Urbi et Orbi
- Há quanto tempo preside à Unidade das
Ciências Exactas?
José Pacheco de Carvalho - Já presidi
por várias vezes, algumas delas na qualidade de
presidente do Conselho Directivo. Mais recentemente foram
feitas algumas mudanças nos regulamentos, e o presidente
da Secção Científica passou também
a ser por inerência o presidente do Conselho Directivo.
Nessa qualidade também já fui eleito.
U@O - Quais são as maiores dificuldades
com que se depara no exercício do seu cargo?
J.P.C - Como presidente da Unidade não
têm sido encontradas nenhumas dificuldades dignas
de assinalar porque temos tido sempre um bom relacionamento
com todos os órgãos da UBI.
Mas a Unidade tem alguns problemas. Abrange um grande
número de alunos de várias disciplinas,
cursos e diferentes áreas. É um eixo estrutural
da UBI, e uma base fundamental de todas as áreas
científicas e tecnológicas, já que
os conhecimentos de base das Ciências Exactas são
necessários em praticamente todas as áreas
científicas.
Para além dos recursos humanos, dos espaços,
do papel e da bibliografia, são precisos meios
laboratoriais e computacionais, que requerem recursos
consideráveis. E nesse sentido, embora a Unidade
se encontre bem dotada de equipamentos, tem de haver actualizações
para as quais os orçamentos mais recentes não
têm ajudado muito. Depois, aos custos de equipamento
há que acrescentar os custos de funcionamento bastante
elevados, porque é necessário renovar equipamentos
específicos, alguns dos quais já atingiram
o fim de vida útil. E nós temos de dividir
os alunos por turnos, e atender às capacidades
dos laboratórios, até porque pedagogicamente
não se pode ter um laboratório superlotado,
e têm de se dar as aulas com o mínimo de
condições de qualidade.
Por outro lado, os alunos vão avariando o equipamento,
normalmente através do processo de ensino-aprendizagem.
É preciso mandá-lo reparar, ou adquirir
novo. A parte laboratorial requer um investimento constante
em termos de funcionamento. Então, como os orçamentos
precisam de ser complementados com outras verbas, temos
concorrido a vários programas e bastantes têm
sido financiados o que permite arranjar recursos adicionais
para a Unidade fazer face a essas despesas.
"Os alunos, cada vez
mais, fogem das ciências"
|
"As ciências exactas são de importância
vital"
|
U@O - Há algum tipo de colaboração
com empresas?
J.P.C. - Tem havido alguma. Há empresas
que têm oferecido equipamentos ligados a alguns
cursos. Por exemplo na área da optometria e optotecnia.
As próprias empresas apercebem-se da existência
de cursos que lhes interessam e promovem equipamento junto
dos departamentos e dos alunos. Os próprios estudantes
também são muito activos, na procura de
interligações com entidades exteriores.
Os alunos cada vez mais fogem das ciências. Como
é que vê isso?
De facto é uma realidade que o número de
alunos tem estado a diminuir nos anos mais recentes. A
nível geral, mas no caso desta unidade isso também
se verifica. Acontece que há cursos em que a procura
continua a ser muito boa e as vagas têm sido preenchidas
na totalidade. Por outro lado, têm aumentado as
classificações dos últimos alunos
colocados. Estive a consultar alguns dados estatísticos
e esta realidade é um facto.
U@O - Que papel representam as ciências
exactas na UBI?
J.P.C. - Considero que as ciências exactas
são de importância vital e fundamental a
nível nacional e internacional. Na UBI considero
que são mesmo um eixo estruturante e a base fundamental
de todas as áreas científicas e tecnológicas.
A Unidade engloba os departamentos de Matemática,
Física e Química, tem um corpo docente altamente
qualificado num total de 60 doutorados, seis docentes
em mestrado e 42 em doutoramento. Estes números
inserem-se numa política geral de qualificação
de pessoal docente, na aposta na qualidade e melhoria
da mesma. Também temos um grupo de pessoal não
docente experiente e que se tem vindo a qualificar.
"Participação do aluno e do docente
são fundamentais"
|
"Continuam a ingressar no Ensino Superior alunos
com notas negativas"
|
U@O - Como vê o interesse cada vez menor
dos alunos pelas ciências, e como pode isso afectar
a Unidade?
J.P.C - Têm estado a ser tomadas pela universidade
em geral uma série de medidas. Estou a falar de
medidas que visam minorar a situação de
haver menos alunos, e para procurar atrair mais gente.
O facto é que continuam a ingressar no Ensino Superior
alunos com notas negativas, o que não se passa
na UBI. Mas as regras de acesso deviam ser iguais para
todas as instituições. Para não penalizar
umas e beneficiar outras.
Só para enumerar algumas medidas, independentemente
de sabermos que é preciso apostar em novos públicos,
em novas actividades, incrementar a pós-graduação,
inovando sempre. Mas há várias acções
que já foram levadas a cabo, por exemplo, acções
de marketing e de divulgação junto de várias
entidades, entre escolas, a divulgação de
informação na comunicação
social, os dias da UBI, a divulgação de
informação utilizando as novas tecnologias
de informação e de comunicação,
via Internet, uma vez que nós dispomos de bons
recursos computacionais e de boas ligações
à Internet, através da rede Ciência,
Tecnologia e Sociedade. Em Outubro, por exemplo, a nossa
conectividade passou de 12 para 20 Megabits por segundo.
Há muita procura e portanto estes aumentos periódicos
são necessários.
Por outro lado, os antigos alunos já licenciados
e os docentes têm muito contribuído para
esta divulgação. Tem sido feito um incremento
considerável ao nível do apoio social aos
alunos. Mais residências, um maior número
de camas, as cantinas, etc.
A própria avaliação externa e reestruturação
dos cursos penso que tem impacto junto dos potenciais
candidatos. Os regimes de tutorado, tendo em vista um
melhor acompanhamento dos alunos. As novas metodologias
pedagógicas, incluindo o e-learning, que é
uma das vertentes do projecto e-UBI em curso, para proporcionar
no fim de contas as melhores condições aos
alunos e cativá-los. Ainda a nível da própria
cidade da Covilhã, verificamos que se tornou acolhedora
para os alunos, com uma vida académica atractiva.
Mas estes problemas são a nível nacional
e têm-se verificado também noutros países.
Vemos a própria geração mais jovem,
e penso que se familiarizou desde muito cedo com os meios
audiovisuais, com grandes quantidades e variedade de informações,
o que a levou a ser muito mais sensível e cativável
por áreas novas e recentes em Portugal. E a nível
do ensino secundário, nota-se de facto, um certo
desinteresse por áreas como a matemática,
a física e a química, matérias consideradas
muito difíceis. Então é necessário
inverter esta situação que considero prejudicial
para o desenvolvimento do País.
U@O - Que projectos futuros há para a
Unidade?
J.P.C. - A Unidade, através do e-learning,
que já está a disponibilizar vários
conteúdos, através da rede geral de informática
da UBI, e pensa-se incrementar os conteúdos das
várias disciplinas, quer a nível de graduação,
quer a nível de pós-graduação.
A própria disponibilização dos conteúdos
nos locais onde os alunos estão como seja o facto
de eles se encontrarem nas residências, frequentarem
as cantinas, etc., permitirá, penso eu, que a difusão
da informação seja maior e que isso também
possa contribuir para o sucesso escolar, independentemente
de agora haver metodologias em que o aluno está
mais perto do docente, que facilitam esse sucesso. A participação
do aluno e do docente no sistema são fundamentais.
O processo de Bolonha é muito importante e prevê
isso. Este ano temos uma tentativa de aproximação
a esse processo, que aliás já tem vindo
a ser feita anteriormente. É um ano de transição.
"Penso que da interdisciplinaridade
das áreas nascem ideias novas" |
"Criação de cursos estratégicos
em áreas científicas" |
U@O - Prevê-se a abertura de novos cursos na Unidade?
J.P.C - A esse nível há algumas
ideias para a criação de cursos estratégicos
em áreas científicas da unidade, alguns
planeiam envolver outras unidades, tais como a Faculdade
das Ciências da Saúde e as Ciências
da Engenharia. Mas ainda não devemos divulgar informação
sobre este assunto por ainda não ter sido presente
aos órgãos competentes.
Penso que da interdisciplinaridade das áreas nascem
ideias novas para a criação de novos cursos
que poderão atrair mais públicos. Sabemos
que, neste momento, os cursos de ensino estão a
atrair menos alunos. Mas acredito que daqui a alguns anos
vai voltar a haver necessidade de professores.
Falo da interdisciplinaridade na medida em que um determinado
curso novo vai utilizar recursos de várias unidades.
Isto tem a ver com a própria estrutura matricial
da universidade e de facto acho que é um modelo
que tem funcionado bem. E tem permitido optimizar recursos
a vários níveis.
U@O - Concorda com a ideia que já veio
a público e que juntaria a Unidade de Ciências
Exactas à das Ciências da Engenharia?
J.P.C - Considero que não se deve confundir
complementaridade com fusão. As unidades são
complementares não se podendo confundir as áreas
científicas existentes em cada uma delas, que estão
bem definidas. Por outro lado acho que este modelo tem
funcionado bem, e tem produzido bons resultados quer a
nível de ensino, quer de investigação.
Actualmente há pessoas de vários departamentos
e unidades diferentes a participar nos mesmos projectos
de investigação. Isso tem tido todo o interesse.
De qualquer maneira, as unidades complementam-se no todo
que é a UBI.
U@O - Imaginando a unidade e a universidade daqui
a alguns anos, como gostaria de vê-las?
J.P.C - Tendo em atenção o que
se está a verificar, espero que a UBI continue
a crescer, a consolidar-se e a afirmar-se cada vez mais
como instituição de ensino e investigação,
nacional e internacionalmente. Desejo que continue a contribuir
para o desenvolvimento regional e nacional, e que vença
os desafios colocados pela declaração de
Bolonha, que continue a melhorar a qualidade das necessidades
que tem vindo a perseguir.
Quanto à Unidade, espero que se transforme em Faculdade
e que continue a trabalhar a vários níveis
no interesse geral da universidade.
"Faculdade - questão de autonomia e
delegação de competências" |
"Devia saber-se o que as faculdades podem e
como é que podem fazer certas coisas" |
U@O - De que depende a transformação
em Faculdade?
J.P.C. - É uma questão de regulamentarem
o que é que as faculdades podem e como é
que podem fazer, a questão das autonomias, a delegação
das competências. Neste momento já temos
uma delegação de competências do Senado,
para alguns actos e para autorizar algumas despesas, mas
há uma competência central. Não temos
um número de contribuinte diferente, e é
nesse sentido que penso que se caminha. Temos uma contabilidade
e tesouraria únicas, temos vários serviços
administrativos centrais.
Bom, penso que estar a multiplicar as contabilidades por
todos os departamentos seria desastroso. Acho que há
estruturas que têm de existir a nível central
sem terem de se multiplicar. Mas estas questões
também se relacionam com as leis dos ministérios,
que periodicamente mudam, e as universidades têm
de adaptar os seus estatutos às novas leis. Nesse
sentido têm-se estado à espera de legislação
vária para depois poder ser adaptada a organização
interna das universidades, entre elas o processo de Bolonha.
A UBI já se está a adaptar, embora haja
aspectos em que é necessário esperar. Seria
contraproducente estar a avançar com aspectos que
depois terão de ser alterados.
U@O - Acumula as suas funções de
presidente da Unidade com as de director do centro de
informática?
J.P.C. - Director do centro de informática
é um cargo que é por nomeação
reitoral, por intermédio do conselho científico,
e tenho estado desde 1989, e também tenho participado
no conselho consultivo da FCCN. Como presidente da Unidade
é um cargo que é por eleição
e não por nomeação.
No entanto as actividades num e noutro caso são
diferentes. São dois cargos diferentes em que não
se misturam assuntos nem competências.
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