Por Rui Pires



"Canto de Sereias" foi apresentado pela primeira vez em 2002

Pôr em prática um sonho não é fácil, mas igualmente difícil é dar continuidade a esse sonho. Quatro anos depois de iniciar as suas actividades, a ASTA tem sofrido na pele os dissabores de quem se aventura pelos caminhos da cultura. Tendo em conta que o seu trabalho se desenvolve sobretudo numa das regiões tantas vezes esquecidas por quem detém o poder de decidir, essa tarefa torna-se ainda mais complicada.
Ignorada por uns, esquecida por outros, a verdade é que esta associação sediada na Covilhã tem conseguido sobreviver à custa de muito sangue, suor e lágrimas.
Com o propósito de “colmatar algumas falhas existentes no seio cultural da região e permitir o acesso à cultura, especialmente ao teatro, a todos, chegando ao ponto mais recôndito do interior” é o objectivo da ASTA, salientam Maria do Carmo Teixeira e Sérgio Novo, os rostos mais visíveis da associação.
Os obstáculos por que têm passado são muitos, mas até ao momento, com maior ou menor dificuldade, todos têm sido transpostos. “Temos partido muita pedra e continuamos a partir”, refere Sérgio Novo, quando se fala das dificuldades em estar no interior do País. No entanto referem que a vontade de continuar é muita, sobretudo quando verificam o ar de satisfação estampado nos rostos de pessoas que dificilmente têm acesso a bens culturais. “Apesar de todas as dificuldades, temos tido momentos muito bons, principalmente do público que vê teatro pela primeira vez. São estas pequenas reacções que nos dão alento para continuar a desafiar todas as adversidades”, contam Sérgio Novo e Maria do Carmo.


Maria do Carmo Teixeira e Sérgio Novo



Apoios diminuem, actividades não param

Numa época em que os cortes orçamentais imperam por todas as áreas, mesmo naquelas onde o investimento deveria ser maior, a cultura continua a ser aquela que mais tem sofrido nos últimos tempos, fazendo dela o parente pobre de todos os governos e de grande parte das autarquias. “Para mim é inconcebível não haver uma aposta forte nesta área. Até porque a cultura está obrigatoriamente ligada à educação, sem cultura que abane os espíritos amorfos e acomodados que homens teremos amanhã?”, questiona Sérgio Novo, enquanto refere que na região a única empresa que tem apoiado continuamente a ASTA é a Assec Sim, devido a uma parceria existente entre as duas entidades. Quanto aos apoios governamentais, esses são diminutos, “dos apoios autárquicos... nem vale a pena falar”, conclui.
Nos últimos tempos há um facto curioso a salientar. Todas as associações com maior visibilidade se queixam da falta de apoios por parte das instituições e empresas da região. Em contraposição «as suas actividades não param, pelo contrário, são cada vez mais, e o mesmo se passa com ASTA. Em quatro anos de actividade a associação continua a destacar-se pela originalidade e diferença».


Retalhos de um percurso

Em 2000, na peça "E Por Vezes"

Em quatro anos a ASTA tem já um longo percurso no campo artístico, bem como na área das formações nas mais diversas artes. O primeiro espectáculo apresentado dá pelo nome de “E Por Vezes...” – Poesia Encenada (2000), onde a poesia, a música e arte de representar se conjugam. Tendo as honras de apresentar a Cerimónia de Encerramento do Campeonato Mundial de Andebol Universitário (2001), segue-se a peça infantil “O Pequeno Monstro”, da autoria de Jasmine Dubé, presenciada neste momento por mais de 2500 espectadores. Esta é uma peça de teatro que aborda as relações actuais entre pais e filhos, onde estes têm cada vez menos tempo para estar com as crianças. Mais do que uma vulgar peça de teatro, “O Pequeno Monstro” é uma lição de vida que deve ser vista por todos os adultos. Nesse mesmo ano transpõem para o palco o conto de Natal “Natal dos Brinquedos”, (2500 espectadores) da Walt Disney Productions, mais uma peça a pensar nos mais novos, onde os brinquedos ganham vida. Em 2002 a ASTA encanta com a performance/espectáculo “Canto de Sereias”, (1000 espectadores). Mais que uma vulgar peça de teatro, este espectáculo leva-nos de encontro ao conturbado mundo, onde a mulher é retratada de forma animalesca . Inquietante, perturbador e incómodo quanto baste, é assim “Canto de Sereias”, de Susana Torres Molina. Segue-se “Idiotas”, (800 espectadores), um espectáculo a partir do texto de um escritor covilhanense, onde se retrata a sociedade em que vivemos. Ainda em 2002, a ASTA prepara uma acção de sensibilização para os mais novos que dá pelo nome de “Super Maus” (2500 espectadores), onde o propósito, mais uma vez vai muito além de uma vulgar peça de teatro. Aqui procura-se alertar e persuadir os mais novos a não entrarem no perigoso mundo das dependências, droga, álcool e tabaco.
Durante este período a ASTA tem também realizado outro tipo de actividades como é o caso de “A Natureza tem Arte”, (2001/02) que tem como base os tradicionais campos de férias/trabalho. No entanto, esta actividade vai muito mais além, trata-se de um retiro artístico, que reuniu nestes dois anos vários jovens oriundos de diversos países da União Europeia, e que estabeleceu a ligação entre o mundo das artes, teatro, dança, música e vídeo, e os quatro elementos que constituem a natureza: ar, água, terra e fogo.


"Super Maus", foi apresentada ao público em 2002



O futuro hoje

De olhos postos no futuro e nas realidades dos nossos dias, a ASTA está desenvolver um projecto único e inovador. Dá pelo nome de “Teatro Virtual” e é uma ideia original de António Abernú, um dos elementos fundadores da associação. O projecto que por enquanto está no segredo dos deuses e dependente de apoios, vai juntar pela primeira vez o teatro às novas tecnologias da informação. O objectivo é criar um espectáculo de teatro tendo como suporte a internet.
A pensar na profissionalização, que terá lugar no próximo ano, aquando das comemorações do quinto aniversário, a ASTA está já a elaborar um significativo numero de actividades para 2005.



Para saber mais visite a página da ASTA: http://www.aasta.pt