sussurradas e poderosamente destrutivas. É este o universo da banda californiana que conseguiu em dois anos agradar a toda a elite da crítica musical e ser consagrada, unanimemente, como genial.
O nome da banda é inspirado num filme chinês de 1998 “Xiu Xiu: The Sent Down Girl”. Os Xiu Xiu apresentaram neste concerto temas dos seus três LPs, Knife Play (2002), A Promise (2003) e Fabulous Muscles (2004).
Timidamente, Jamie começou o concerto com um breve agradecimento ao público por estar presente e dirigiu os olhos para o chão, onde os manteria na quase totalidade do concerto. Caralee não se manifestou em vez alguma, esperando sempre apenas confirmações de Jamie para o início e final de alguns dos temas. Este tipo de frieza e distanciamento dos elementos da banda foi completamente desmistificado quando, em conversa com o Urbi et Orbi, Caralee falou um pouco do novo trabalho.
A data de lançamento do próximo LP da banda está anunciado para Agosto do próximo ano e a conversa ainda serviu para a multi-instrumentista da banda revelar a probabilidade de ouvirmos a sua voz em dois dos temas do novo registo, apesar de a banda não ter, ainda, entrado em estúdio. Falou um pouco da sua terra natal, de galerias de arte um pouco por todos os EUA, das diferenças entre o público americano e europeu e da preocupação com a sequência persistente de concertos da banda, mais particularmente com Jamie, cujo esforço vocal é extremo e o leva à exaustão no final de cada concerto.
Durante o concerto, foram notórias as influências musicais da banda. Havia um pouco de Ian Curtis (Joy Division) na postura do frontman dos Xiu Xiu. Revivemos também um pouco de Robert Smith (The Cure) na agressividade aflitiva da forma como impunha as suas estórias de infâncias torturadas e vivências chocantes a uma audiência rendida à intensidade das suas palavras e à harmonia da banda que enchia um palco preenchido apenas com um reduzido conjunto de instrumentos e aparelhos de amplificação sonora. Mas é à miscelânea de influências musicais e literárias e à alma criativa de Jamie Stewart que se deve a originalidade dos conceitos da banda que vai mostrando novas vias de exploração da sonoridade alternativa e independente, à semelhança do célebre poema de Robert Frost:

Two roads diverged in a wood, and I…
I took the one less travelled by,
And that has made all the difference
.