António Fidalgo
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O mercado dos cursos superiores
Dado a liberdade que os estudantes têm em escolher as escolas e
os cursos superiores que desejam frequentar e pelo facto de o
financiamento das escolas, universidades e politécnicos, ser
feito primariamente em função do número de
alunos, criou-se uma lógica de mercado no acesso ao ensino
superior. A lei do mercado, da oferta e da procura, torna-se mais
evidente quando a oferta excede em muito a procura. É nestes
casos que aumenta a concorrência entre quem oferece e é
maior a liberdade de escolha de quem procura. Ainda há poucos
anos atrás, quando o número de candidatos ao ensino
superior em Portugal superava em muito o número de vagas, e
todos os lugares eram preenchidos, não era tão notória
a vigência dessa lei.
É a lógica de mercado que comanda a abertura e o
encerramento de cursos, a modificação da designação
de cursos, a alteração de estruturas curriculares e a
definição das condições de acesso. As
instituições de ensino superior tentam ajustar a sua
oferta à procura. Criam-se cursos de forte procura, atractivos
aos estudantes, o que varia consoante o espírito da época
ou a moda, facilitam-se as condições de acesso,
fazem-se campanhas de marketing das instituições e dos
seus cursos. O que importa fundamentalmente é captar
estudantes e preencher todas as vagas.
Há aspectos claramente positivos nesta forma de acesso. Os
estudantes, que são quem procura, têm de contribuir com
algo e isso é a nota de acesso. Se um estudante quiser, por
exemplo, entrar para medicina então tem de estudar
afincadamente no secundário. Quanto melhores forem as notas
que um estudante tiver no secundário, maior será a
liberdade de escolha. Serve-se primeiro. Os que têm piores
notas têm de se contentar com as vagas sobrantes. Ou seja, é
o mérito escolar do aluno que determina a sua capacidade de
procura e de escolha. Isso é bom, muito bom. Muito pior seria
se o acesso a um curso superior fosse determinado pelo montante que
os pais estariam prontos a pagar por uma vaga.
Do lado das instituições também é bom
porque as obriga a concorrer entre si e a não viver de costas
para a realidade como acontecia com as universidades mais antigas.
Competir pelos alunos, e sobretudo competir pelos melhores, obriga as
instituições de ensino superior a olhar para os alunos
como o sentido primeiro da sua existência. Os alunos querem em
princípio um bom curso numa escola prestigiada. As escolas têm
então de prestigiar-se e de garantir um ensino de qualidade.
Mas também há aspectos negativos na lógica de
mercado. Desde logo porque se toma por vezes gato por lebre. Há
quem entre num curso de Engenharia sem a preparação
necessária, sem se lhe exigir a Matemática como
disciplina de acesso. Neste caso é a instituição
que engana o aluno, ao oferecer-lhe algo que este não está
em condições de usufruir. É como vender um carro
caro a quem não tem posses para depois pagar os encargos.
Também há quem ofereça cursos sem credibilidade,
mas que atraem estudantes pela facilidade de acesso e de conclusão.
E por fim a lógica de mercado existente no acesso ao ensino
superior também induz muito desperdício. Os cursos
atractivos repetem-se por todo o lado numa concorrência
suicida. Trabalha-se no curto prazo, quando a formação
científica é uma área onde tem de haver um médio
e um longo prazo.
A lógica de mercado é certamente boa para o acesso ao
ensino superior, mas exige fortes factores de correcção.
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