Paulo Jorge Lourenço
Marques não podia ter escolhido melhor a data de
apresentação da sua tese de mestrado. O
estudo deste professor de Educação Física
tem como título “A violência no futebol:
a representação mediática do fenómeno”.
Em pleno Campeonato Europeu de Futebol, Euro 2004, um
evento que decorre em Portugal, este estudo mostra as
razões que levam, não poucas vezes, os adeptos
das práticas futebolísticas a comportamentos
violentos. Por outro lado, o autor aborda também
o “aproveitamento deste tipo de ocorrências
por parte dos meios de comunicação social”.
No seu estudo, vários eventos futebolísticos,
à escala planetária, como o Campeonato do
Mundo de Futebol, que teve lugar nos Estados Unidos e
mais recentemente no Japão e na Coreia, bem como
o passado Campeonato Europeu de Futebol, que se disputou
na França, foram analisados. Para a sua pesquisa,
entraram “em competição” o número
de casos de violência por parte de adeptos e a repercussão
destes mesmos acontecimentos na comunicação
social. Na apreciação deste tema, o próprio
júri sublinhou o papel desempenhado pelos media
e a sua influência em certas práticas. Neste
estudo é visível a existência de “um
discurso bastante forte, nos jornais e televisões,
que leva, muitas vezes, a mexer com os sistemas de relevâncias
de determinados grupos”. A linguagem “de incitamento”
que, por vezes, é utilizada em títulos destacados,
em discursos radiofónicos mais emotivos ou em imagens
mais expressivas, “em nada abona para a resolução
ou minimização do problema”. O autor
sublinha que não são os meios de comunicação
social “os responsáveis pela violência
no desporto”. Todavia, “existe um notório
decréscimo de casos de violência desportiva,
e um aumento de notícias realizadas em torno dos
casos que vão acontecendo”, denota.
Dois campos temáticos diferentes, o da comunicação
e o do desporto, foram unidos neste mestrado. Paulo Marques
traça assim alguns aspectos onde estes dois assuntos
se cruzam. Vários títulos dos três
jornais desportivos portugueses foram analisados e contabilizados.
Um dos pontos que o autor do estudo faz sobressair “é
a forma como os media se aproveitam de determinados acontecimentos
menos bons do desporto para vender mais números
e fazer mais dinheiro”. Veja-se o caso dos incidentes
ocorridos em Albufeira já no Euro 2004, “onde
as imagens correram o mundo”, quando o número
de intervenientes não foi elevado “nem os
acontecimentos tiveram lugar junto a recintos ou práticas
desportivas”. Tal forma de olhar os acontecimentos
leva a que exista “uma correlação
negativa entre a violência efectiva que ocorre no
futebol e o que os media destacam e transmitem para a
opinião pública”. Uma pesquisa que
assume um carácter sociológico e que conduz
a alguns resultados preocupantes.
Esta prova de mestrado em Ciências do Desporto teve
como júri, João Pissarra Nunes Esteves,
professor associado da Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Fernando Franco
de Almada, professor associado da Universidade da Beira
Interior e João Carlos Ferreira Correia, professor
auxiliar da Universidade da Beira Interior. João
Pissarra Nunes Esteves foi o arguente da prova. A nota
final atribuída a esta tese foi de bom com distinção.
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