Os estudantes universitários são dos grupos sociais que mais contribuem para as "boas recolhas de sangue"
Dadores de sangue
Cidade pode ter sub-delegação

Voluntários de alma e coração, os dadores de sangue partilham uma das substâncias mais importantes para o ser humano. A funcionar há quase duas décadas, este grupo já perdeu a conta aos litros do precioso líquido entregues nos hospitais.


Por Eduardo Alves


Desde que se conhece como gente que José Maria Fernandes anda ligado a esta coisas do associativismo. Homem pacato e de boas falas ganhou nas trocas de ideias e experiências de obras comuns uma retórica invejável para os tempos que correm. Dos cargos desempenhados, em prol das colectividades e outras, a presidência da associação de pais é o que lhe traz melhores recordações.
Enquanto as suas filhas se sentaram nos bancos do liceu, a cadeira mor da associação de pais foi sempre ocupada por este aposentado da função pública. O orgulho com que lembra um passado ainda recente, perpectua-se até chegar à história do Grupo de Dadores de Sangue da Covilhã. Instituição "única na zona centro", viu os seus estatutos serem aprovados a 28 de Setembro de 1988. Desde então que muitas coisas mudaram no campo da partilha de sangue e da recuperação de vidas nos hospitais da região.

Importante papel na saúde

José Fernandes ainda lembra os tempos em que os familiares das pessoas a necessitar de transfusões de sangue, "viviam em pânico". Segundo o presidente do Grupo de Dadores da Covilhã, "era frequente, quando existia a necessidade de alguém se submeter a uma intervenção cirurgica, os responsáveis hospitalares pedirem aos familiares mais próximos e estes a terceiros, para irem dar sangue". Uma das maiores conquistas, nessa perspectiva "foi a criação desta entidade", remata o presidente. Essas "situações desconfortáveis" fazem agora parte do passado. Neste momento, "somos nós que garantimos toda a quantidade de sangue que é necessária para o funcionamento normal das unidades hospitalares da região", sublinha José Fernandes. O trabalho destes voluntários "é deslocarem-se ao hospital e fazer aquilo de que mais se gosta, doar sangue, um acto de dimensão indescrítivel". Está criado assim o grupo, como lhes chama que mora perto da sede, esta que fica paredes meias com a Biblioteca Municipal da Covilhã. Hoje, esta instituição conta com 570 sócios dadores e 1400 associados auxiliares. Este universo de pessoas, cujos dados "estão inseridos numa base, à qual recorremos sempre que necessário", consegue dar resposta a todos os pedidos dos hospitais.
Uma das jóias que o presidente deste núcleo exibe com algum orgulho, é a multiplicidade de dadores, "de todos os tipos de sangue e de todas as idades". José Fernandes explica a importância de todas estas singularidades. Gerir um núcleo de pessoas que "voluntariamente dão o seu sangue, sem pedirem nada em troca", requer alguns cuidados. As atenções passam por ter o contacto, o grupo sanguíneo e a disponibilidade de todos os elementos. Isto porque, "se existir alguma situação de risco, como uma catástrofe natural ou um grande acidente" o que faz as unidades hospitalares pedirem aos dadores unidades de sangue, "nós temos acesso a todas as pessoas, às que têm os grupos sanguíneos mais requisitados no momento e a todo o processo da pessoa", explica este responsável da associação.



Universitários contribuem sobremaneira

O Grupo de Dadores de Sangue da Covilhã é um dos mais importantes do País

Os mais trágicos episódios da história, são também, de forma paradoxal, "os que mais sublinham a vertente humanitária das pessoas". O presidente do Grupo de Dadores de Sangue da Covilhã lembra o que se passou "logo após os atentados às torres em Nova Iorque e ao comboio em Madrid". À escala do País, do pequeno Portugal, "felizmente sem problemas de maior", um dos grupos que mais tem respondido aos apelos do instituo Português do Sangue (IPS) é o composto pelos estudantes universitários. José Maria Fernandes lembra que as colheitas feitas nas Universidades, onde também se incluí a da Beira Interior (UBI), encontra-se sempre "uma resposta muito favorável". Tal como a que recentemente se registou no Tortosendo, onde este grupo de dadores conseguiu já por em marcha um núcleo.

Importância a nível nacional

Tamanha força por parte de quem partilha o que tem de melhor brindou este grupo com uma promessa. O IPS, cuja sede fica em Lisboa, com delegações no Porto e em Coimbra, tem em estudo a possibilidade de abrir uma sub-delegação na Covilhã. A capacidade de organização deste grupo, que tem entre os seus sócios, o dador mais antigo de Portugal, leva a que seja apontado como exemplo e por isso "lhe seja reconhecida alguma importância". José Maria confessa que esta situação nem sempre se passa com os restantes núcleos espalhados pelo País. Isto porque, o IPS pretende reformular todo o sistema de colheitas sanguíneas. Doravante, o instituto espera recolher o sangue atarvés dos seus postos móveis. Os poucos apoios dados aos núcleos, o da Covilhã "vive apenas com os fundos cedidos pelas juntas de freguesia" levam a que muitos acabem por desistir e se extinguir.