Por Marta Nogueira



As togas dos doutores, "demoram algum tempo e são trabalhosas"

Urbi et Orbi - Qual foi o vosso percurso até à confecção de trajes académicos na UBI?
Lucinda Matias - Desde pequenina que eu gostei sempre de ver a minha mãe a costurar. Aos nove anos, comecei a ter conhecimento do mundo da costura e fazia os vestidos das bonecas. Optei por não seguir os estudos e fui aprender a costurar com uma modista que havia na minha terra, o Tortosendo. Depois vim trabalhar para a UBI como auxiliar de limpeza e há cinco anos chamaram-me para vir trabalhar na confecção.
Fernanda Antunes - Sempre gostei de costura e fiz um curso de bordados à máquina. Entretanto trabalhei em confecção numa fábrica até vir para a Universidade trabalhar nas limpezas. Em 1995 convidaram-me para a confecção e tive uma formação na área da modelagem e aperfeiçoamento de costura.

Urbi et Orbi - Como é constituído o traje académico?
Lucinda Matias - Na cabeça leva a barrotina, que é um tecido composto de um por cento de algodão com poliester. A faixa colorida é o epitógio que é de veludo. As cores diferem com os cursos: azul para Química, amarelo para Medicina, azul cobalto para Letras, rubi para Gestão, cor de tijolo para Engenharia Têxtil.

Urbi et Orbi - Qual é o processo na confecção dos trajes?
Fernanda Antunes - Depois de tirar as medidas, faz-se o corte, forra-se e montam-se as peças. Faz-se a prova. Nessa altura, começamos a confecção da parte de baixo do corpo: a saia e a virola, a parte da frente. É preciso vincar as pregas e aplicar o bolso. A faixa é uma coisa que dá muito trabalho. Depois compomos tudo no ferro. A barrotina é praticamente toda manual.


Uma das duas costureiras da UBI



"A confecção da barrotina é praticamente toda manual"

Urbi et Orbi - Em média, quanto tempo demora um traje a ser confeccionado?
Lucinda Matias - Demora algum tempo, é muito trabalhoso. Há muitas peças que são cosidas à mão: as cavas são debruadas com uma tira feita à mão, e o epitágio e a barrotina também são praticamente todos manuais. É preciso aplicar velcro, colchetes. São muitas horas de trabalho escondidas. Duas pessoas a trabalhar demoramos cerca de duas semanas.

Urbi et Orbi - Têm ideia de quantas togas já fizeram até ao momento?
Lucinda Matias - No total, não sei bem, mais de 50. O ano passado fizemos 15. Este ano fizemos seis e já temos mais para confeccionar.

Urbi et Orbi - Além dos trajes académicos, que outros trabalhos fazem?
Fernanda Antunes - Colaboramos com alunos de Design Têxtil e de Vestuário que têm aqui aulas. Na semana passada ajudámo-los em peças para um desfile. Fazemos as batas para os técnicos e pessoal auxiliar da UBI, fazemos lembranças para a Reitoria oferecer, fizemos umas camisas desportivas para um campeonato desportivo internacional. Também confeccionamos roupa de cama para as residências: lençóis, capas de édredons, colchas, toalhas.


 



Símbolo de maturidade


Lucinda Matias, 49 anos, e Fernanda Antunes, 53 anos, dedicam-se à confecção dos trajes dos doutores há já nove anos. Presente em todos os actos e cerimónias solenes, o traje académico é veste indispensável para professores e investigadores cujo vínculo à universidade é de carácter formal e plurianual. A toga simboliza a maturidade de quem a veste.