Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


Os docentes de matemática apontam maiores dificuldades nas zonas rurais

Em termos médios os alunos dos meios rurais, "cujos pais, no sentido livresco do termo, têm um nível cultural mais estrito, têm menos aproveitamento a matemática que os de meios urbanos, uma vez que não dispõem do mesmo apoio em casa". Mas isso estende-se a todo o país, não se verifica apenas na região. É esta a ideia com que fica José Carlos Lavrador após vários anos de ensino, um dos participantes no vigésimo ProfMat, o Encontro Anual da Associação de Professores de Matemática, que este ano decorreu na Covilhã entre 29 de Setembro e 1 de Outubro e juntou cerca de mil professores.
No entanto, Lavrador, que já foi deputado na Assembleia da República, onde integrou a Comissão de Educação, sublinha que os alunos dos centros urbanos se debatem com outros problemas e realça que "aparecem mais núcleos de excelência nos meios urbanos por uma questão de proporcionalidade, onde há mais gente".
Os maus resultados e as dificuldades com a disciplina são uma realidade com que os docentes se deparam todos os dias e um dos aspectos que contribuem para o insucesso é a carga que se transmite de geração em geração de que a matemática é difícil de aprender. "Isso é logo um elemento inibidor para aprender e cria-se um mito que não corresponde à realidade. Não é fácil mas não é intransponível", frisa Lavrador. Uma opinião que é partilhada pelo resto da classe. Anabela Lemos lamenta que os maus resultados a matemática sejam um fenómeno socialmente aceite e as jovens professoras Elisa Rodrigues e Cátia Ferreira criticam também que as más notas a esta disciplina sejam desculpabilizados em casa, "porque os pais dizem que eles também já tinham más notas".




Alunos são preguiçosos

Manuel Saraiva, da organização, salienta que documentos do início do século XX já mostram que os alunos têm más notas em Portugal desde sempre. Mas descarta a hipótese de que seja um problema genético e diz que a origem está não num mas em vários factores.
O excesso de alunos por turma, a pressão que é posta na disciplina, que dá acesso a vários cursos do ensino superior ou a falta de motivação dos alunos são alguns deles. E a troca constante de professores, assim como o atraso na sua colocação também não contribui para minimizar o problema. Mas um dos principais aspectos é que os alunos não se mentalizam que a cadeira exige um acompanhamento constante da matéria dada e aplicação. "É preciso esforço e perseverança, e isso normalmente não acontece", salienta Anabela Lemos. Tal como Elisa Rodrigues, que constata que "os alunos são preguiçosos".
José Carlos Lavrador acentua que o problema não é exclusivamente português e acrescenta que a partir dos anos 70 o acesso ao ensino se massificou. "E toda a massificação tem como consequência um abaixamento da qualidade. O que não quer dizer que o núcleo não seja de excelência". Unânime parece ser a ideia de que hoje os professores, na generalidade, estão mais bem preparados e preocupam-se com a sua formação.