José Geraldes
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Televisão
e família
A vida em família
pode ser desestabilizada com a caixa que revolucionou
o mundo.
A Comunicação Social está no centro
do quotidiano de todos nós. Não há
momentos da vida que lhe escapem. A nível individual
ou familiar. Em casa ou na rua. Em actos públicos
ou privados e na própria vida íntima. A
sua omnipresença marca o ritmo com que vivemos.
Para o bem e para o mal. Os media fazem parte das nossas
vidas.
Daí a oportunidade do tema do Dia Mundial dos Meios
de Comunicação Social “Os media e
a família : um risco e uma riqueza”.
Quem, hoje, tem dúvidas sobre a influência
dos media na vida moderna? Seja como poder, contrapoder
ou marcadores não só do que devemos pensar
mas também sobre o que eles desejem que pensemos?
Actualmente vivemos numa tal superabundância de
informação que nos esmaga e nos faz esquecer
o essencial das notícias. E como se sai a família
na invasão dos media?
O Papa João Paulo II, na mensagem para este dia,
diz que “toda a comunicação tem uma
dimensão moral” e que “para o recto
uso destes meios, é absolutamente necessário
que todos os que se servem deles conheçam e ponham
em prática as normas da ordem moral”. E concretiza
: “A sabedoria e o discernimento no uso dos meios
de comunicação social são exigidos
de maneira particular da parte dos profissionais das comunicações,
dos pais, dos educadores, uma vez que as suas decisões
influenciam enormemente as crianças e os jovens,
por quem eles são responsáveis e que, em
última análise, são futuro da sociedade”.
E, depois, “o critério ético do respeito
pela verdade e pela dignidade da pessoa humana”
a presidir à produção jornalística.
João Paulo II fala do uso dos media. Ora é
exactamente aqui que eles podem constituir um risco e
uma riqueza. Um risco se o seu uso põe em cheque
a vida familiar. Uma riqueza se o seu uso se orientar
para a promoção dos valores familiares.
Este uso, nas sociedades modernas, torna-se central sobretudo
com o media televisão. Quem não aparece
na televisão, não existe. É um novo
postulado da vida moderna. Ou seja, um facto ou personalidade
só tem valor se for mediatizado. E a vida em família
pode ser desestabilizada com a caixa que revolucionou
o mundo. Aqui, os produtores de conteúdos assumem
responsabilidades acrescidas.
Os telespectadores também contraem deveres. Não
consumindo, por exemplo, o que os produtores de conteúdos
lhes querem impingir. E manifestar o seu desagrado com
protestos oportunos. E não permitindo que a televisão
elimine o diálogo entre pais e filhos.
Um inquérito feito na Alemanha a 20 mil crianças
reproduz declarações arrepiantes : “Só
vejo o papá no fim-de-semana. Mas ou lava o automóvel
ou vai ao futebol ou sai sem dizer nada”. “
Antes de termos televisão, o papá brincava
connosco. Agora, está sempre a gritar para nos
calarmos e passa o tempo a olhar para o ecrã”.
Manuel Pinto, docente da Universidade do Minho, na sua
tese de doutoramento mostra que, num ano, as crianças
passam mil e 100 horas nas aulas e mil e 210 horas frente
ao televisor. O tempo médio de consumo televisivo
ultrapassa o tempo ocupado com aulas.
Como resolver o problema ? O Papa defende que os pais
devem regular o uso dos meios de comunicação
em casa, “através de um uso ponderado e selectivo
dos mesmos”. E propõe que a regulação
dê prioridade às actividades da família.
Será de pôr de parte ou diabolizar os meios
de comunicação social? De maneira nenhuma.
Apenas a família não ser escrava, neste
caso, do televisor e das mensagens que, muitas vezes,
a querem destruir. E lendo, ouvindo e vendo com um espírito
crítico apurado.
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