Donizete Rodrigues*

A Vida e a Morte de Bryan Wilson (1926-2004): um grande nome da Sociologia da Religião


Bryan Ronald Wilson nasceu em Leeds, no dia 25 de Junho de 1926, e morreu no dia 09 de Outubro de 2004, em Oxfordshire, Inglaterra. Este sociólogo britânico exerceu uma expressiva influência teórica e empírica no campo da sociologia da religião. Foi professor visitante em vários países, Estados Unidos, Gana, Suécia, Bélgica (onde tinha uma relação de profunda amizade com Karel Dobbelaere), Canadá, Austrália, Finlândia, Japão e Portugal (Macau).
Fortemente influenciado pelo concepção weberiana da racionalização da cultura e da sociedade (ele editou a obra Rationality, em 1970, uma colecção de ensaios sociológicos, antropológicos e filosóficos, com uma importante contribuição de Ernest Gellner), a decisiva contribuição de B. Wilson tem sido na problemática do sectarismo e secularização, no contexto do Cristianismo, e dos novos movimentos religiosos não-cristãos.
Sua primeira grande contribuição sociológica foi o artigo «An analysis of sect development» (American Sociological Review, 1959), uma crítica à teoria sobre seitas defendida pelo teólogo norte-americano Richard Niebuhr. O argumento de Wilson é que as seitas não se desenvolvem da mesma maneira. Assim, considerando a sua grande diversidade, é necessário criar uma nova tipologia de seita, mais adequada e adaptada ao mundo de hoje.
Para a sua tese de doutoramento (na London School of Economics, defendida em 1955), ele investigou, com trabalhos de campo etnográficos, três movimentos protestantes evangélicos: Elim, Christian Science e Christadelphians. A tese, publicada em Sects and Society (1961), considerada a primeira análise sociológica sobre seitas religiosas na Grã-Bretanha, marcou fortemente os subsequentes estudos sobre sectarismo. Na Obra Patterns of Sectarianism (1967), Wilson editou uma colecção de ensaios de alguns de seus discípulos directos, ex-alunos do doutoramento, apresentando também uma influente tipologia e classificação de seitas. Esta questão será depois retomada na sua obra de carácter mais popular, Religious Sects (1971).
Seu interesse pelo fenómeno da secularização começou com a obra Religion in Secular Society (1966). Posteriormente, ele retoma este tema em Contemporary Transformations of Religion (1976), resultado de um ciclo de conferências (Riddell Lectures) que ministrou na Universidade de Newcastle.
Mas, felizmente para as ciências sociais, a contribuição de Bryan Wilson não se ficou apenas restrito à Sociologia; ele também escreveu duas obras antropológicas notáveis: em Magic and the Millennium (1973), um trabalho complexo e ambicioso: ele analisa, em diferentes partes do mundo, novos movimentos religiosos milenaristas no contexto de sociedades tribais. Em The Noble Savages (1975), mais uma vez fortemente influenciado por Max Weber, ele analisa as origens primitivas do carisma, o conceito de líder carismático e a sua sobrevivência hoje em diferentes sociedades do mundo.
Entre 1971-1975, foi Presidente da International Society for the Sociology of Religion (era Presidente honorário desde 1991), onde deu um enorme contributo para a institucionalização do ensino e da investigação da sociologia da religião.
No ano lectivo 1978-1979, ele foi Professor Visitante na Universidade de Soka, no Japão, onde conheceu Daisaku Ikeda, presidente do movimento religioso Soka Gakkai. Durante muitos anos eles encontraram-se várias vezes, no Japão e na Europa, escreveram cartas (naquele tempo não havia a massificação do uso do popular e-mail), com o objectivo de discutir, em diferentes perspectivas, questões relacionadas com o papel social da religião. O resultado desta troca de ideias foi o livro Human Values in a Changing World (1984).
O seu constante interesse por questões relacionadas com o sectarismo no mundo moderno, cristão e não-cristão, materializou-se nas seguintes obras: The Social Impact of New Religious Movements (1981); Religion in Sociological Perspective (1982), com as conferências ministradas no Japão; The Social Dimensions of Sectarianism: Sects and New Religious Movements: challenge and response (1999).
Durante 30 anos, B. Wilson organizou o influente e concorrido «All Souls Seminar in the Sociology of Religion», na sua Universidade de Oxford, um importante fórum de debate, onde participaram renomados cientistas sociais de todo o mundo. Algumas das contribuições deste seminário foram publicadas na obra Religion: Contemporary Issues (1992).
Na última década do século XX, B. Wilson intensificou o estudo sobre o movimento religioso japonês, cujos resultados foram publicados em A Time to Chant: The Soka Gakkai Budhists in Britain (1994), com K. Dobbelaere, e Global Citizens: the Soka Gakkai Budhist Movement in the World, editado com D. Machacek (2000).
Muitos dos seus livros foram traduzidos em diversas línguas: japonês, tailandês, sueco, alemão, holandês, francês, italiano, espanhol e português. Bryan Wilson reformou-se em 1993, mas continuou a escrever artigos em revistas, livros, dicionários e enciclopédias e, apesar da doença de Parkinson, manteve uma vida intelectual activa até a sua morte.
Conheci Bryan Wilson em 1999, na Universidade Católica de Leuven, Bélgica, início de uma curta, mas, para mim, importante relação académica e pessoal. No ano lectivo 2000-2001, como professor visitante no Departamento de Sociologia da Universidade de Bristol, desenvolvi na Universidade de Oxford, sob a sua orientação, o projecto de investigação «Religion in Sociological Perspective», que resultou no livro The God of the New Millennium (2002), que ele acompanhou da primeira a última página e escreveu o prefácio. A partir de 2001, agora como Erasmus Fellow na Universidade de Bristol, tive mais dois encontros em Oxford com Bryan Wilson, o último em Novembro de 2003. Eu estava de saída para mais uma curta estadia em Bristol e visita obrigatória ao Bryan Wilson em Oxford, mas já não tive tempo.
Parte o homem, mas fica a sua notável obra para a eternidade.

Thank you very much mister Bryan Wilson.

* Professor Associado da Universidade da Beira Interior e Erasmus Fellow na University of Bristol, Inglaterra