José Geraldes
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Nova
Europa
O alargamento
a mais dez estados é um desafio a todos os portugueses
até porque várias das novas nações
entram com condições de progresso muito
superiores às de Portugal.
A Europa dá um passo de gigante com o alargamento
a novos dez países. De 15, a actual União
Europeia passa a 25. E com a particularidade de integrar
estados que faziam parte do antigo bloco soviético
que se desmoronou como um castelo de cartas em 1989.
É a nova Europa que nasce. E já com tal
dimensão que nem os “ pais” fundadores
Robert Schuman e Jean Monnet sonhariam ver concretizada
em tão pouco espaço de tempo.
Jean Monnet tinha consciência deste facto: “A
construção europeia, como todas as revoluções
pacíficas, precisa de tempo: tempo de convencer,
tempo de adaptar os espíritos e de ajustar as coisas
para as grandes transformações”. Mas
foram precisos, apenas, pouco mais de 50 anos para a nova
realidade política europeia figurar no mapa do
mundo.
A “loucura” do discurso de Victor Hugo, em
1851, na Assembleia Nacional Francesa, ao prever uma nova
nação que se chamaria Estados Unidos da
Europa e a criação de uma moeda única
europeia, comprova que o escritor nada tinha de “visionário”.
Os factos estão aí a comprová-lo.
A nova Europa tem a virtualidade de não ser somente
um grande mercado de consumidores mas também uma
entidade política para regular, em termos decisivos,
os destinos do continente europeu e parceiro fundamental
na definição das posições
geo-estragégicas do mundo. Na construção
da paz e numa ordem internacional mais justa.
Daí ser necessário, como acentuou o Cardeal
Renato Martini, ex-Arcebispo de Milão, pôr
em prática os princípios de subsidariedade,
de solidariedade e de responsabilidade para que a nova
Europa cumpra a missão a que está destinada.
De subsidariedade porque o poder não pertence exclusivamente
aos órgãos supra-nacionais ou nacionais.
É preciso que todos os parceiros da sociedade participem
activamente, sejam regiões, entidades locais, corpos
intermediários, famílias e indivíduos.
O princípio da solidariedade é pedra de
toque para a construção da futura Europa
tendo sempre como objectivo o bem comum. O princípio
da responsabilidade fundamenta-se na correcta aplicação
dos princípios da subsidariedade e da solidariedade.
O conceito de Papa João Paulo II sobre a “família
das nações”, em discurso feito na
ONU, já lá vão dez anos, abre pistas
sobre a nova Europa. Diz o Papa : “A família
é, por natureza, uma comunidade fundada na confiança
recíproca, na ajuda mútua e no respeito
sincero. Numa verdadeira família, não há
dominação dos mais fortes. Os seus membros
mais fracos, precisamente em razão das suas debilidades,
são melhor acolhidos e servidos. Tais são
os sentimentos que, transpostos para o nível da
“famílias das nações”
devem prevalecer, mesmo antes do direito estrito, nas
relações entre os povos”.
Na discussão sobre a Constituição
Europeia, foi clara a intenção dos mais
fortes em riqueza económica e em população
quererem sobrepor-se aos mais pequenos e menos ricos.
Ou seja, a construção da Europa a duas velocidades.
Ora esta divisão contraria o conceito de “família
das nações” muito mais justo. E respeitador
de cada país.
Portugal tem defendido que os pequenos países não
alienem os seus direitos de participação
plena na construção europeia. O alargamento
a mais dez estados é um desafio a todos os portugueses
até porque várias das novas nações
entram com condições de progresso muito
superiores às de Portugal. E depois há a
distribuição dos fundos comunitários.
O País não pode adormecer. Nem perder tempo
para estar á altura da sua história. E ocupar
com dignidade o seu lugar na Europa, “sítio
do mundo - escreveu Agostinho da Silva – onde os
portugueses nunca estiveram”.
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