O homem vem cabisbaixo
a percorrer a entrada do aeroporto. A passos largos, a
figura caminha em direcção ao atendimento.
Num relance, por entre os cabelos compridos e o chapéu
à cowboy surgem uns olhos castanhos que passam
pelo leitor óptico. Pouco tempo depois, os mesmos
vão servir para pagar a conta de um café
bebido à pressa e um pastel mal mastigado. O carro
que ficou estacionado durante largos meses no silo do
aeroporto começar agora a funcionar, logo depois
dos olhos deste mesmo indivíduo sinistro terem
passado pelo identificador. Por fim a porta do apartamento
dá sinal verde, mal o leitor óptico desta,
lê a íris do sujeito.
Termina assim o guião de uma possível antevisão
hollywoodesca do futuro. Um futuro que para Luís
Alexandre e Hugo
Proença, docentes no Departamento de Informática
da UBI, pode não ser tão longínquo.
Estes dois investigadores estão empenhados em criar
uma base de dados biométrica,
a maior do mundo, através de imagens da íris.
O olho humano serve de base a este tipo de investigação.
As potencialidades desta
nova iniciativa da UBI não têm limites
|
Um projecto com utilizações ilimitadas
|
Nas palavras de Luís Alexandre, “a íris
do olho humano é como uma identidade própria,
como a impressão digital”. Com a vantagem
de ser inalterável e também, mais fiável.
Uma base de dados biométrica não é
mais do que “um grande conjunto de fotografias da
íris das pessoas”, explica este responsável
pela cadeira de reconhecimento de padrões, num
mestrado que está a ser leccionado na UBI. Alguns
projectos que já estão em desenvolvimento
em outros pontos do planetas consistem na catalogação
das fotos da íris. Depois de tirada uma fotografia
ao olho, os cientistas conseguem isolar a imagem da íris
“e segmentá-la”. Isto é, “conseguem
dividi-la em segmentos e transformar esses mesmos segmentos,
em números”, explicita o docente. Logo após
a recolha desses mesmos números é atingido
um algoritmo. Esse mesmo algoritmo, formado por números,
passa a ser o bilhete de identidade da pessoa em causa.
Luis Alexandre e Hugo Proença afirmam que já
existem outras bases de dados. Uma delas, com cerca de
50 fotos, “serve mesmo de padrão”.
No entanto, as investigações que são
desenvolvidas a este nível requerem “imagens
com qualidade máxima e recolhidas em determinadas
condições”. Uma das vantagens que
os dois investigadores da UBI se propõem introduzir
no estudo biométrico “é que as imagens
estejam em condições normais”. Algo
que torna a sua utilização muito mais simples
e prática.
Novo sistema muda identificação
normal |
O olho humano ocupa lugar central neste projecto
que pode catapultar o nome da Universidade |
Aos olhos destes dois investigadores, que com toda a
certeza também vão constar da base de dados,
“a segurança tornou-se, hoje em dia, um pilar
imprescindível numa sociedade democrática”.
Daí que o reconhecimento automático (identificação/autenticação)
de pessoas por sistemas informáticos “seja
fundamental”. No sistema biométrico, neste
caso a trabalhar com a íris humana, “são
aproveitados dados de cada pessoa, que são inalteráveis”
para identificar esta mesma personalidade. No reconhecimento
das pessoas podem ser utilizadas várias imagens,
como as impressões digitais, imagens da face, da
mão e da retina. Sendo que esta última é
a que apresenta menos probabilidades de engano.
Estes investigadores acrescentam que os estudos realizados
até ao momento no domínio da íris
apontam para utilidades infinitas. Tudo o necessita de
uma autenticação “pode ser feito através
da leitura da íris”. Desde o controlo do
horário de trabalho, que se faz, normalmente com
cartão magnético, até à abertura
de portas ou outras coisas que necessitem de uma identificação.
“Tudo pode ser feito através da íris”,
remata Luís Alexandre.
Todas as pessoas ligadas
à base de dados ficam em anonimato
|
Dados protegidos pelo anonimato
|
Os autores daquela que se espera ser a maior base de
dados biométrica do mundo explicam que os dados
contidos na mesma são totalmente anónimos.
Todos os interessados em “doar a imagem da sua íris”,
apenas têm de mencionar a idade a sexo. Um processo
simples “que não demora mais de um minuto”.
Os investigadores explicam que “os olhos são
fotografados, as pessoas mencionam o sexo e a idade, sem
necessitar de se identificarem e depois recebem um cartão
com a imagem da sua íris e a respectiva assinatura
biométrica”. Uma forma de recordar esta participação.
As imagens são depois catalogadas, segmentadas
e estudadas até se chegar ao algoritmo das mesmas.
Outra das novidades desta base de dados, “é
a sua forma publica”. No final de Outubro, os dois
investigadores esperam ter já os resultados na
página oficial deste evento. Uma novidade neste
campo e que “vai ajudar a que outras investigações
nesta área possam cruzar dados e resultados com
as actividades que estão a ser desenvolvidas na
Covilhã”, adianta Luís Alexandre.
As sessões de recolha vão começar
já no próximo dia 27 de Setembro e prolongam-se
até 8 de Outubro. Os interessados devem dirigir-se
ao secretariado do Departamento de Informática,
no bloco 6, piso 2, entre as 9 e as 19 horas. Nesta acção,
os dois investigadores contam com a colaboração
do Núcleo de Estudantes de Informática da
UBI (NINF) e do Centro de Recursos de Ensino e Aprendizagem
(CREA), o primeiro está a procurar voluntários
entre a comunidade estudantil e o segundo fornece o material
técnico utilizado na recolha de imagens.
|