Os primeiros passos da
imprensa regional estão agora delineados em forma
de tese. Folheadas edições de jornais que
já desapareceram, levantado o manto da história
da comunicação local, desvenda-se a força
e a importância dos meios de comunicação
no início do século XX.
Maria Regina Gomes Gouveia, professora no Instituto Politécnico
da Guarda (IPG), sempre se confessou “uma apaixonada
pelos jornais”. Daí que a sua tese de mestrado
também já tenha abordado este mesmo tema.
Gostou do trabalho desenvolvido e decidiu partir para uma
tese de doutoramento na mesma área. Surge assim “A
integração entre o universo político
e o campo da comunicação – A imprensa
e as elites beirãs (1900-1930). Esta tese, que foi
defendida na passada semana, e através da qual Maria
Regina Gouveia conseguiu o grau de doutor, visa quantificar
a capacidade de mobilização e transformação
social, bem como, a forma de utilização da
imprensa regional nos sistemas social, político,
laboral e económico de toda a região Centro.
A relação entre as elites aparece na forma
de quem e como controlava as publicações.
O patronato, industriais de lanifícios e outros abastados
tinham sempre mais acesso à imprensa. A autora desta
tese não deixa de referir que esta é uma situação
que beneficiava sobremaneira, “do elevado índice
de analfabetismo e das precárias condições
de vida da população”. Estes e outros
factores levavam a que os jornais fossem controlados, na
sua maioria, pelas elites políticas já instaladas.
Um controlo que passava sobretudo pela opinião e
linha editorial presente nos jornais de então.
Todavia, esta tese aponta também para novos factos.
Um exemplo disso mesmo está situado ao nível
da imprensa regional produzida pelos operários, mais
propriamente, pelos tecelões. Gente que mantinha
publicações com um grau de importância
e rigor literário apreciável.
Das principais conclusões retiradas deste estudo,
destaque-se a ligação da política local
aos jornais, mas também, a utilização
de alguns títulos para a defesa dos operários.
Um espólio que se perde a cada dia
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A autora do doutoramento descobriu em Manteigas
uma publicação que não estava
registada na Biblioteca Nacional
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Pesquisar a imprensa regional foi, no caso de Maria Regina
Gouveia, “uma tarefa complicada”, explícita.
Segundo a professora do IPG, “o arquivo das publicações
que actualmente existe é escasso e encontra-se
mal conservado”. Muitos títulos não
estão guardados em formato de microfilme ou em
suporte digital. Outros há que “já
não existem na região e as pessoas têm
de se deslocar à Biblioteca Nacional”, adianta
a autora desta tese.
Na perspectiva de Maria Regina Gouveia – que descobriu
em Manteigas um jornal “que não se encontra
catalogado na Imprensa Nacional, mas está arquivado
na câmara local” – é tempo de
se criar um organismo especializado “na recolha
e tratamento de todo este espólio cultural”.
A criação de uma estrutura deste género
é também uma forma “de incentivar
o estudo deste tema”, ainda pouco desenvolvido,
segundo a autora da tese. Um estudo que foi apresentado
e discutido na sala dos Actos da Reitoria da UBI e teve
como júri António Carreto Fidalgo, professor
catedrático da Universidade da Beira Interior,
Manuel Joaquim da Silva Pinto, professor catedrático
da Universidade do Minho, António dos Santos Pereira,
professor associado da Universidade da Beira Interior,
António Fernando Marques Ribeiro dos Reis, professor
auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, estes dois últimos
membros do júri desempenharam também a função
de arguentes. O júri foi ainda composto por João
Carlos Ferreira Correia, professor auxiliar da Universidade
da Beira Interior, Joaquim Mateus Paulo Serra, professor
auxiliar da Universidade da Beira Interior e Maria Cristina
Mendes da Ponte, professora auxiliar da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
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