“Este foi um ano
mau para a arbitragem em Portugal. E estão a encobrir
esta situação com o facto de os grandes campeonatos
nacionais terem corrido bem”. Assim, sem papas na
língua, Lucílio Baptista deu início
à sua intervenção no colóquio
“Mundo da Arbitragem” promovido, na última
sexta-feira, 14, no Académico dos Penedos Altos,
na Covilhã.
O árbitro, que dois dias depois esteve no Jamor a
apitar a final da Taça de Portugal, faz um balanço
negativo da última temporada e mostra-se pessimista
em relação a melhorias num futuro próximo:
“O meu grande receio é que no próximo
ano volte a suceder o que aconteceu neste”. Segundo
Lucílio Baptista, a “turbulência”
na arbitragem “é cíclica, e se a Liga
e o Governo não tomarem medidas daqui a alguns anos
teremos novos casos”. O problema, defende em jeito
de crítica interna, “é que a formação
é mal feita e os árbitros não são
bem preparados”. O único representante português
na classe a apitar no Euro 2004, é ainda apologista
da inclusão de ex-árbitros nos quadros dirigentes
dos organismos que regulam o sector, e aponta os nomes de
Carlos Valente, Vítor Pereira e Jorge Coroado como
exemplos a considerar.
Num tema que provocou acesas discussões, ou não
se tratasse de “falar de árbitros”, não
podia ter deixado de se falar no caso “Apito Dourado”.
Ainda assim, os convidados de honra, Lucílio Baptista,
Carlos Xistra e Luís Guilherme, presidente do Conselho
de Arbitragem (CA), preferiram não se alongar no
assunto. “Até prova em contrário todos
são inocentes”, lembra Luís Guilherme
que, em caso de culpa provada defende “sem contemplações”
o afastamento das pessoas dos cargos que ocupam.
No que toca a arbitragem propriamente dita, o presidente
do CA da Liga reconhece que a arbitragem em Portugal ainda
tem um longo caminho a percorrer, mas acrescenta que “hoje
está muito melhor que há 10 anos atrás,
com tendência para evoluir ainda mais”. O problema,
diz, “é que durante muitos anos a arbitragem
fechou-se sobre si própria e não se abriu
a opiniões de outros sectores exteriores a si”.
Situação que diz já não suceder
nos dias de hoje, em que os organismos que a tutelam recebem
todo o tipo de colaborações externas como
é o caso da universidade. Sorteio ou nomeação?
Em destaque esteve também a nomeação
dos árbitros. Um tema que continua a dividir a
opinião pública. Ao argumento da “maior
transparência do sorteio” opõe Luís
Guilherme a “melhor gestão de recursos permitida
pela nomeação”. Na opinião
do dirigente, “os árbitros não são
todos iguais, e apesar de estarem todos na Primeira Categoria,
cada um tem características próprias”.
Para um jogo mais importante, explica, “é
melhor um árbitro com um conjunto de predicados
que um jovem em início de carreira ainda não
tem. E pelo sistema de sorteio puro, qualquer um pode
apitar qualquer jogo”.
Quanto à “histórica” contestação
ao trabalho dos “homens do apito”, que tanta
tinta faz correr ao longo dos campeonatos e, principalmente,
a seguir aos jogos dos “grandes”, o presidente
do Conselho de Arbitragem lembra que “os árbitros
também são homens e, como tal, estão
sujeitos a errar”. No entanto, sublinha, “dirigentes
e jogadores podem ser punidos disciplinarmente, mas em
todo o fenómeno do futebol, são os árbitros
os únicos a ser castigados por erros técnicos”.
E explica: “Se um jogador falhar uma grande penalidade,
no próximo jogo volta a ser titular. Se o árbitro
assinalar, ou não, mal um penalti, fica de fora
na jornada seguinte”. As pessoas, diz, não
se dão conta disto e perdem mais tempo a analisar
os erros de quem arbitra do que a reflectir sobre o que
correu mal na sua equipa, ou na estratégia.
Num encontro que contou com a participação
de um grande número de árbitros do distrito,
Luís Guilherme deixou ainda uma mensagem de incentivo.
Actualmente o número disponível para os
campeonatos nacionais está muito abaixo do necessário
(cerca de três mil para uma necessidade de oito
mil), mas há jovens nos escalões inferiores
que têm potencial para ascender às categorias
nacionais. O Interior, conclui, “também já
não é desculpa para não evoluir porque
a Covilhã tem o exemplo do Carlos Xistra, que com
trabalho e dedicação conseguiu chegar à
I Categoria e, em breve, pode integrar o lote de árbitros
internacionais”.
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