CPor cá a moda
ainda não pegou. Mas o mercado dos relvados sintéticos,
considerados por muitos como o futuro dos campos de futebol,
está a desenvolver-se a bom ritmo. No distrito existem
apenas três campos, mas tudo leva a crer que o número
venha a aumentar num futuro próximo.
Na Zona de Lazer de Castelo Branco, local de treino e jogo
das selecções distritais e camadas jovens,
existem dois pisos sintéticos. O terceiro situa-se
no Municipal do Fundão, que durante anos viu os jogos
da Desportiva e do Académico em terreno pelado. Os
resultados têm sido positivos e prevê-se que
outras equipas do distrito que ainda não tenham campo
relvado optem por este tipo de piso em futuros projectos
de requalificação. Na Covilhã, esta
foi, aliás, a escolha da Desportiva da Estação
para equipar o rectângulo de jogo do seu complexo
Desportivo, que deverá estar concluído em
2005.
As vantagens principais de um relvado artificial prendem-se,
sobretudo, com a vertente económica. Um aspecto decisivo
numa região e em que os clubes se debatem, sempre,
com limitações financeiras. Aliás,
a maior concentração de pisos sintéticos
verifica-se no Interior do País. Dos distritos de
Évora a Bragança, esta tem sido a escolha
de clubes e autarquias para equiparem os respectivos recintos,
privados ou municipais. É que, embora a instalação
seja mais cara do que a relva natural, os sintéticos
revelam-se mais rentáveis logo ao fim de um ano.
Fundamentalmente porque as despesas de manutenção
são quase nulas – não são necessárias
regas, nem cortes, nem tratamento com pesticidas porque
não são afectados por agentes biológicos.
Outro aspecto a favor dos sintéticos é o elevado
número de horas de utilização que permite:
mais do dobro, em comparação com o relvado
natural, o que permite fazer mais jogos em menos tempo.
Isto para além de a superfície de jogo se
manter consistente ao longo de toda a época, ao contrário
do que acontece com a relva, que se vai tornando irregular
e que, em caso de chuvas intensas corre o risco de se tornar
imprópria para a prática do futebol.
Técnicos e atletas preferem a relva
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Os pisos sintéticos começam a ganhar
terreno
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VMas nem toda a gente, principalmente entre a comunidade
futebolística, está convencida. Treinadores
e atletas continuam a preferir a relva natural aos pisos
sintéticos. Mais por uma questão “romântica”,
do que propriamente pelas diferenças técnicas
entre as duas superfícies.
Por outro lado, alguns especialistas na matéria,
sobretudo médicos ligados à área
desportiva, dizem já ter detectado malefícios
no uso dos pisos sintéticos. Estudos de várias
entidades indicam que os atletas tem mais 50 por cento
de probabilidades de contrair lesões musculares,
rupturas de ligamentos e queimaduras, uma vez que a superfície
é mais abrasiva. Um estudo do Stanford Reaserch
Institute identifica mesmo uma lesão muito comum
aos atletas que actuam neste tipo de superfície,
que raramente acontece com relva: “Quando o jogador,
na disputa de um lance, desliza pela relva com um dos
pés à frente, a ponta da bota pode enterrar-se
na relva. Numa superfície natural, o terreno cede
à força do pé do atleta. Num piso
artificial isso não acontece, e o dedo grande do
pé é que suporta todo o peso desse movimento.
O que por vezes acontece é que o dedo não
aguenta a pressão e é impelido para dentro
do pé, rompendo os tecidos que encontra”.
Outro dos inconvenientes é o facto de um piso sintético
necessitar de calçado adequado. Os pitons de alumínio
não podem ser utilizados, e mesmo os de borracha
não são muito aconselhados, porque prendem
em demasia na relva, limitando os movimentos do atleta,
e porque se tornam algo desconfortáveis ao jogador.
“Boa solução para a realidade
do distrito”
Com dois pisos instalados na Zona de Lazer, a cidade de
Castelo Branco foi pioneira na Beira Interior. O relvado
é usado, sobretudo, pela Associação
de Futebol albicastrense para os treinos das selecções
distritais, e João Paulo Matos, o treinador, está
satisfeito com as performances do piso. “Relva é
relva e é sempre preferível ao sintético,
mas para a realidade do distrito e para o trabalho nos
escalões de formação, o sintético
é ideal”, afirma. “Em termos de manutenção
quase não há despesas, o que compensa o
facto de ser mais caro”.
No que toca às consequências no físico
dos jogadores, o seleccionador não ignora os alertas
sobre o aumento de lesões musculares mas revela
não alterar em muito o tipo de treino. Há,
explica, “mais cuidado no treino físico devido
aos impactos do jogador no solo, mas em termos técnico-tácticos
trabalha-se da mesma maneira. Também é uma
questão de adaptação”.
Para o treinador, o sintético “está
aprovado”, embora repita ser adepto da relva natural.
“O impacto e a maneira como a bola rola são
diferentes, e obriga o jogadores a outro tipo de movimentos”.
De qualquer modo, conclui, “Tendo em conta a realidade
da nossa região e da capacidade económica
dos nossos clubes, a instalação de relvados
sintéticos, é uma excelente solução”.
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