Alternative Nation
Camden Town, Londres
Por Catarina Moura
Faz sentido, se pensarmos
bem. Há destinos dentro de destinos, lugares dentro
de lugares, com vida própria, brilho próprio,
sítios que, por si mesmos, desprovidos de qualquer
contexto maior, valeriam sempre a pena visitar. Camden
Town é assim.
Como vivia em North London, Holoway mais especificamente,
costumava caminhar até lá todos os sábados
de manhã. Conhecera Camden ao visitar Londres pela
primeira vez e, agora que ali vivia e estudava, adorava
usufruir semanalmente daquele ambiente tão cheio
de indizível. Entrar em Camden é verdadeiramente
mergulhar num universo aparte, onde a diferença
é palavra de ordem. Aliás, diferença
não – alternativa. Camden não é
diferente, é alternativa. Uma saudável alternativa
à rigidez e imponência tão tipicamente
inglesas, ao céu e ao fato cinzento, ao lugar comum…
Excêntrica e cosmopolita, esta zona que outrora
era um imenso campo verde rasgado pelo Regent’s
Canal, é hoje em dia uma das zonas mais fervilhantes
e atraentes de uma cidade já de si tão carismática
e apelativa como Londres. A efervescência de Camden
faz-se sentir com maior intensidade ao fim de semana,
quando os seus muitos e característicos mercados,
as suas lojas, restaurantes, pubs, teatros, cinemas, discotecas,
são invadidos por uma massa humana colorida e plural,
feita não só de turistas mas também,
e sempre, de londrinos, ávidos de consumo e escape
à normalidade. Punks, góticos, hippies,
yuppies, fashion victims, todos se cruzam nesta freak-parade
onde só a invisibilidade parece não ser
tolerada. Muda-se a cor do cabelo, faz-se uma tatuagem,
escolhe-se mais um piercing, quando o assunto é
estilo não há restrições nem
pudor.
Sem dúvida fruto deste peculiar microclima, Camden
é um “must be there” para todos os
que, na cena musical e artística, se auto-proclamam
alternativos e independentes. Zona de fortes raízes
musicais, trazidas pelos imigrantes, irlandeses na sua
maioria, que abriram muitos dos ainda resistentes pubs
e dancing-clubs, é a partir dos anos 60, com o
Rock ‘n Roll, que Camden começa a impor-se
como um dos centros da música londrina, atraindo
gente de toda a cidade. E é ali que, nos anos 90,
vem nascer o Britpop, muito antes de contagiar o mundo
e se tornar mainstream. Na actualidade, parece ser o Jazz
que começa a marcar o tom ao norte de Londres…
O ar vanguardista que se respira em toda a zona coexiste
com a tendência “de tudo um pouco” característica
dos grandes mercados cosmopolitas. As roupas em segunda
mão das lojas escuras e labirínticas do
Stables Market coexistem com as peças vintage e
as desenhadas por jovens estilistas em início de
carreira. O artesanato e as antiguidades do Camden Lock
não desdenham da parafernália de “novos
e usados” do Camden Canal Market. A roupa street
wear e os acessórios ultra trendy do Camden Market
fazem jogo de cores com as flores, frutas e vegetais do
Inverness Street Market. Um universo aparte, sem dúvida.
Deve ser por isso que falam de uma certa sensação
“se não fui a Camden, não fui a Londres”…
Não diria tanto, mas um sábado em Camden
é, de facto, imperdível.
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