São na maioria
mulheres, que de acordo com o sistema que rege as sociedades
contemporâneas, capitalistas, já não
têm idade para trabalhar, e por outro lado são
muito novas para se poderem reformar. Mesmo assim há
quem se preocupe e tente de
alguma maneira proporcionar-lhes a aprendizagem de novos
conhecimentos.
É o caso da Coordenação do Ensino
Recorrente e Educação Extra-Escolar dos
concelhos da Covilhã e Belmonte, que põe
à disposição anualmente "cursos"
das mais diversas áreas: Pintura em Vitral, Gravação
em Estanho, Reciclagem, Pintura em Cerâmica, Internet,
entre outros, num total de 34, e que este ano receberam
cerca de 800 pessoas interessadas, nesta que pode ser
a sua última oportunidade de aprender uma das artes
decorativas que em outros tempos lhes foi vedada.
Anabela Ribeiro é a professora responsável
pela Coordenação de Ensino Recorrente e
Educação Extra-Escolar, que não se
cansa de realçar a extrema importância destas
formações. "Estes cursos têm
uma grande importância para as pessoas que os frequentam.
Ao abarcarem várias faixas etárias, possibilitam
a convivência entre pessoas com experiências
de vida diferentes. No que diz respeito aos mais idosos,
ajuda-os a combater a solidão, as depressões,
e servem muitas das vezes como terapia."
Anabela Ribeiro relata ainda, a propósito da importância
destes cursos, uma história de grande regozijo:
"Uma senhora disse-me há algum tempo, que
a frequência destes cursos a ajudou a curar alguns
problemas de saúde - deixou de tomar o "xanax"
e não sei mais quantos comprimidos para adormecer
- acontecer isto deixa-me pessoalmente bastante contente",
salienta. Conta ainda que estas formações
ajudam a recuperar a auto-estima perdida, visto que muitas
pessoas se inscrevem num curso, para o qual pensam não
ter jeito nenhum, e no final acabam surpreendidas com
os resultados.
Estas formações decorrem anualmente entre
Janeiro e Abril/Maio. Em Setembro do ano anterior é
feita uma divulgação dos cursos aprovados
pelo ministério, e daí passa-se à
apresentação dos mesmos à comunidade.
Utilizam-se para isso os meios de comunicação
regionais, afixam-se cartazes em locais públicos,
nas juntas de freguesia e autarquias, e por vezes é
divulgada a sua abertura na homilias dominicais - tudo
isto para que os cursos cheguem a todos. Após a
divulgação dos mesmos, há um período
de inscrições, onde é feita uma selecção
dos candidatos. Estes são escolhidos de forma criteriosa
e o mais rigorosamente possível, explica a coordenadora.
"Primeiro seleccionamos as pessoas que na idade própria
não tiveram a oportunidade de frequentar este tipo
de formações ou a escola, depois damos prioridade
a antigos alunos destas formações, seguem-se
os beneficiários do Rendimento Mínimo Garantido,
as pessoas com o nível de instrução
mais baixo, e por fim pessoas que nunca tenham frequentado
este tipo de cursos". Diz, visto que o seu objectivo
é também contribuir para a inserção
das pessoas na comunidade
Para além de aprenderem
a ler e a escrever, estes alunos especiais desenvolvem
outro tipo de trabalhos
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Estas são as mãos que dão vida as
estes trabalhos, elaborados a partir das técnicas
correspondentes a cada uma das artes decorativas. Após
terem passado, na maioria dos casos, por um percurso de
vida atribulado, estas mãos que já passaram
pelos campos ou pelas fábricas, dedicam-se agora
à arte. Não são nenhumas candidatas
a artistas, mas fazem-no com total dedicação,
amor e carinho. Maria João Grandão, 48 anos,
frequentou os cursos de "Reciclagem" e "Cerâmica",
pois acha que é muito importante aprender coisas
e técnicas novas; "já frequentei outros
cursos, mas nestas área não tinhas grandes
conhecimentos e a convivência com novas pessoas,
também é muito gratificante", salienta.
Maria José Pinto, 50 anos, frequentou "Cerâmica"
e "Vitrais". Também é uma repetente
nestes cursos, já antes passou pelas artes decorativas,
e salienta igualmente o convívio com as colegas
como um dos factores fundamentais. "Fazer coisas
novas e diferentes que no dia a dia nunca consegui fazer
e poder conhecer pessoas novas é o mais importante",
diz. Também Filipa Raposo, de 29 anos, passou este
ano pela formação de "Estanho".
Tal como as suas colegas, indica a convivência e
vontade de aprender como aspectos a ter em conta nestes
cursos. "Adquiri conhecimentos para além da
minha formação académica. E a possibilidade
de fazer coisa novas e conhecer pessoas é uma mais-valia”,
conclui.
Experiência enriquecedora
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O contacto com as novas tecnologias é uma
realidade
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A orientar estas formações, estiveram vários
professores, que durante alguns meses dedicaram o seu
tempo a estas pessoas. Sérgio Novo foi um dos formadores
que leccionou vários cursos: Pintura em Vitral,
Gravação em Estanho, Reciclagem, Pintura
em Cerâmica, e Internet. Para este formador foi
uma experiência muito enriquecedora e gratificaste,
pois além de partilhar o seu conhecimento pode
adquirir outros saberes, além de ajudar estas pessoas
a passar o tempo de forma diferente e pedagógica.
"Estou muito satisfeito com o trabalho realizado,
resultaram trabalhos muito bons e só o facto de
poder de alguma forma ajudar estas pessoas no seu dia
a dia foi óptimo. Tendo em conta que algumas das
formandas têm uma auto estima muito baixa e que
estão sempre a dizer que não são
capazes, e ver agora no final que elas próprias
ultrapassaram esses medos, foi o melhor que poderia ter
acontecido," salienta.
A principal dificuldade encontrada por Sérgio Novo
registou-se no curso de introdução à
internet, onde grande parte dos formandos nunca tinha
sequer estado em frente a um computador. "Muita gente
não sabia sequer como se ligava um computador,"
conclui.
Este processo chegou agora ao fim, após um longo
caminho, que durou sensivelmente um ano. Os trabalhos
realizados nos diferentes cursos foram expostos no Teatro-Cine
da Covilhã e houve uma cerimónia de entrega
de diplomas aos alunos.
Ver também:
Notícia: Mais cursos
combatem analfabetismo
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