Steven Spielberg perdeu
dois grandes assessores para a série de filme “Indiana
Jones”. Michael Josef Mathias e Martin Höck
são dois docentes do departamento de Engenharia
Civil e Arquitectura, responsáveis pelo CEPP. Para
além da Alemanha, como pátria-mãe,
os dois docentes têm também em comum o gosto
pela arqueologia e preservação do património.
No gabinete onde funciona o centro de estudos não
está pendurado nenhum chapéu abaulado, nem
um chicote de pele, muito menos, pontuam pelas mesas relíquias
e artefactos achados em vários pontos do planeta
e cujo resgate podia resultar no guião de um filme.
A imagem criada por Steven Spielberg, “nada tem
a ver com o verdadeiro arqueólogo”, explica
Michael Mathias.
A chegada a Portugal coincide com os primeiros passos
da UBI. Na Covilhã é imperativa a criação
de “um organismo que conseguisse preservar todo
o espólio existente nas instalações
da Universidade”. Surge assim o Centro de Estudos
e Protecção do Património (CEPP).
Um dos primeiros trabalhos deste centro, constituído
pelos dois professores germânicos, “foi a
recuperação do Museu de Lanifícios”.
As actuais instalações, junto à parada,
foram recuperadas “após um processo de estudo
e levantamento do espólio ali existente”.
Para além de estarem integrados no Departamento
de Engenharia Civil, onde leccionam algumas cadeiras,
estes docentes levam a cabo vários estudos e escavações,
um pouco por todo o País.
Segundo estes arqueólogos,
o património deve ser preservado a todo
o custo
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Preservar a história de um povo
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Desde as gravuras do Côa, passando por algumas
quintas de família Ramos Pinto, ligada ao vinho
do Porto e terminando em escavações nas
ilhas de Cabo Verde, estes Indiana Jones à portuguesa
já fizeram de tudo um pouco. Os mapas de várias
localidades e os muitos livros de história dão
corpo ao Centro de Protecção. Michael Mathias
explica que “tudo começa pelo estudo e pelo
licenciamento das escavações ou projectos”.
Gastas muitas horas de busca e pesquisa “feitas
em bibliotecas e outros institutos”, os exploradores
avançam para o terreno.
As aventuras cinematográficas são trocadas
“pelo sorriso das pessoas”, sublinha o docente.
Pelas palavras dos responsáveis do CEPP percebe-se
que “o verdadeiro tesouro é a devolução
de um monumento, de uma fonte, de uma casa ou peça
à sua população”. A história
do povo e toda a sua cultura “deram forma a tudo
o que exploramos”. Michael Matias diz que gosta
de recuperar os edifícios para os devolver ao povo
que os construiu. Para este docente “quando um edifício
está esquecido ou é apenas ruínas,
não lhe é dado o verdadeiro valor”.
Só depois de estar restaurado “é que
as pessoas compreendem a importância dos imóveis
ou dos achados”, acrescenta.
Vai longa a lista de trabalhos realizados pelo CEPP, desde
a capela de São Martinho, da Reitoria, dos vários
pólos do Museu de Lanifícios e outras explorações
como o Centro rupestre do Vale do Côa ou a recuperação
do castro de Castelo Melhor são muitos os trabalhos
destes dois arqueólogos.
Covilhã tem papel central |
A localiazação central da Covilhã
"só traz vantagens" |
As aventuras parecem não ter fim no grande écran.
Também no gabinete do CEPP, os mapas, pergaminhos,
livros e manuscritos deixam sinais que vão conduzir
a novos achados. Todo um trabalho que leva tempo “e
burocracia”. Contudo, Matias refere que “é
essencial dar conhecimento de todos os trabalhos arqueológicos”.
O docente refere que “é mais vantajoso e
económico dar conhecimento às entidades
competentes (IPA ou IPPAR) da realização
de uma obra, do que sonegar essa informação
e depois a empreitada ser embargada”.
Este responsável pelo Centro de estudos e Protecção
do Património chega mesmo a sublinhar o papel central
que a Covilhã ocupa. Para Michael Matias, “a
cidade está num ponto central”. Com a delegação
do IPPAR aqui, “os técnicos já não
demoram, com a desculpa de terem de vir de Coimbra ou
de Lisboa”. Uma localização que ganha
ainda mais destaque “pela grande quantidade e qualidade
de espólio existente nesta região”.
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