Por Ana Maria Fonseca e Daniel Sousa e Silva



José Correia Pinheiro administra a UBI desde 1973

Urbi et Orbi - Qual é a função de um administrador?
Correia Pinheiro -
É sobretudo supervisionar toda a parte de gestão de pessoal e toda a gestão financeira da instituição. Sou responsável pela coordenação da divisão de contabilidade e pela divisão de expediente e pessoal. Fora da minha área de actuação estão os Serviços Académicos, que têm director próprio, os Serviços Técnicos, os de Documentação e os Gráficos, que têm outros responsáveis.
Quanto aos serviços sociais, são uma unidade orgânica completamente autónoma da universidade, embora integrada na universidade tem uma gestão completamente diferente da universidade. Tem um corpo de pessoal também à parte. A única ligação que há da universidade com os serviços de acção social, para além do facto de eles só existirem porque existe a universidade, é o reitor, que também é reitor dos serviços de acção social. De resto nem os funcionários nem os outros reitores nem o administrador têm qualquer coisa a ver com os serviços de acção social. Fora isso os serviços de acção social recebem apoio ou prestam apoio à universidade em caso de necessidade, especialmente no que diz respeito ao fornecimento de refeições, quando há algum evento.

U@O - No âmbito da sua função de administrador coordena todos os funcionários que trabalham na universidade?
C.P.-
De certo modo sim, excepto no que diz respeito ao corpo docente, pois em termos de carreira académica não tenho nada a ver com o assunto, mas quando se trata de contratações ou rescisões, tudo passa por mim. Coordeno mais todo o pessoal não docente.

U@O - É uma tarefa complicada?
C.P. -
Sim, muito complicada e complexa. Com a expansão que se verificou na universidade cada vez mais complexa é.

U@O - Quantos funcionários tem a universidade neste momento?
C.P. -
Os docentes são cerca de 450, embora alguns estejam a tempo parcial, e funcionários devemos ter, tendo em conta que alguns também estão a dois terços, cerca de 300.

U@O - Acha que esse número corresponde às necessidades da Universidade?
C. P.-
Penso que são os necessários neste momento, mas é previsível que, no futuro, o número de funcionários não docentes seja diminuído. Contanto com as aposentações, é natural que vamos reduzindo alguns funcionários. Isto porque também se vão cada vez mais informatizando os serviços, procedimentos e rotinas administrativas.

U@O - A criação de novas estruturas não irá criar necessidade de mais pessoal não docente?
C.P. –
No que respeita à Faculdade de Ciências da Saúde sim, precisa, mas já está a recrutar os seus próprios funcionários e técnicos, além dos docentes. Com a conclusão do edifício de raiz e definitivo da Faculdade, é natural que tenhamos de admitir auxiliares administrativos. Há uma expansão mas que deverá ser compensada com outras saídas porque, como disse, estão-se a informatizar os serviços, tarefas e rotinas administrativas que, lentamente, vão dispensando a necessidade de algum pessoal que desempenhava tarefas não informatizadas. Portanto é previsível que, no futuro haja uma redução de funcionários.



Correia Pinheiro é uma das figuras mais discretas da instituição



"O projecto é desenvolvido pela UBI"

U@O - Relativamente aos procedimentos em termos burocráticos, está prevista alguma inovação para desburocratizar os serviços de expediente e pessoal, por exemplo, em termos informáticos?
C.P. -
Sim. Foi assinado um contrato programa entre o Reitor e a ministra da Ciência e do Ensino Superior, prevendo a concretização de vários projectos visando a modernização dos procedimentos e neste caso específico, nos procedimentos administrativos, que deverá ser desenvolvido entre 2004 e 2007.
O projecto visa precisamente a modernização dos processos administrativos e tem um horizonte temporal de quatro anos, englobando um custo de cerca de 157 mil euros, em que o Ministério da Ciência e do Ensino Superior financiará em 85 por cento e a universidade em 15 por cento.

U@O - O que vai mudar com a introdução do novo sistema informático?
C.P.
- Haverá uma informatização dos dados que facilitará bastante o trabalho dos funcionários. Posso dar o exemplo dos serviços de expediente e pessoal. Haverá uma base de dados em que os funcionários, para processarem os salários, vêm logo se há ou não faltas, por exemplo.
Nessa aplicação informática estarão também as informações respeitantes aos contratos, às subidas de categoria, etc..
As tarefas serão informatizadas reduzindo o número de pessoas que intervém no processo e permitirão ter informações mais fiáveis. Este projecto visa efectivamente conseguir uma maior celeridade nos processos. Refiro-me aqui aos vencimentos mas há outros aspectos: a antiguidade, as férias, a progressão nos escalões, tudo isso será contabilizado. Também haverá uma agenda que nos avisará com uma antecedência adequada de renovações de contrato ou de rescisões.

U@O - Esse sistema informático será comprado ou desenvolvido na UBI?
C.P. -
Será desenvolvido na UBI. Tem sido política nossa termos estagiários de Matemática/Informática a desenvolver projectos. O mesmo irá acontecer com este sistema.

U@O - Os estágios profissionais são uma mais valia que permite ter funcionários sem contrato na Universidade?
C.P. –
Penso que sim. Não sou a pessoa mais indicada para falar de estágios, pois não sou eu que coordeno essa parte, mas creio que qualquer estágio é uma mais valia para a instituição e também para o estagiário que sai daqui já com alguma experiência adquirida, que depois lhe poderá ser útil na vida activa.

U@O - Os cortes orçamentais que têm atingido as universidades em geral e a UBI em particular prejudicam de alguma forma o seu trabalho?
C.P. -
É evidente que prejudicam o trabalho da instituição. Se o orçamento padrão estabelecido na fórmula de financiamento fosse cumprido pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior, o montante das propinas que a Universidade fixou não seria tão elevado. Mas o Governo quer que sejam as famílias, os alunos e as universidades a participar no seu próprio financiamento, no caso da universidade, através da captação de receitas próprias, e isso traz problemas às universidades. Ao aumentarmos as propinas para equilibrar o orçamento, os alunos não gostam e no que diz respeito às receitas próprias não há grande facilidade em consegui-las. Estamos numa região em que o tecido empresarial nem é muito grande, nem de actividades muito rentáveis. Normalmente as universidades vão procurar receitas próprias através da prestação de serviços ao exterior, às empresas. Daí que haja alguma dificuldade na captação de receitas próprias.

U@O - Mas essa situação leva a uma redução na contratação de funcionários que noutras circunstâncias seriam necessários e contratados?
C.P. -
Penso que não. Neste momento os funcionários que temos são os adequados à nossa estrutura. Mas no futuro julgo que haverá uma redução, lenta, à medida que formos informatizando os serviços e que não abrirão vagas para outras pessoas à medida que alguns se forem aposentando.
Por causa dos cortes orçamentais, de facto, se tivéssemos necessidade de recrutar mais pessoas teríamos dificuldades em fazê-lo mas, neste momento aquelas pessoas que colocamos, que são muito poucas, é para responder a necessidades imediatas.

U@O - Passam também pelas suas mãos todas as contas da Universidade. Quanto se gasta de água e luz por mês na UBI?
C.P. -
Sim, de certo modo supervisiono todas as despesas que se fazem na Universidade. Para além disso sou membro de Senado. Tenho uma visão abrangente da Universidade que só o reitor e os vice-reitores terão completas.
A factura da electricidade tem um peso considerável nas contas mensais da UBI.
Quanto à água reduzimos a factura através do aproveitamento de poços e furos que antes abasteciam as fábricas. Como a universidade reconstruiu uma série de edifícios que eram fábricas, o abastecimentos dessas unidades foi aproveitado, numa política de redução de custos. Em todos os locais onde temos instalações temos muita água. Os lanifícios tinham necessidade de muita água para a lavagem de lãs e para tingir os lanifícios, como também durante muitos anos a água foi uma força matriz desta indústria, através da energia hidráulica. Toda esta encosta da Covilhã está cheia de minas, com levadas, condutas, e ainda se mantém muitas delas. Assim aproveitámos estas estruturas para captar também água para abastecer a universidade, reduzindo os custos. A ideia de que aquilo que gastamos é o Estado que financia não é verdade. O orçamento este ano foi inferior em cerca de 80 mil contos.
Quanto à electricidade, a factura mensal pode ascender aos três ou quatro mil contos.

U@O - Como caracteriza a Universidade da Beira Interior actualmente?
C.P. -
A UBI é uma Universidade que se fez por si própria, contra muitas más vontades, com muita persistência, feita com o esforço das pessoas que cá trabalharam, especialmente os reitores. Não tivemos professores nem funcionários vindos das universidades ultramarinas quando houve a descolonização. Ela própria teve de formar os seus funcionários, os seus docentes, e em determinada fase alguns professores formavam-se aqui e depois eram captados por universidades do litoral. Hoje, felizmente, isso já não acontece. A universidade ganhou dinâmica, está a formar o seu próprio corpo docente, os funcionários foram ganhando experiência. A UBI foi-se afirmando lentamente nas suas infraestruturas, edifícios, laboratórios, e restantes equipamentos. Está bem equipada e, acima de tudo, é uma universidade que pode dar um grande salto qualitativo com o número de doutorados que já tem para a investigação, penso que o vai fazer e há indícios nesse sentido.
Mas foi uma universidade que se fez com muito esforço, com muito sacrifício, não com favores.

U@O - Como é que a gostaria de ver a médio prazo?
C.P. -
Gostaria que fosse uma universidade moderna, com procedimentos administrativos e técnicos moderníssimos que satisfizessem os alunos, e simultaneamente que ensinasse e investigasse com cada vez mais qualidade.
Penso que está nesse caminho e eu, que já não estarei cá muito mais tempo, estou a cerca de dois anos da reforma, gostaria de a ver como uma grande universidade.






Perfil


Nasceu na freguesia de Caria, concelho de Belmonte, em Outubro de 1942.
Fez a escola primária primeiro em Caria e depois no Tortosendo, para onde foi viver. Entretanto frequentou o seminário do Fundão durante quatro anos. Em seguida rumou à Covilhã onde conclui o Ensino Secundário e depois a sul, para Lisboa. No Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, que hoje é Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, concluiu a Licenciatura em Finanças.
De volta à Covilhã, no início dos anos 70, numa primeira fase, trabalha na delegação do então designado Ministério das Corporações que, depois do 25 de Abril passou a chamar-se Ministério do Trabalho.
Quando ainda estava neste Ministério, abriu concurso para secretário do Instituto Politécnico, “pareceu-me na altura ser um projecto inovador e de futuro e por isso concorri, fui seleccionado e cá estou”.
Em 1974 começa a trabalhar na UBI, então ainda Instituto Politécnico da Covilhã, onde exerce as funções de secretário vogal da comissão administradora. “Comecei a trabalhar oficialmente após a tomada de posse da comissão instaladora, mais precisamente no dia 2 de Novembro de 74. Além das funções que tinha no Ministério do Trabalho, foi-me pedido que me deslocasse aqui e acompanhando desde o início toda a actividade que foi desenvolvida no então Instituto Politécnico, ainda no seu início”, com o objectivo de estabelecer o Ensino Superior na região.
O seu interesse recaiu sempre sobre a área das finanças. “Quando ainda era Instituto Politécnico, trabalhava como secretário depois, quando passou a Instituto Universitário tornei-me administrador, portanto estive sempre envolvido com a área da gestão financeira e de pessoal”, conta.
Nos tempos livres gosta de ler e de fazer caminhadas pela cidade.