Por Marta Nogueira



A entrega dos prémios foi um dos momentos altos do festival

Após 13 anos à frente da organização da Semana Internacional do Cinema, dedicada à filmografia europeia, com pouca adesão nos últimos anos, os responsáveis do Inatel apostaram num formato mais abrangente. "Há quatro anos atrás, surgiu o sonho de abrir as portas a outras cinematografias que não fossem só as europeias, de forma a chamar mais público", revela o coordenador cultural do Inatel, Luís Cassapo. O certame estendeu-se assim a Castelo Branco, Fundão, Idanha-a-Nova e Sertã.
Bernardino Gata, o presidente do Inatel, faz um balanço positivo deste 1º Festival de Cinema da Covilhã, decorrido entre os 28 de Maio e 5 de Junho.. Apesar de não ter chamado muita gente, "esta iniciativa foi um princípio de um êxito, o primeiro passo para que dentro de três anos o festival possa afirmar-se a nível nacional", sublinha o presidente. Visto este ser ainda o primeiro festival, Bernardino Gata pretende uma melhoria significativa, projectando "prémios de carreira a realizadores e actores, prémios para trabalhos realizados pelos alunos da Universidade da Beira Interior (UBI), mais workshops". O evento contou com a parceria da Câmara Municipal da Covilhã (CMC) e da UBI. O pelouro da cultura foi representado por Maria do Rosário Rocha que enfatizou a grande aposta da CMC na cultura: "A tradição da Covilhã na área da sétima arte foi cumprida mais uma vez nesta semana. A parceria com a UBI simboliza um desafio: investir no futuro.”


A Cinubiteca da UBI



Aprender cinema

"É de toda a conveniência para a formação cultural e moral de uma sociedade fomentar o bom cinema". António Fidalgo, presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI, comenta que "na actualidade, os filmes são peças fundamentais na educação, nomeadamente na distinção de valores e dilemas de decisões". O presidente acrescenta que o cinema "é algo de que se aprende a gostar. É preciso cultivar o gosto para se chegar ao bom cinema".
Desde Setembro, a UBI tornou-se a primeira universidade pública portuguesa a abrir uma licenciatura em Cinema. Foi um passo decisivo para a consolidação da Faculdade de Artes e Letras. A UBI tem vindo a ganhar créditos e reconhecimento. Edição e Sonoplastia, Guionismo e Realização são os três ramos nos quais se propõem formar a próxima geração de cineastas, contando com os frutos de dez anos de investigação na área da imagem.
Dotada de docentes e de meios tecnológicos de qualidade, a UBI dispõe ainda de uma Cinubiteca, sala de cinema com capacidade para cerca de 200 pessoas. Note-se que é a primeira sala de cinema digital da região.
”Iniciativas como o Festival são de extrema importância tanto para a cidade como para a UBI, pois poderão ser uma montra para futuros trabalhos dos alunos de cinema", afirma Luís Nogueira, docente da UBI. A licenciatura em cinema da UBI e o 1º Festival de Cinema da Covilhã “vieram promover um Interior tantas vezes descurado”, defende.



Menos Três

Alunos durante o workshop

A curta metragem "Menos Três" (12’03) foi o resultado de um workshop de realização, orientado pelo cineasta José Nascimento. Promovido pelo Festival de Cinema, a estreia da curta fez as honras do certame. Destinou-se a jovens dos 18 aos 27 anos, preferencialmente alunos de cinema já que, segundo o cineasta, "a ideia era deixar a teoria para as aulas e estabelecer uma relação de trabalho em que se descobre o que é necessário fazer para se realizar um filme".
De 10 a 16 de Maio, os dez participantes aprenderam tudo sobre linguagem, argumento, rodagem e pós-produção. Além de realizadores, os jovens foram actores. Margarete Casquinha foi a protagonista e confessa ter gostado do produto final, já que "apesar de não ser um resultado profissional, demonstra que houve trabalho". Acrescenta que "foi uma sensação muito esquisita, porque viemos com a intenção de realizar e não de interpretar".
"Menos Três" foi apresentado na abertura do festival e cada participante no workshop recebeu uma cópia da curta metragem e um diploma, além de toda a experiência cinematográfica.


Momento da cerimónia de entrega de prémios



Produções amadoras

Três curtas metragens realizadas por quatro jovens amantes da sétima arte, abriram a penúltima noite do certame. Tiago Coelho, aluno de Design Multimédia, foi o operador de câmara nas três produções e os intérpretes foram Miguel Furtado, também aluno de Design Multimédia, em "One Stop Minute" (1'00), Paulo Custódio em "Foreign" (2'00) e Joanot Cortès, aluno espanhol de Erasmus em Design Multimédia, em "O Buraco do Balde" (4'00).
São três curtas metragens realizadas em stop motion, método de animação que recorre à sucessão de fotografias para criar uma sequência. Uma técnica não muito utilizada em Portugal, como explica Tiago Coelho. "One Stop Motion" e "Foreign" não chegam a ter uma história, "é o ambiente que constrói a animação e vai-se descobrindo um cenário". A novidade está em "O Buraco do Balde", onde o stop motion é em movimento. "É uma descoberta! Podemos andar não só com os objectos, mas também com a câmara", explica Tiago Coelho entusiasmado.
A apresentação das curtas metragens no Festival de Cinema motivou os quatro jovens ubianos, "O facto de mostrarmos as curtas permite que as pessoas critiquem, o que nos ajuda a evoluir", conclui Tiago Coelho.



Portugal em exibição


Maria Morais recebeu o prémio por "Quaresma" em nome do filho falecido

Com um orçamento de 25 mil euros, o Festival de Cinema da Covilhã pretendeu sobretudo privilegiar e premiar o cinema português.
O júri da competição nacional foi constituído por docentes da UBI do Departamento de Artes e Letras: António Fidalgo, Luís Nogueira e Manuela Penafria. Os vencedores foram galardoados com uma estatueta do escultor covilhanense Moreira Neves. O melhor filme de longa metragem recebeu ainda 2500 euros e o de curta mil euros.
A cerimónia de entrega de prémios, na sessão de encerramento do festival, incluiu também um prémio especial, o de reconhecimento de carreira atribuído ao falecido José Álvaro de Morais, realizador de "Quaresma". O momento contou com uma pequena homenagem ao cineasta covilhanense, um reconhecimento simples a um realizador que saiu bem cedo de cena.
Foi Maria Morais quem recebeu o prémio do seu filho, confessando que "teve muito significado, pois é da cidade da Covilhã e é atribuído com amor". "Quaresma" foi um filme rodado há cerca de dois anos na zona da Covilhã e da Serra da Estrela, contando com a participação de covilhanenses e alguns alunos da UBI como figurantes.
O público que assistiu ao Festival também teve voto na atribuição de prémios. Mário Barroso, com "O Milagre Segundo Salomé", e Artur Araújo, com "Comédia Infeliz", foram os vencedores de melhor filme e melhor realizador de longa e curta metragem, respectivamente.

Para saber mais:
[Competição nacional]

[Vencedores]

 





Uma panóplia de produções



O programa do 1º Festival de Cinema da Covilhã dividiu-se em matinés (15 horas), em sessões da noite (21h30) e em "Meias Noites de Culto" (meia noite). Foram mais de quatro dezenas de películas portuguesas, europeias e norte americanas exibidas no Teatro Cine da Covilhã: a antestreia nacional de "Pedaços de Uma Vida", de Peter Hedges, e "Amarcod", de Fellini (dia 28); "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, e "Virgens Suicidas", de Sofia Coppola (dia 29); "Roder Dodger", de Dylan Kidd (dia 30); "Amanhã Mudamos de Casa", de Chantal Akerman (dia 31); "Sylvie", de Christine Jeffs (dia 2); "Uzak", de Nuri Bilge Ceylan (dia 3), "Carmen", de Vicente Aranda, "Zaytochi", de Takeshi Kitano, e "Em Carne Viva", de Pedro Almodóvar (dia 4); a antestreia de "Homicídios Ocultos", de Philip Kaufman (dia 5).
No auditório da UBI, pôde ver-se, entre os dias 31 de Maio e 2 de Junho, os clássicos "Vinhas da Ira", "Tempos Modernos" e "O Anjo Azul". Em Castelo Branco, no Cinema S. Tiago, exibiu-se "O Evangelho Segundo São Mateus" e em Idanha-a-Nova, no Centro Cultural Raiano, "Algures em África", "Não Tenho Medo", "O Herói", "Charlie & Snoopy" e "Bully – Estranhas Amizades". Na Sertã, esteve Peter Jackson e os seus três filmes da saga "O Senhor dos Anéis", "11 Perspectivas" e "Estranha Vida de Igby". "A Escola Vai ao Cinema", é uma rubrica herdada do anterior festival, e conta com "1492 – Cristóvão Colombo", "Por Duas Moedas" e "O cão que parou a guerra", de André Melançon, já sobejamente premiado em vários festivais de cinema.