André Barata*

A afirmação da UBI


Não é hoje difícil reconhecer que os últimos anos trouxeram à UBI uma nova idade. Para trás ficam os problemas de subsistência, adiante perfilam-se fundamentalmente problemas em torno da nossa afirmação enquanto Universidade. Não porque aqueles cessem – haverá com certeza instalações a construir, licenciaturas a propor, nexos com o mercado de trabalho a incentivar. Simplesmente, porque outros passam para a primeira linha. Se estamos dispostos a afirmar a nossa maturidade institucional, então teremos de fazer prova dela na credibilização face às outras Universidades portuguesas, na capacidade de mostrar que respondemos tão bem ao problema da qualidade como ao da quantidade. Numa palavra: no reconhecimento pelos pares.
Talvez o aparecimento de licenciaturas como as de Medicina, Arquitectura e Filosofia, autênticos “clássicos” da cultura universitária, seja o facto que assinala esta passagem a uma segunda idade na vida da UBI. Mas na mesma ordem de factos, é inegável que a mais recente avaliação às nossas Unidades de I&D não correu bem. Faltou-nos justamente o reconhecimento da excelência. Sem excepção, nenhum dos nossos centros de investigação obteve a classificação máxima por parte dos avaliadores da FCT. E nisto não podemos deixar de ver um problema, mesmo o problema crucial que se nos colocará nos próximos anos.
Há, pois, um problema diagnosticado e há que reflectir sobre que estratégia deverá ser adoptada para o enfrentar. Expõem-se, de seguida, três sugestões que poderiam integrar um eventual, e desejável, plano estratégico.
Quanto antes, necessário seria reconhecer a importância do problema para o futuro da Universidade. Quer isto dizer que, no delineamento de estratégias, não deveremos permitir a secundarização do objectivo do prestígio científico dos nossos departamentos e centros de investigação. Tal não é a cereja sobre o bolo, não é um luxo dispensável, mas a prova da nossa maturidade. Por isso, importará agilizar os processos de constituição de novas Unidades de I&D, regular, formalizando enfim um modelo de estatutos, o funcionamento das Unidades de I&D. Nesse sentido, uma primeira sugestão consistirá na criação de um pelouro, preferivelmente a nível da Reitoria, inteiramente dedicado à coordenação da investigação científica da UBI.
São hoje bem conhecidas as potencialidades dos projectos de investigação interdisciplinares – de outro modo, e pensando na crescente especialização disciplinar, não seria possível tratar objectos de investigação complexos. Um exemplo só: o estudo da cognição, envolvendo investigadores com formações de raiz muito distintas, desde informáticos a neurocientistas, desde psicólogos cognitivistas a filósofos da mente, teóricos de sistemas, sistemas dinâmicos, etc. Ora, face a isto, sugere-se aqui a criação de um centro de investigação exclusivamente aberto a projectos interdisciplinares propostos por mais de uma Unidade de I&D. A ideia nem é original. A Universidade Nova de Lisboa tem já em plena actividade uma Rede Interdisciplinar de Centros de Investigação, sediada na sua reitoria. Não será despiciendo notar, a este propósito, que a actual estrutura da UBI, organizada em unidades e departamentos, por um lado, e as condições de proximidade física, mesmo de partilha de espaços comuns, por outro, propicia, como raras vezes tem sido possível a nível nacional, efectivas condições para a realização de uma investigação interdisciplinar.
Por fim, como terceira e última sugestão, talvez fosse preferível apostar em mais centros com menos linhas de investigação do que em poucos centros com muitas linhas de investigação e muitos investigadores. Centros excessivamente populosos conduzem a processos morosos; demasiadas linhas de investigação tendem a fazer dispersar. Nem sequer é o caso que a FCT prefira financiar um centro com, digamos, trinta doutores a financiar dez centros com, cada um, três doutores.
Com estas sugestões, apresentadas mais em jeito de propostas para uma reflexão, ganhar-se-ia em agilidade, responsabilidade e, possivelmente, em avaliações mais justas, nem que seja por uma maior proximidade aos avaliados. Ganhar-se-ia também por se envolver transversalmente a comunidade de investigadores da UBI, dando corpo à ideia de uma vivência universitária plenamente afirmada. E esse é o desafio.

 

*Docente da UBI