Desde que se conhece como
gente que José Maria Fernandes anda ligado a esta
coisas do associativismo. Homem pacato e de boas falas ganhou
nas trocas de ideias e experiências de obras comuns
uma retórica invejável para os tempos que
correm. Dos cargos desempenhados, em prol das colectividades
e outras, a presidência da associação
de pais é o que lhe traz melhores recordações.
Enquanto as suas filhas se sentaram nos bancos do liceu,
a cadeira mor da associação de pais foi sempre
ocupada por este aposentado da função pública.
O orgulho com que lembra um passado ainda recente, perpectua-se
até chegar à história do Grupo de Dadores
de Sangue da Covilhã. Instituição "única
na zona centro", viu os seus estatutos serem aprovados
a 28 de Setembro de 1988. Desde então que muitas
coisas mudaram no campo da partilha de sangue e da recuperação
de vidas nos hospitais da região.
Importante papel na saúde
José Fernandes ainda lembra os tempos em que os
familiares das pessoas a necessitar de transfusões
de sangue, "viviam em pânico". Segundo
o presidente do Grupo de Dadores da Covilhã, "era
frequente, quando existia a necessidade de alguém
se submeter a uma intervenção cirurgica,
os responsáveis hospitalares pedirem aos familiares
mais próximos e estes a terceiros, para irem dar
sangue". Uma das maiores conquistas, nessa perspectiva
"foi a criação desta entidade",
remata o presidente. Essas "situações
desconfortáveis" fazem agora parte do passado.
Neste momento, "somos nós que garantimos toda
a quantidade de sangue que é necessária
para o funcionamento normal das unidades hospitalares
da região", sublinha José Fernandes.
O trabalho destes voluntários "é deslocarem-se
ao hospital e fazer aquilo de que mais se gosta, doar
sangue, um acto de dimensão indescrítivel".
Está criado assim o grupo, como lhes chama que
mora perto da sede, esta que fica paredes meias com a
Biblioteca Municipal da Covilhã. Hoje, esta instituição
conta com 570 sócios dadores e 1400 associados
auxiliares. Este universo de pessoas, cujos dados "estão
inseridos numa base, à qual recorremos sempre que
necessário", consegue dar resposta a todos
os pedidos dos hospitais.
Uma das jóias que o presidente deste núcleo
exibe com algum orgulho, é a multiplicidade de
dadores, "de todos os tipos de sangue e de todas
as idades". José Fernandes explica a importância
de todas estas singularidades. Gerir um núcleo
de pessoas que "voluntariamente dão o seu
sangue, sem pedirem nada em troca", requer alguns
cuidados. As atenções passam por ter o contacto,
o grupo sanguíneo e a disponibilidade de todos
os elementos. Isto porque, "se existir alguma situação
de risco, como uma catástrofe natural ou um grande
acidente" o que faz as unidades hospitalares pedirem
aos dadores unidades de sangue, "nós temos
acesso a todas as pessoas, às que têm os
grupos sanguíneos mais requisitados no momento
e a todo o processo da pessoa", explica este responsável
da associação.
Universitários contribuem sobremaneira
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O Grupo de Dadores de Sangue da Covilhã é
um dos mais importantes do País
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Os mais trágicos episódios da história,
são também, de forma paradoxal, "os
que mais sublinham a vertente humanitária das pessoas".
O presidente do Grupo de Dadores de Sangue da Covilhã
lembra o que se passou "logo após os atentados
às torres em Nova Iorque e ao comboio em Madrid".
À escala do País, do pequeno Portugal, "felizmente
sem problemas de maior", um dos grupos que mais tem
respondido aos apelos do instituo Português do Sangue
(IPS) é o composto pelos estudantes universitários.
José Maria Fernandes lembra que as colheitas feitas
nas Universidades, onde também se incluí
a da Beira Interior (UBI), encontra-se sempre "uma
resposta muito favorável". Tal como a que
recentemente se registou no Tortosendo, onde este grupo
de dadores conseguiu já por em marcha um núcleo.
Importância a nível nacional
Tamanha força por parte de quem partilha o que
tem de melhor brindou este grupo com uma promessa. O IPS,
cuja sede fica em Lisboa, com delegações
no Porto e em Coimbra, tem em estudo a possibilidade de
abrir uma sub-delegação na Covilhã.
A capacidade de organização deste grupo,
que tem entre os seus sócios, o dador mais antigo
de Portugal, leva a que seja apontado como exemplo e por
isso "lhe seja reconhecida alguma importância".
José Maria confessa que esta situação
nem sempre se passa com os restantes núcleos espalhados
pelo País. Isto porque, o IPS pretende reformular
todo o sistema de colheitas sanguíneas. Doravante,
o instituto espera recolher o sangue atarvés dos
seus postos móveis. Os poucos apoios dados aos
núcleos, o da Covilhã "vive apenas
com os fundos cedidos pelas juntas de freguesia"
levam a que muitos acabem por desistir e se extinguir.
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