Por Daniel Sousa e Silva*



As comunicações dos muitos oradores dos congressos eram dirigidas por 2 coordenadores por mesa temática

Centenas de investigadores de variados campos das ciências da comunicação estiveram presentes no III congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação – Sopcom – que decorreu nas instalações da Universidade da Beira Interior, na semana passada. O congresso fez aumentar substancialmente a taxa de ocupação das unidades hoteleiras da Covilhã.
Composto por dois congressos: o VI Lusocom – Federação das Associações Lusófonas de Ciências da Comunicação – e II Ibérico – Congresso Ibérico de Ciências da Comunicação – “o que realmente decorreu foi um 3 em 1”, como elucida José Paquete de Oliveira, presidente do Sopcom.
Manuel José Damásio, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, foi coordenador da mesa temática intitulada “Comunicação e Audiovisual”. A importância do tratamento multimédia de informação audiovisual, o realçar da forma como toda a comunicação audiovisual está a ser transformada através da integração de tecnologias da informação e da comunicação e a percepção de que o ensino audiovisual em Portugal vive um processo cada vez mais acelerado de convergência necessária e inevitável com as tecnologias multimédia foram alguns dos temas abordados na mesa a que Manuel José Damásio presidia. É apenas um exemplo do que se pôde ouvir, ver e debater.
Identidades, Teorias da Comunicação, Semiótica e Texto, Economia e Políticas da Comunicação, Retórica e Argumentação, Fotografia, Vídeo e Cinema, Novas Tecnologias, Direito e Ética da Comunicação, Estudos Culturais e de Género, Estética Arte e Design, Publicidade e Relações Públicas, Jornalismo, Opinião Pública e Audiências, Educação, Organização e Audiovisual, foram vastos e diversificados os temas que reuniram, no Pólo das Engenharias da UBI, investigadores da comunicação, essencialmente portugueses, brasileiros, espanhóis e alguns representantes de Moçambique, Angola e Guiné Bissau. Era impossível assistir a tudo, as comunicações decorriam em simultâneo em cinco anfiteatros.
Eduardo Namburete veio de Moçambique. “Nós somos um país que está a dar o primeiro passo no ensino e no estudo da comunicação. Na frente deste movimento está o Brasil, com 50 anos de experiência, e depois Portugal, com cerca de 25 anos”, conta. O investigador, que também foi coordenador de uma mesa temática nos congressos do Sopcom, vê o evento como uma “oportunidade de conhecer o trabalho dos colegas pesquisadores e transmitir também o que se vem desenvolvendo nos países”. Em relação à quase inexistente participação de pessoas vindas do continente africano, Namburete pensa que isso poderá mudar em próximos congressos, mas aponta o custo de deslocamentos como a causa de participações menos representativas de Moçambique.


Momento de uma das mais de 200 comunicações



Candidaturas excederam largamente número de comunicações

No espaço lusófono, os estudos jornalísticos são uma das áreas de maior vitalidade dentro das Ciências da Comunicação. O volumoso fluxo de trabalhos para congressos e outros eventos comprova-o. Neste VI Congresso Lusófono de Ciências da Comunicação, a mesa temática de Jornalismo teve de ser desdobrada em duas, para permitir a apresentação de vinte trabalhos entre os muitos que foram submetidos a avaliação.
No entender de Joaquim Fidalgo, da Universidade do Minho, os congressos funcionaram como um “encruzilhar de estradas, um ponto de encontro formal e informal nesta comunidade vastíssima que se entende falando cada um a sua língua, sendo uma oportunidade de se perceber que temos muitos pontos semelhantes, acabando por se criar muitas teias de ligação que se prolongam muito para além do congresso propriamente dito”. Quanto às comunicações, reconhece não possuir uma visão de conjunto, mas julga que houve “uma variedade muito grande”. O seu interesse recaiu especialmente sobre “alguns trabalhos empíricos muito interessantes acerca do funcionamento do jornalismo”, a sua área de investigação, já que “para além da teorias existentes começa a haver uma perspectiva portuguesa sobre o trabalho prático, sobre os problemas da comunicação social”.
O sociólogo e ex-ministro da Educação, Augusto Santos Silva, presente na sessão plenária intitulada “Comunicação e Identidades” que abriu o congresso da Lusocom, considera que o evento “pode ser acusado de muita coisa, mas de falta de diversidade não será certamente acusado”. Para Augusto Santos Silva falar de identidades é falar ao mesmo tempo de dinâmicas sociais. Fora destas as identidades “tornam-se presas dos vícios, tornam-se identidades assassinas”. “É preciso colocar as identidades dentro das dinâmicas sociais, mas como produtoras de efeitos”, afirma.
O debate, coordenado por Sónia Moreira, presidente da Intercom, instituição brasileira equivalente ao Sopcom, teve como ponto de partida o contributo dos media para a formação de uma identidade nacional. A temática das novelas e a influência que a televisão e a rádio desempenham na formação da identidade nacional e no fortalecimento das identidades regionais foram os assuntos que marcaram a sessão plenária apresentada pelos participantes brasileiros.


Lusocom dá lugar a Ibérico

António Fidalgo abriu os congressos

Dois dias para brasileiros, dois dias para espanhóis. Os portugueses sempre presentes. De novo o saltar de mesa em mesa. Agora a um ritmo mais calmo que nos dois primeiros dias. Menos gente, mais tempo para as comunicações e debates.
João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (AIND), faz um balanço “muito positivo” do congresso da Sopcom. “É o segundo que tenho oportunidade de assistir com alguma continuidade”. O presidente da AIND deu o ponto de vista da indústria de produção de comunicação nacional. “Encontrei muitas reflexões, muitos estudos que podem ajudar a melhorar o estado actual da imprensa.”
Com estes congressos, a indústria da comunicação, de acordo com João Palmeiro, “só pode beneficiar”. “Estar atento a muitas reflexões que aqui foram feitas e até apoiar o desenvolvimento de outras pode salvar muito dinheiro com um pequeno investimento, se se olhar para o dinheiro que se poupa a médio e longo prazo.”, argumenta.
Durante a tarde de sábado, decorreu a apresentação da Secção de Comunicação do Conselho da Cultura Galego, “um organismo público, mas independente do Estado, cuja função é fomentar e divulgar a cultura galega”, explica Xosé López. O coordenador desta secção de comunicação galega esperava destes congressos “um fórum de debate sobre questões da comunicação e correspondeu às expectativas que tinha”, apontou.” Todos os colegas com quem falei, em especial os vindos da Galiza, elogiaram o formato de organização, os conteúdos das comunicações, o grande esforço da universidade que o acolheu e o grande número de pessoas que estiveram a assistir”.
É precisamente na Galiza, em 2006, que se realizam os próximos congressos Lusocom e Ibérico em Santiago de Compostela e Pontevedra, respectivamente.
“Espaço Ibérico e Globalização” foi a temática escolhida para o encerramento do II IBÉRICO, reunindo nomes importantes do mundo académico e profissional, como Bernardo Diaz Nosty, director do Anuário de Comunicação em Espanha, Carlos Fernández Esteban da Universidade Complutense de Madrid e João Palmeiro.


A sala de secretariado dos congressos foi visita obrigatória



Impacto para a cidade

A procura nas unidades hoteleiras da Covilhã sofreu um acréscimo considerável nos dias dos congressos. De acordo com Luís Ferreira, director comercial do Hotel Turismo e Covilhã Park, quando comparado com o ano anterior, houve um aumento de 44 por cento no primeiro dia de congresso, ficando a 2 por cento da ocupação total, e de 35 por cento no dia seguinte. Luís Ferreira considera que se tratando de um evento com um numero elevado de participantes “é natural que o impacto causado nas unidades hoteleiras da região seja significativo”. Mas lembrou que “existem diversas ocasiões ao longo do ano com fluxos semelhantes ou mais significativos”. O director comercial é defensor da realização mais frequente deste tipo de eventos. “O impacto económico e social é bastante elevado”, defende.
Também a actividade de táxis teve algumas diferenças durante os dias de Sopcom. João Antunes, taxista, relata que “o movimento aumentou em dias que não é muito habitual”. O serviço de táxis da Covilhã está marcado pelas “corridas” com os estudantes da UBI nas proximidades do fim-de-semana, mas “a meio da semana passada, em especial ao final da tarde, houve muitos pedidos de transporte para os hotéis”.


Balanço “mais que positivo”

Paquete de Oliveira (à esquerda) não podia estar mais satisfeito

Para António Fidalgo, presidente da Comissão Executiva dos congressos, o balanço destes quatro dias de trocas científicas sobre a comunicação resume-se à expressão “missão cumprida”. O presidente da Unidade de Artes e Letras da UBI congratulou-se com a forma positiva como tudo decorreu, agradecendo a todos os participantes e aos membros da organização.
Quanto aos congressos da Sopcom, o objectivo, segundo José Paquete de Oliveira, presidente da instituição, é realizar-se a cada três anos. O próximo terá lugar em Aveiro. Para o presidente da Sopcom, “o congresso foi um êxito e superou todas as expectativas”. O sucesso, refere, estende-se não só à quantidade de participantes, cerca de 800, número “incomum em congressos de qualquer domínio científico”, mas também à qualidade científica, a avaliar “pelo balanço de colegas de várias nacionalidades que têm salientado a qualidade das comunicações apresentadas” durante os últimos quatro dias, o que significa, para Paquete de Oliveira “por um lado a afirmação cada vez maior das Ciências da Comunicação em Portugal e, por outro, um progresso conjunto a este nível”.
Paquete de Oliveira lamentou apenas o facto de, enquanto presidente da Sopcom e Lusocom, ter sido “obrigado” a estar presente numa série de reuniões formais e mesas paralelas que o impossibilitaram de “assistir a tudo o que desejava”.

*com Ana Maria Fonseca e Adriana Moreira