Os antigos combatentes
pensionistas vão receber um complemento de reforma
anual, a pagar em Outubro, no valor de 155 euros, e os
antigos prisioneiros de guerra 100 euros mensais, o que
totaliza 1200 euros por ano. Uma compensação
financeira aos militares portugueses que foram enviados
para teatros de guerra.
Os ex-prisioneiros, quase todos na Índia, nos anos
60, mas também em Timor, são cerca de 3500
e vão receber os retroactivos desde Janeiro. Quanto
aos combatentes beneficiados rondam o meio milhão
de pessoas.
No caso dos ex-combatentes o valor de 155 euros anuais
é por cada dois anos que esteve fora de Portugal,
o que significa que recebem cerca de seis euros por cada
mês passado na guerra e o montante recebido por
cada um vai ser pago tendo em conta os meses em que cada
um prestou serviço. O decreto-lei foi publicado
a 16 de Julho último, na sequência de reivindicações
antigas das associações de antigos militares.
Mas a disparidade dos valores atribuídos aos que
foram prisioneiros e aos combatentes têm gerado
polémica e levou dirigentes de associações
a considerar o diferencial ofensivo e imoral ou a incentivarem
os associados a doarem essa verba para a instituições
de solidariedade social. O presidente da Associação
Portuguesa dos Veteranos de Guerra, António Basto,
diz que o complemento atribuído aos antigos combatentes
é uma compensação de miséria.
Chito Rodrigues, presidente da Liga de Combatentes, no
dia em que os valores foram conhecidos, recusou-se a fazer
declarações. Quanto ao responsável
pela Associação de Prisioneiros de Guerra,
Montês Coelho, diz que não quer comparar
os dois montantes porque se tratam de coisas distintas.
Já a Associação de Combatentes do
Ultramar lamentou que outras associações
critiquem os valores dos complementos de reforma, porque
se trata de um complemento, quando "não deram
a cara para a contagem do tempo passado em combate para
efeitos de reforma".
Descontentes com a "nova lei"
João Azevedo, do núcleo da Covilhã
da Liga de Combatentes, entende que o valor atribuído
aos antigos prisioneiros é "justo" mas
considera o que os ex-combatentes vão receber "quase
uma esmola". "A discrepância dos 1200
euros para 155 é que torna isto numa miséria,
porque se houvesse uma aproximação dos valores
era bom para todos", acrescenta.
Mas as críticas deste dirigente vão logo
à partida para o que diz ter sido a alteração
do projecto de lei que esteve em discussão, a 9/2002.
"A lei nove tornou-se numa lei nova que deixou os
ex-combatentes descontentes e confusos". João
Azevedo sublinha que o que estava em causa era a contagem
do tempo de tropa para efeitos de reforma, influenciando
o valor da pensão. "Não se falava em
complementos mas sim comprar tempo para a reforma com
bonificação ao preço da altura e
não ao actual".
Segundo o responsável pela Liga da Covilhã
isto fez com que muita gente esteja agora excluída,
porque quem tinha já a reforma não apresentou
o requerimento em 2002 necessário agora para receber
o complemento. Outros não o fizeram por desconhecimento,
assim como as pessoas que não tinham cartão
de beneficiário, como é o caso de muitos
emigrantes. Para esses casos a lei 21/2004 permitiu que
ainda seja possível entregar o requerimento até
Outubro. Os que não o fizeram por outros motivos
têm que justificar o porquê e esperar.
Estima-se que só este ano o pagamento de pensões
chegue perto dos 20 milhões de euros de um fundo
que se previa na ordem dos 16 milhões. Em Abril
o Governo anunciou que nos próximos 15 anos vão
ser necessários cerca de 700 milhões de
euros, só para os beneficiários da segurança
social, e diz-se que o pico desse orçamento vai
acontecer em 2018. O Ministério da Defesa espera
conseguir essas verbas com a venda e aluguer de imóveis.
|