Uma das profissões
mais arrasadas pelo regime fascista. Assim define Fernando
Paulouro, director do Jornal do Fundão, o jornalismo.
Numa iniciativa levada a cabo pela Associação
Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI),
intitulada "Os 30 do 25", Paulouro sentou-se na
cadeira de docente durante duas horas e explicou aos alunos
do curso de Filosofia, os principais entraves colocados
pelo Estado Novo ao jornalismo.
“Os princípios do “News Speak”
- Propaganda ou Informação no Estado de Direito?”
foi o mote da palestra que abordou várias temáticas.
De entre todos os assuntos descritos pelo jornalista, aquele
que mais atenção despertou nos presentes foi
o papel que os órgãos de comunicação
social "tinham e têm na formação
das consciências pessoal e cívica", sublinha
Paulouro. O jornalismo feito sob a batuta da ditadura fascista
"era como um enredo de histórias codificadas
nas crónicas, nos artigos, nas fotos e nos cartoons".
O lápis azul da censura "era difícil
de enganar". Segundo do director do Jornal do Fundão,
a única forma de o conseguir era através de
textos onde a mensagem principal "estava escrita nas
entrelinhas".
"Uma resistência disfarçada"
Verdadeiros detectives, os leitores foram ganhando uma
capacidade "de decifrar aquilo que estava escrito
nas páginas dos jornais". Paulouro recorda
mesmo uma crónica, "género jornalístico
que conheceu o seu auge no tempo da ditadura", que
falava sobre um jogo de futebol entre o Sporting e o Porto,
mas "fazia referência ao golpe falhado do 16
de Março".
Estas e outras peripécias, eram "extremamente
redutoras", num País onde faltava quase tudo
para o homem crescer "culturalmente". Uma das
preocupações de qualquer regime e uma das
formas da sua manutenção "é
o silenciar a comunicação social".
Outrora como hoje, "o que não é noticiado
não existe", e muita coisa nunca foi dita,
refere Paulouro.
Um novo jornalismo
Uma das grandes conquistas alcançadas por Abril
foi a liberdade de expressão, "nas suas vertentes
de informar e ser informado", avança o jornalista.
Nos dias que correm, toda a comunicação
social assume um papel "relevante, na criação
de uma sociedade mais justa". A transposição
das barreiras geográficas e o acesso mais fácil
à imprensa "garantem uma maior estabilidade
aos cidadãos".
Questionado sobre o excesso de liberdade nos órgãos
de comunicação social, Paulouro responde
que "têm de ser os próprios jornalistas,
enquanto gestores da informação, a escolher
o que deve ou não ser notícia e como deve
ser abordada". Um dos grandes atractivos, "deste
contra-poder, é exactamente a sua capacidade de
pressão sobre todos os outros grupos sociais".
A possibilidade dos media arrastarem um grande número
de pessoas para uma determinada opinião, "tem
sido utilizada por muitos gestores, políticos e
afins".
Um dos grandes problemas que se colocam ao jornalismo
na actualidade "é a concentração
de poderes nas mãos de um grupo restrito de pessoas".
Na perspectiva de Fernando Paulouro, "a censura disfarçada
ainda não se verifica em toda a comunicação",
mas esse "contratempo" pode vir a ser instaurado
"sem que o público em geral" tome noção
desse facto.
Participar mais activamente na escolha e na selecção
da informação fornecida, "é
uma das formas de manter o jornalismo puro", defende
Paulouro. Os cidadãos que gozam de liberdade de
expressão, devem "exigir informações
verdadeiras" e não casos deturpados, como
acontecia antes de Abril.
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