Por Liliana Ferreira


A referência ao corpo é uma constante em toda a cena

O Festival Y levou ao palco, do Teatro-Cine da Covilhã, a peça Projecto Móvil, dirigida por Nuno Messias e Sílvia Ferreira. Com pouco mais de trinta pessoas, o espectáculo de sessenta minutos iniciou-se por volta das nove e quarenta e cinco da noite, assumindo desde o início características algo bizarras que deixaram antever uma peça completamente diferente das que habitualmente se vêem. Caixas de cartão espalhadas pelo espaço cénico para os espectadores se sentarem e apitos suspensos foram duas das marcas mais significativas da invulgaridade da peça.
Todo o espectáculo se desenvolveu num ambiente nitidamente íntimo, com uma luminosidade mínima, numa proximidade muito reduzida entre público e actores “cujos espaços em branco cabia ao observador preencher”. Pretendeu-se, desta forma, criar uma interactividade público-peça que não se registou tanto quanto o desejado. Os actores Claúdio Pereira e Paula Rodrigues deram voz e corpo às personagens da peça - um homem e uma mulher. Eram personagens contemporâneas que se debatiam com a angústia de um passado já vivido e de um presente que pretendia a reminiscência das vivências do passado. O ser representado na peça é visto como um errante viajante cujas acções e situações que cria mostram a sua parte mais própria sendo que o corpo funciona apenas como mera embalagem, “somos só pele, carne e osso”. Procura-se mais que tudo uma regressão nunca conseguida dado que as memórias compõem um elemento que acumula, nunca regride. “Voltar nunca é regressar, é sempre voltar a partir”.
Em cena esteve uma peça que mais do que entreter pretendeu fazer o público reflectir sobre si próprio. Patente fica a ideia que a cultura ainda cria adeptos.