Pôr em prática
um sonho não é fácil, mas igualmente
difícil é dar continuidade a esse sonho.
Quatro anos depois de iniciar as suas actividades, a ASTA
tem sofrido na pele os dissabores de quem se aventura
pelos caminhos da cultura. Tendo em conta que o seu trabalho
se desenvolve sobretudo numa das regiões tantas
vezes esquecidas por quem detém o poder de decidir,
essa tarefa torna-se ainda mais complicada.
Ignorada por uns, esquecida por outros, a verdade é
que esta associação sediada na Covilhã
tem conseguido sobreviver à custa de muito sangue,
suor e lágrimas.
Com o propósito de “colmatar algumas falhas
existentes no seio cultural da região e permitir
o acesso à cultura, especialmente ao teatro, a
todos, chegando ao ponto mais recôndito do interior”
é o objectivo da ASTA, salientam Maria do Carmo
Teixeira e Sérgio Novo, os rostos mais visíveis
da associação.
Os obstáculos por que têm passado são
muitos, mas até ao momento, com maior ou menor
dificuldade, todos têm sido transpostos. “Temos
partido muita pedra e continuamos a partir”, refere
Sérgio Novo, quando se fala das dificuldades em
estar no interior do País. No entanto referem que
a vontade de continuar é muita, sobretudo quando
verificam o ar de satisfação estampado nos
rostos de pessoas que dificilmente têm acesso a
bens culturais. “Apesar de todas as dificuldades,
temos tido momentos muito bons, principalmente do público
que vê teatro pela primeira vez. São estas
pequenas reacções que nos dão alento
para continuar a desafiar todas as adversidades”,
contam Sérgio Novo e Maria do Carmo.
Maria do Carmo Teixeira e
Sérgio Novo
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Apoios diminuem, actividades não param
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Numa época em que os cortes orçamentais
imperam por todas as áreas, mesmo naquelas onde
o investimento deveria ser maior, a cultura continua a
ser aquela que mais tem sofrido nos últimos tempos,
fazendo dela o parente pobre de todos os governos e de
grande parte das autarquias. “Para mim é
inconcebível não haver uma aposta forte
nesta área. Até porque a cultura está
obrigatoriamente ligada à educação,
sem cultura que abane os espíritos amorfos e acomodados
que homens teremos amanhã?”, questiona Sérgio
Novo, enquanto refere que na região a única
empresa que tem apoiado continuamente a ASTA é
a Assec Sim, devido a uma parceria existente entre as
duas entidades. Quanto aos apoios governamentais, esses
são diminutos, “dos apoios autárquicos...
nem vale a pena falar”, conclui.
Nos últimos tempos há um facto curioso a
salientar. Todas as associações com maior
visibilidade se queixam da falta de apoios por parte das
instituições e empresas da região.
Em contraposição «as suas actividades
não param, pelo contrário, são cada
vez mais, e o mesmo se passa com ASTA. Em quatro anos
de actividade a associação continua a destacar-se
pela originalidade e diferença».
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Em 2000, na peça "E Por Vezes"
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Em quatro anos a ASTA tem já um longo percurso
no campo artístico, bem como na área das
formações nas mais diversas artes. O primeiro
espectáculo apresentado dá pelo nome de
“E Por Vezes...” – Poesia Encenada (2000),
onde a poesia, a música e arte de representar se
conjugam. Tendo as honras de apresentar a Cerimónia
de Encerramento do Campeonato Mundial de Andebol Universitário
(2001), segue-se a peça infantil “O Pequeno
Monstro”, da autoria de Jasmine Dubé, presenciada
neste momento por mais de 2500 espectadores. Esta é
uma peça de teatro que aborda as relações
actuais entre pais e filhos, onde estes têm cada
vez menos tempo para estar com as crianças. Mais
do que uma vulgar peça de teatro, “O Pequeno
Monstro” é uma lição de vida
que deve ser vista por todos os adultos. Nesse mesmo ano
transpõem para o palco o conto de Natal “Natal
dos Brinquedos”, (2500 espectadores) da Walt Disney
Productions, mais uma peça a pensar nos mais novos,
onde os brinquedos ganham vida. Em 2002 a ASTA encanta
com a performance/espectáculo “Canto de Sereias”,
(1000 espectadores). Mais que uma vulgar peça de
teatro, este espectáculo leva-nos de encontro ao
conturbado mundo, onde a mulher é retratada de
forma animalesca . Inquietante, perturbador e incómodo
quanto baste, é assim “Canto de Sereias”,
de Susana Torres Molina. Segue-se “Idiotas”,
(800 espectadores), um espectáculo a partir do
texto de um escritor covilhanense, onde se retrata a sociedade
em que vivemos. Ainda em 2002, a ASTA prepara uma acção
de sensibilização para os mais novos que
dá pelo nome de “Super Maus” (2500
espectadores), onde o propósito, mais uma vez vai
muito além de uma vulgar peça de teatro.
Aqui procura-se alertar e persuadir os mais novos a não
entrarem no perigoso mundo das dependências, droga,
álcool e tabaco.
Durante este período a ASTA tem também realizado
outro tipo de actividades como é o caso de “A
Natureza tem Arte”, (2001/02) que tem como base
os tradicionais campos de férias/trabalho. No entanto,
esta actividade vai muito mais além, trata-se de
um retiro artístico, que reuniu nestes dois anos
vários jovens oriundos de diversos países
da União Europeia, e que estabeleceu a ligação
entre o mundo das artes, teatro, dança, música
e vídeo, e os quatro elementos que constituem a
natureza: ar, água, terra e fogo.
"Super Maus", foi
apresentada ao público em 2002 |
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De olhos postos no futuro e nas realidades dos nossos
dias, a ASTA está desenvolver um projecto único
e inovador. Dá pelo nome de “Teatro Virtual”
e é uma ideia original de António Abernú,
um dos elementos fundadores da associação.
O projecto que por enquanto está no segredo dos
deuses e dependente de apoios, vai juntar pela primeira
vez o teatro às novas tecnologias da informação.
O objectivo é criar um espectáculo de teatro
tendo como suporte a internet.
A pensar na profissionalização, que terá
lugar no próximo ano, aquando das comemorações
do quinto aniversário, a ASTA está já
a elaborar um significativo numero de actividades para
2005.
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