José Geraldes

Portagens e drogas


1. Já muito se escreveu sobre as portagens na A23. Mas nunca será demais abordar o problema. O impacto sobre as populações do Interior é demasiado grande para o esquecer. E é o nosso desenvolvimento que sofre as consequências.
As manifestações de descontentamento que se genelarizaram, revelam bem o que vai na alma das gentes atingidas pelo novo imposto.
Se a interioridade já por si constitui um obstáculo a mais progresso, o pagamento de portagens agrava ainda a situação das empresas e trava a iniciativa de novos projectos económicos.
Os transportes de mercadorias tornar-se-ão mais caros. O turismo sofrerá perdas dramáticas. E por melhores planos que se idealizem para a Serra da Estrela, as portagens serão um empecilho a ter em conta.
António Mexia, ministro das Obras Públicas, anunciou, em Belmonte, o alargamento do perímetro de isenção para além dos 30 quilómetros com a promessa de nos próximos dez anos toda a rede secundária ser objecto de remodelação. Mas este alargamento só será efectuado depois da introdução das portagens. O que significa, em termos políticos, não sabermos quando será estabelecido.
O Governo andou com uma pressa inaudita para introduzir as portagens. Mas não se vê a mesma pressa para promulgar medidas de combate à evasão fiscal que abranjam os donos das 153 mil empresas que nunca pagaram um cêntimo para o fisco, o milhão e cem mil agentes económicos que produzem uma colecta média inferior a 80 euros ou os 588 mil empresários em nome individual ou profissionais liberais que geram uma colecta média inferior a 190 euros (dados de A. Pinho Cardão).
Uma vez que o Estado precisa de receitas, aqui tem um vasto campo para explorar. Com a vantagem de fazer pedagogia para que os portugueses deixem de se armar em “chico-espertos” para não pagar impostos.
Tais medidas acarretam custos políticos. Mas promovem a verdadeira justiça para os cidadãos.

2. O dados vindos a público sobre o consumo de drogas na Beira Interior, no ano 2003 são arrepiantes. Quem os fornece é um organismo oficial, o Instituto da Droga e da Toxicodependência.
O consumo de drogas duras já não é apanágio das grandes cidades mas atinge também as cidades médias do Interior. Com a agravante de estar ligado à Sida provocando mortes.
De notar que, segundo o relatório, os homens são mais consumidores do que as mulheres. Mas o que impressiona são as faixas etárias. Quer na Guarda, quer em Castelo Branco, as idades do consumo vão dos 20 aos 34 anos. Ou seja os anos em que se formulam projectos para a vida.
Não basta verificar os factos e pô-los em relatório friamente. É necessário apresentar novas propostas que diminuam o consumo drogas duras. Tarefa difícil, sem dúvida, mas da qual o Estado não pode demitir-se. Nem a sociedade ignorar.