António Fidalgo
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A Universidade
de Viseu
O Primeiro Ministro Durão Barroso
anunciou ontem, 17 de Maio de 2004, a decisão governamental
de criar a Universidade Pública de Viseu. Nada
contra. Era uma promessa velha que políticos, tanto
rosa como laranja, vinham fazendo quando se encontravam
na oposição e que esqueciam quando chegavam
ao poder. Ora as promessas são para cumprir e esta
já era muito antiga para continuar a ser requentada.
O cumprimento da promessa levanta, no entanto, questões,
coloca problemas e suscita dúvidas.
Viseu é uma das cidades portuguesas com melhor
cobertura de ensino superior. Tem um dos maiores institutos
politécnicos públicos, é sede do
pólo das Beiras da Universidade Católica
Portuguesa e o Instituto Piaget tem ali um enorme campus
universitário com três Escolas Superiores.
Os actores políticos, nomeadamente o poderoso Presidente
da Câmara Fernando Ruas, dizem que não haverá
conflitos com as instituições já
existentes, mas que todos os interesses em causa serão
conciliados e aproveitadas as diferentes sinergias. Obviamente
isso é mais facilmente dito que feito. As relações
são, a mais das vezes, de concorrência e
não de cooperação. Adivinham-se tempos
difíceis para o ensino superior privado na cidade.
Um problema bem concreto é a menorização
efectiva do ensino politécnico. Ao dizer que Viseu
há muito merece uma universidade pública,
o Primeiro Ministro faz uma distinção entre
as cidades com universidade e as cidades apenas com ensino
politécnico. Será que desta vez também
Bragança irá ter a universidade que há
tanto reivindica? Só que aí a reivindicação
é outra, não a da criação
separada do politécnico, mas a passagem do politécnico
bragantino a universidade. Tudo leva a crer que a deliberação
governamental de ontem levará à passagem
dos politécnicos existentes a universidades. Com
os problemas inerentes que essa passagem acarreta, entenda-se.
Não se duvida das boas intenções
anunciadas, de que será “uma universidade
inovadora, com ideias novas, no sentido de inovação
e desempenho, por forma a que incida não só
sobre o desenvolvimento regional, mas também seja
uma voz a nível nacional e europeu”. Duvida-se
sim que isso seja conseguido com intenções.
Nenhuma universidade foi criada até hoje que não
quisesse ser inovadora. A Universidade Nova de Lisboa
até incorporou esse desígnio no nome. Só
que hoje é tão velha como as outras. A de
Viseu não será certamente mais inovadora
que a de Aveiro, para ir buscar a que lhe está
geograficamente mais próxima.
A UBI deve cumprimentar a nova universidade, desejar-lhe
todo o sucesso, e esperar que floresça como ela
própria soube florescer. O saber aumenta tanto
mais quanto mais se compartilha.
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