José Geraldes
|
Lei
injusta para casados
A manutenção
da lei leva a que casais embora vivendo sob tecto comum,
se “divorciem” ou “se separem”.
Em Portugal, a falta de uma harmonização
fiscal em relação à família
gera situações de injustiça. A razão
deste facto deriva da lei que não permite que os
casados possam declarar os rendimentos em separado incluindo
os que casaram com separação de bens.
No governo socialista, Sousa Franco, então ministro
das Finanças encomendou um estudo sobre o assunto
no âmbito da lei geral tributária. As medidas
sugeridas iam no sentido de distribuir o rendimento não
pelo casal mas por todas as pessoas que constituem o agregado
familiar. No entanto, as sugestões caíram
em saco roto e nada se avançou.
O actual Governo prometeu levar por diante uma verdadeira
política da família. Mas nas cem medidas
de protecção à família anunciadas
solenemente por Durão Barroso, nada é dito
sobre a fiscalidade. Ou seja, continua a mesma situação
que faz com que um divorciado pague menos impostos do
que um casado.
Margarida Neto, coordenadora para os assuntos da família
nomeada pelo governo da maioria, dizia, há tempos,
numa entrevista que “a fiscalidade tem de reconhecer
que quem se casa, não pode pagar mais por isso”.
O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo,
na conferência de imprensa do encerramento dos trabalhos
da Conferência Episcopal, afirmou, sem ambiguidades,
que falta “uma política unificada”
para a família. A Associação Portuguesa
das Famílias Numerosas (APFN) não cessa
de apelar ao Governo para que reveja os impostos em função
da família. Apelo que não recebeu ainda
qualquer resposta.
A lei vigente é considerada por todos os especialistas
como anacrónica e injusta. Na própria Espanha,
lei semelhante foi considerada inconstitucional.
Na prática, famílias monoparentais ou vivendo
em união de facto são privilegiadas. A manutenção
da lei leva a que casais embora vivendo sob tecto comum,
se “divorciem” ou “se separem”
por mútuo consentimento para beneficiarem da redução
de impostos. E os casos tendem a aumentar.
Embora não haja um estudo científico sobre
o assunto, vai-se sabendo que muitos famílias numerosas
adoptam esta situação para obviar às
despesas com os filhos.
E é conhecido o caso dos viúvos e viúvas
que para não perderem as reformas vão contrair
casamento católico a Espanha para serem coerentes
com as suas convicções católicas.
Se os impostos a pagar fossem taxados pelo número
de filhos e não só a dividir pelos dois
membros do casal, estas situações não
aconteceriam. O facto ainda torna-se mais grave pela declaração
do casal ser obrigatória.
Como é possível que os governos sucessivos
não tenham alterado a lei ? Por medo de perder
receitas ? Então, não venham falar de protecção
à família.
Não pode haver dois pesos e duas medidas. Uns,
divorciados e em união de facto com impostos reduzidos.
Outros, famílias com vários filhos com o
fisco a cair-lhes em cima.
Esta semana que é chamada semana da vida, apresenta-se
como uma boa oportunidade para denunciar a injustiça
e a estupidez desta lei que penaliza todos os casados.
|