Urbi et Orbi
- Qual é a função de um administrador?
Correia Pinheiro - É sobretudo supervisionar
toda a parte de gestão de pessoal e toda a gestão
financeira da instituição. Sou responsável
pela coordenação da divisão de contabilidade
e pela divisão de expediente e pessoal. Fora da
minha área de actuação estão
os Serviços Académicos, que têm director
próprio, os Serviços Técnicos, os
de Documentação e os Gráficos, que
têm outros responsáveis.
Quanto aos serviços sociais, são uma unidade
orgânica completamente autónoma da universidade,
embora integrada na universidade tem uma gestão
completamente diferente da universidade. Tem um corpo
de pessoal também à parte. A única
ligação que há da universidade com
os serviços de acção social, para
além do facto de eles só existirem porque
existe a universidade, é o reitor, que também
é reitor dos serviços de acção
social. De resto nem os funcionários nem os outros
reitores nem o administrador têm qualquer coisa
a ver com os serviços de acção social.
Fora isso os serviços de acção social
recebem apoio ou prestam apoio à universidade em
caso de necessidade, especialmente no que diz respeito
ao fornecimento de refeições, quando há
algum evento.
U@O - No âmbito da sua função
de administrador coordena todos os funcionários
que trabalham na universidade?
C.P.- De certo modo sim, excepto no que diz respeito
ao corpo docente, pois em termos de carreira académica
não tenho nada a ver com o assunto, mas quando
se trata de contratações ou rescisões,
tudo passa por mim. Coordeno mais todo o pessoal não
docente.
U@O - É uma tarefa complicada?
C.P. - Sim, muito complicada e complexa. Com
a expansão que se verificou na universidade cada
vez mais complexa é.
U@O - Quantos funcionários tem a universidade
neste momento?
C.P. - Os docentes são cerca de 450, embora
alguns estejam a tempo parcial, e funcionários
devemos ter, tendo em conta que alguns também estão
a dois terços, cerca de 300.
U@O - Acha que esse número corresponde
às necessidades da Universidade?
C. P.- Penso que são os necessários
neste momento, mas é previsível que, no
futuro, o número de funcionários não
docentes seja diminuído. Contanto com as aposentações,
é natural que vamos reduzindo alguns funcionários.
Isto porque também se vão cada vez mais
informatizando os serviços, procedimentos e rotinas
administrativas.
U@O - A criação de novas estruturas
não irá criar necessidade de mais pessoal
não docente?
C.P. – No que respeita à Faculdade
de Ciências da Saúde sim, precisa, mas já
está a recrutar os seus próprios funcionários
e técnicos, além dos docentes. Com a conclusão
do edifício de raiz e definitivo da Faculdade,
é natural que tenhamos de admitir auxiliares administrativos.
Há uma expansão mas que deverá ser
compensada com outras saídas porque, como disse,
estão-se a informatizar os serviços, tarefas
e rotinas administrativas que, lentamente, vão
dispensando a necessidade de algum pessoal que desempenhava
tarefas não informatizadas. Portanto é previsível
que, no futuro haja uma redução de funcionários.
Correia Pinheiro é
uma das figuras mais discretas da instituição
|
"O projecto é desenvolvido pela UBI"
|
U@O - Relativamente aos procedimentos em termos
burocráticos, está prevista alguma inovação
para desburocratizar os serviços de expediente
e pessoal, por exemplo, em termos informáticos?
C.P. - Sim. Foi assinado um contrato programa
entre o Reitor e a ministra da Ciência e do Ensino
Superior, prevendo a concretização de vários
projectos visando a modernização dos procedimentos
e neste caso específico, nos procedimentos administrativos,
que deverá ser desenvolvido entre 2004 e 2007.
O projecto visa precisamente a modernização
dos processos administrativos e tem um horizonte temporal
de quatro anos, englobando um custo de cerca de 157 mil
euros, em que o Ministério da Ciência e do
Ensino Superior financiará em 85 por cento e a
universidade em 15 por cento.
U@O - O que vai mudar com a introdução
do novo sistema informático?
C.P. - Haverá uma informatização
dos dados que facilitará bastante o trabalho dos
funcionários. Posso dar o exemplo dos serviços
de expediente e pessoal. Haverá uma base de dados
em que os funcionários, para processarem os salários,
vêm logo se há ou não faltas, por
exemplo.
Nessa aplicação informática estarão
também as informações respeitantes
aos contratos, às subidas de categoria, etc..
As tarefas serão informatizadas reduzindo o número
de pessoas que intervém no processo e permitirão
ter informações mais fiáveis. Este
projecto visa efectivamente conseguir uma maior celeridade
nos processos. Refiro-me aqui aos vencimentos mas há
outros aspectos: a antiguidade, as férias, a progressão
nos escalões, tudo isso será contabilizado.
Também haverá uma agenda que nos avisará
com uma antecedência adequada de renovações
de contrato ou de rescisões.
U@O - Esse sistema informático será
comprado ou desenvolvido na UBI?
C.P. - Será desenvolvido na UBI. Tem sido
política nossa termos estagiários de Matemática/Informática
a desenvolver projectos. O mesmo irá acontecer
com este sistema.
U@O - Os estágios profissionais são
uma mais valia que permite ter funcionários sem
contrato na Universidade?
C.P. – Penso que sim. Não sou a
pessoa mais indicada para falar de estágios, pois
não sou eu que coordeno essa parte, mas creio que
qualquer estágio é uma mais valia para a
instituição e também para o estagiário
que sai daqui já com alguma experiência adquirida,
que depois lhe poderá ser útil na vida activa.
U@O - Os cortes orçamentais que têm
atingido as universidades em geral e a UBI em particular
prejudicam de alguma forma o seu trabalho?
C.P. - É evidente que prejudicam o trabalho
da instituição. Se o orçamento padrão
estabelecido na fórmula de financiamento fosse
cumprido pelo Ministério da Ciência e do
Ensino Superior, o montante das propinas que a Universidade
fixou não seria tão elevado. Mas o Governo
quer que sejam as famílias, os alunos e as universidades
a participar no seu próprio financiamento, no caso
da universidade, através da captação
de receitas próprias, e isso traz problemas às
universidades. Ao aumentarmos as propinas para equilibrar
o orçamento, os alunos não gostam e no que
diz respeito às receitas próprias não
há grande facilidade em consegui-las. Estamos numa
região em que o tecido empresarial nem é
muito grande, nem de actividades muito rentáveis.
Normalmente as universidades vão procurar receitas
próprias através da prestação
de serviços ao exterior, às empresas. Daí
que haja alguma dificuldade na captação
de receitas próprias.
U@O - Mas essa situação leva a
uma redução na contratação
de funcionários que noutras circunstâncias
seriam necessários e contratados?
C.P. - Penso que não. Neste momento os
funcionários que temos são os adequados
à nossa estrutura. Mas no futuro julgo que haverá
uma redução, lenta, à medida que
formos informatizando os serviços e que não
abrirão vagas para outras pessoas à medida
que alguns se forem aposentando.
Por causa dos cortes orçamentais, de facto, se
tivéssemos necessidade de recrutar mais pessoas
teríamos dificuldades em fazê-lo mas, neste
momento aquelas pessoas que colocamos, que são
muito poucas, é para responder a necessidades imediatas.
U@O - Passam também pelas suas mãos
todas as contas da Universidade. Quanto se gasta de água
e luz por mês na UBI?
C.P. - Sim, de certo modo supervisiono todas
as despesas que se fazem na Universidade. Para além
disso sou membro de Senado. Tenho uma visão abrangente
da Universidade que só o reitor e os vice-reitores
terão completas.
A factura da electricidade tem um peso considerável
nas contas mensais da UBI.
Quanto à água reduzimos a factura através
do aproveitamento de poços e furos que antes abasteciam
as fábricas. Como a universidade reconstruiu uma
série de edifícios que eram fábricas,
o abastecimentos dessas unidades foi aproveitado, numa
política de redução de custos. Em
todos os locais onde temos instalações temos
muita água. Os lanifícios tinham necessidade
de muita água para a lavagem de lãs e para
tingir os lanifícios, como também durante
muitos anos a água foi uma força matriz
desta indústria, através da energia hidráulica.
Toda esta encosta da Covilhã está cheia
de minas, com levadas, condutas, e ainda se mantém
muitas delas. Assim aproveitámos estas estruturas
para captar também água para abastecer a
universidade, reduzindo os custos. A ideia de que aquilo
que gastamos é o Estado que financia não
é verdade. O orçamento este ano foi inferior
em cerca de 80 mil contos.
Quanto à electricidade, a factura mensal pode ascender
aos três ou quatro mil contos.
U@O - Como caracteriza a Universidade da Beira
Interior actualmente?
C.P. - A UBI é uma Universidade que se
fez por si própria, contra muitas más vontades,
com muita persistência, feita com o esforço
das pessoas que cá trabalharam, especialmente os
reitores. Não tivemos professores nem funcionários
vindos das universidades ultramarinas quando houve a descolonização.
Ela própria teve de formar os seus funcionários,
os seus docentes, e em determinada fase alguns professores
formavam-se aqui e depois eram captados por universidades
do litoral. Hoje, felizmente, isso já não
acontece. A universidade ganhou dinâmica, está
a formar o seu próprio corpo docente, os funcionários
foram ganhando experiência. A UBI foi-se afirmando
lentamente nas suas infraestruturas, edifícios,
laboratórios, e restantes equipamentos. Está
bem equipada e, acima de tudo, é uma universidade
que pode dar um grande salto qualitativo com o número
de doutorados que já tem para a investigação,
penso que o vai fazer e há indícios nesse
sentido.
Mas foi uma universidade que se fez com muito esforço,
com muito sacrifício, não com favores.
U@O - Como é que a gostaria de ver a médio
prazo?
C.P. - Gostaria que fosse uma universidade moderna,
com procedimentos administrativos e técnicos moderníssimos
que satisfizessem os alunos, e simultaneamente que ensinasse
e investigasse com cada vez mais qualidade.
Penso que está nesse caminho e eu, que já
não estarei cá muito mais tempo, estou a
cerca de dois anos da reforma, gostaria de a ver como
uma grande universidade.
|