Liliana Machadinha
NC / Urbi et Orbi



Há famílias que têm muita dificuldade em comprar os livros para os seis filhos

Estava previsto que o início das aulas acontecesse entre a passada quinta-feira, 16, e a próxima quinta, 23. E neste arranque do ano lectivo, a preocupação da maioria dos encarregados de educação prende-se com os manuais escolares e o restante material. Com os livros dos anos de mudança a aumentarem em cerca de 10 por cento no preço de capa, correspondendo aos segundo, quinto, nono e 11º anos, uma família com dois filhos a estudar em níveis diferentes desembolsa entre 400 a 500 euros só em manuais.
Ângela Freire é mãe da Inês e do Tiago, que vão frequentar os quinto e nono anos respectivamente. Pronta para passar o cheque à ordem da papelaria assina e queixa-se do total: "216 euros desta vez, mas continuam a faltar livros". "Este ano é tudo a dobrar e sem dúvida que está tudo mais caro", conforma-se.
Kátia e Christophe, que vão para os sétimo e 10º anos de escolaridade já têm quase todos os manuais que precisam para o ano lectivo. A sua mãe, Teresa Proença, não sabe a quantia exacta que já gastou em livros e confunde-se. Kátia corrige-a fazendo as contas: "395 euros sem a mochila, mas ainda me falta o resto do material". "Eu estudei em Paris e nunca paguei um único manual", afirma a mãe. "O nosso Governo devia fazer o mesmo ou baixar os preços", sugere ainda. Para os orçamentos familiares o mês de Setembro representa mais de um salário mínimo mensal em despesas educacionais. Para a maioria das famílias que mantêm filhos a estudar tem que se pensar sempre em poupar. "Eu posso pagar, mas há certos pais que não podem e os livros são caríssimos e indispensáveis", diz esta mãe em tom de revolta. "Já paguei 395 euros e ainda faltam livros. Quase todos os anos fazem alterações. Os manuais do Christophe nunca vão dar para a Kátia", critica.


Muitos pais queixam-se do elevado valor dos manuais escolar



Sem férias para poupar dinheiro para os livros

No que toca ao empréstimo de manuais por parte das escolas aos alunos mais carenciados, a situação não se aplica aos membros mais novos desta família. Teresa Proença até sabe que as escolas já praticam esta acção, mas conforme explica, os seus filhos não estão englobados nesse grupo de alunos que beneficiam desta política.
Quando se fala de férias interrompe e corrige: "Não fomos de férias. Pensou-se nisso, mas resolvemos não ir". Poupança é um dos motivos dados por esta mãe. A segunda razão, ainda que relacionada com a primeira, é a de que " os filhos e a educação deles estão sempre em primeiro lugar".
Já para Anabela Bento, com três filhos nos diferentes ciclos, o caso apresenta-se de forma diferente. "Não sei quanto vou gastar na totalidade, mas também nem quero imaginar", sustenta esta mãe. E Anabela Bento não deixa de afirmar que os manuais podiam ser "mais baratos" e que o Ministério da Educação deveria "baixar o preço".
As críticas destas mães são as mesmas e iguais a muitas outras que António Jesus, dono d e uma papelaria ouve quase todos os dias. "Nem todos os manuais subiram de preço, mas as pessoas continuam a queixar-se". Quando se fala em situações de maior dificuldade para algumas famílias, este comerciante apenas comenta que "dificuldades todos terão, mas ninguém que necessitasse e me explicasse a situação, daqui saiu sem levar os produtos".





Sindicato e oposição criticam Governo



Para Carlos Costa, dirigente do Sindicato de Professores da Zona Centro (SPZC), a situação em que o ano lectivo vai começar é de "pleno caos". Ainda que a maioria das escolas, tanto as sedes de agrupamento como secundárias, tenham aberto as portas na passada quinta-feira, 16, este início é apenas "teórico e burocrático sem qualquer sentido prático", acusa o dirigente. São os professores de quadro que mantêm as escolas a funcionar, visto o resultado do concurso de professores estar atrasado. Da mesma opinião é o Centro de Área de Educação (CAE) de Castelo Branco que afirma que todas as escolas recomeçarão as aulas dentro do prazo dado pelo Ministério da Educação, entre 16 e 23 de Setembro, representando este distrito o panorama nacional. Mas existem ainda algumas as deficiências humanas e materiais patentes nos estabelecimentos de ensino. Segundo informação do SPZC a falta de professores e pessoal não-docente, para além de pavilhões desportivos são algumas dessas carências, nomeadamente, nas escolas E.B.2 e 3 da Serra da Gardunha e do Tortosendo. O caso mais marcante em termos de falta de auxiliares, afirma Carlos Costa, reside na Escola do Fundão, que necessita de seis reforços humanos. Também a restauração de edifícios escolares, como no Pêro da Covilhã, é outro problema salientado pelo Sindicato. O preço dos manuais é outro dos problemas que "perturba" o início do ano lectivo, visto alguns alunos terem dificuldades em adquirir todos os livros antes das aulas começarem, comenta o dirigente sindical. Desta forma o SPZC pede ao Ministério da Educação que elabore regulamentação "clara" para acabar com o "Marketing" praticado pelas editoras, que assim sobem "demasiado os preços dos manuais". Ainda que o empréstimo de livros aos alunos mais carenciados por parte das escolas já aconteça, o processo ainda é "lento", argumenta Carlos Costa, visto os alunos terem de esperar o resultado do subsídios sociais.