António Fidalgo
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Os estudantes
e as leis
O que caracteriza um regime de direito
e democrático é que ninguém está
a cima da lei, mas que a lei é de aplicação
universal a todos. Debaixo da lei são todos iguais.
Este é um dos princípios basilares da nossa
civilização ocidental, que remonta à
democracia ateniense. Com efeito, Péricles no século
V antes de Cristo caracteriza o regime da sua cidade pela
igualdade perante a lei, onde a diferença social,
riqueza ou pobreza, não dá preferência
nas honras públicas, sendo o único critério
o mérito de cada um.
Em Portugal os estudantes não estão acima
da lei, mas estão sujeitos a ela como quaisquer
outros cidadãos. Ora a contestação
estudantil tem recorrido nos últimos anos a acções
que não são legais, fechando instituições
a cadeado, impedindo a liberdade de movimentos de outros,
estudantes, funcionários e professores, e impedindo
à força reuniões. Vem isto a propósito
da intenção declarada do Presidente da AAUBI
de tentar “todas as vias legais ou outras”
para impedir a fixação de um valor mais
alto das propinas na UBI e, até, “pela diminuição
do valor da propina”, como noticia o Urbi. É
que num estado de direito, em regime democrático,
só existem as vias legais. As outras, não
o sendo, são ilegais. Sendo ilegais são
intoleráveis pela sociedade.
Vital Moreira, professor da Universidade de Coimbra, já
chamou a atenção para essa impunidade inaceitável
dos estudantes universitários na contestação
estudantil às propinas. Os estudantes podem e devem
lutar, claro. É um direito, e até um dever,
que lhes assiste. Mas essa luta não pode extravasar
os limites impostos pelas leis democráticas. De
contrário, se cada um achasse que a razão
da sua luta está acima das leis gerais, então
teríamos brevemente um estado de anarquia, onde
não haveria entendimento possível.
A UBI tem-se caracterizado por ser uma academia respeitadora
dos princípios e leis do regime democrático.
Mal irá quando responsáveis académicos,
neste caso estudantis, ameaçam sair da lei, de
recorrer a medidas outras, que não as legais, para
fazer valer os seus pontos de vista. Aí entraríamos
no regime da força, no regime de que os fins justificam
os meios. Não é isso certamente o que a
UBI precisa, mas sempre e só a vitalidade e a igualdade
que a lei estipula.
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