Centenas de investigadores
de variados campos das ciências da comunicação
estiveram presentes no III congresso da Associação
Portuguesa de Ciências da Comunicação
– Sopcom – que decorreu nas instalações
da Universidade da Beira Interior, na semana passada.
O congresso fez aumentar substancialmente a taxa de ocupação
das unidades hoteleiras da Covilhã.
Composto por dois congressos: o VI Lusocom – Federação
das Associações Lusófonas de Ciências
da Comunicação – e II Ibérico
– Congresso Ibérico de Ciências da
Comunicação – “o que realmente
decorreu foi um 3 em 1”, como elucida José
Paquete de Oliveira, presidente do Sopcom.
Manuel José Damásio, da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia, foi coordenador da mesa temática
intitulada “Comunicação e Audiovisual”.
A importância do tratamento multimédia de
informação audiovisual, o realçar
da forma como toda a comunicação audiovisual
está a ser transformada através da integração
de tecnologias da informação e da comunicação
e a percepção de que o ensino audiovisual
em Portugal vive um processo cada vez mais acelerado de
convergência necessária e inevitável
com as tecnologias multimédia foram alguns dos
temas abordados na mesa a que Manuel José Damásio
presidia. É apenas um exemplo do que se pôde
ouvir, ver e debater.
Identidades, Teorias da Comunicação, Semiótica
e Texto, Economia e Políticas da Comunicação,
Retórica e Argumentação, Fotografia,
Vídeo e Cinema, Novas Tecnologias, Direito e Ética
da Comunicação, Estudos Culturais e de Género,
Estética Arte e Design, Publicidade e Relações
Públicas, Jornalismo, Opinião Pública
e Audiências, Educação, Organização
e Audiovisual, foram vastos e diversificados os temas
que reuniram, no Pólo das Engenharias da UBI, investigadores
da comunicação, essencialmente portugueses,
brasileiros, espanhóis e alguns representantes
de Moçambique, Angola e Guiné Bissau. Era
impossível assistir a tudo, as comunicações
decorriam em simultâneo em cinco anfiteatros.
Eduardo Namburete veio de Moçambique. “Nós
somos um país que está a dar o primeiro
passo no ensino e no estudo da comunicação.
Na frente deste movimento está o Brasil, com 50
anos de experiência, e depois Portugal, com cerca
de 25 anos”, conta. O investigador, que também
foi coordenador de uma mesa temática nos congressos
do Sopcom, vê o evento como uma “oportunidade
de conhecer o trabalho dos colegas pesquisadores e transmitir
também o que se vem desenvolvendo nos países”.
Em relação à quase inexistente participação
de pessoas vindas do continente africano, Namburete pensa
que isso poderá mudar em próximos congressos,
mas aponta o custo de deslocamentos como a causa de participações
menos representativas de Moçambique.
Momento de uma das mais de
200 comunicações
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Candidaturas excederam largamente número
de comunicações
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No espaço lusófono, os estudos jornalísticos
são uma das áreas de maior vitalidade dentro
das Ciências da Comunicação. O volumoso
fluxo de trabalhos para congressos e outros eventos comprova-o.
Neste VI Congresso Lusófono de Ciências da
Comunicação, a mesa temática de Jornalismo
teve de ser desdobrada em duas, para permitir a apresentação
de vinte trabalhos entre os muitos que foram submetidos
a avaliação.
No entender de Joaquim Fidalgo, da Universidade do Minho,
os congressos funcionaram como um “encruzilhar de
estradas, um ponto de encontro formal e informal nesta
comunidade vastíssima que se entende falando cada
um a sua língua, sendo uma oportunidade de se perceber
que temos muitos pontos semelhantes, acabando por se criar
muitas teias de ligação que se prolongam
muito para além do congresso propriamente dito”.
Quanto às comunicações, reconhece
não possuir uma visão de conjunto, mas julga
que houve “uma variedade muito grande”. O
seu interesse recaiu especialmente sobre “alguns
trabalhos empíricos muito interessantes acerca
do funcionamento do jornalismo”, a sua área
de investigação, já que “para
além da teorias existentes começa a haver
uma perspectiva portuguesa sobre o trabalho prático,
sobre os problemas da comunicação social”.
O sociólogo e ex-ministro da Educação,
Augusto Santos Silva, presente na sessão plenária
intitulada “Comunicação e Identidades”
que abriu o congresso da Lusocom, considera que o evento
“pode ser acusado de muita coisa, mas de falta de
diversidade não será certamente acusado”.
Para Augusto Santos Silva falar de identidades é
falar ao mesmo tempo de dinâmicas sociais. Fora
destas as identidades “tornam-se presas dos vícios,
tornam-se identidades assassinas”. “É
preciso colocar as identidades dentro das dinâmicas
sociais, mas como produtoras de efeitos”, afirma.
O debate, coordenado por Sónia Moreira, presidente
da Intercom, instituição brasileira equivalente
ao Sopcom, teve como ponto de partida o contributo dos
media para a formação de uma identidade
nacional. A temática das novelas e a influência
que a televisão e a rádio desempenham na
formação da identidade nacional e no fortalecimento
das identidades regionais foram os assuntos que marcaram
a sessão plenária apresentada pelos participantes
brasileiros.
Lusocom dá lugar a Ibérico
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António Fidalgo abriu os congressos
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Dois dias para brasileiros, dois dias para espanhóis.
Os portugueses sempre presentes. De novo o saltar de mesa
em mesa. Agora a um ritmo mais calmo que nos dois primeiros
dias. Menos gente, mais tempo para as comunicações
e debates.
João Palmeiro, presidente da Associação
Portuguesa de Imprensa (AIND), faz um balanço “muito
positivo” do congresso da Sopcom. “É
o segundo que tenho oportunidade de assistir com alguma
continuidade”. O presidente da AIND deu o ponto
de vista da indústria de produção
de comunicação nacional. “Encontrei
muitas reflexões, muitos estudos que podem ajudar
a melhorar o estado actual da imprensa.”
Com estes congressos, a indústria da comunicação,
de acordo com João Palmeiro, “só pode
beneficiar”. “Estar atento a muitas reflexões
que aqui foram feitas e até apoiar o desenvolvimento
de outras pode salvar muito dinheiro com um pequeno investimento,
se se olhar para o dinheiro que se poupa a médio
e longo prazo.”, argumenta.
Durante a tarde de sábado, decorreu a apresentação
da Secção de Comunicação do
Conselho da Cultura Galego, “um organismo público,
mas independente do Estado, cuja função
é fomentar e divulgar a cultura galega”,
explica Xosé López. O coordenador desta
secção de comunicação galega
esperava destes congressos “um fórum de debate
sobre questões da comunicação e correspondeu
às expectativas que tinha”, apontou.”
Todos os colegas com quem falei, em especial os vindos
da Galiza, elogiaram o formato de organização,
os conteúdos das comunicações, o
grande esforço da universidade que o acolheu e
o grande número de pessoas que estiveram a assistir”.
É precisamente na Galiza, em 2006, que se realizam
os próximos congressos Lusocom e Ibérico
em Santiago de Compostela e Pontevedra, respectivamente.
“Espaço Ibérico e Globalização”
foi a temática escolhida para o encerramento do
II IBÉRICO, reunindo nomes importantes do mundo
académico e profissional, como Bernardo Diaz Nosty,
director do Anuário de Comunicação
em Espanha, Carlos Fernández Esteban da Universidade
Complutense de Madrid e João Palmeiro.
A sala de secretariado dos
congressos foi visita obrigatória |
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A procura nas unidades hoteleiras da Covilhã sofreu
um acréscimo considerável nos dias dos congressos.
De acordo com Luís Ferreira, director comercial
do Hotel Turismo e Covilhã Park, quando comparado
com o ano anterior, houve um aumento de 44 por cento no
primeiro dia de congresso, ficando a 2 por cento da ocupação
total, e de 35 por cento no dia seguinte. Luís
Ferreira considera que se tratando de um evento com um
numero elevado de participantes “é natural
que o impacto causado nas unidades hoteleiras da região
seja significativo”. Mas lembrou que “existem
diversas ocasiões ao longo do ano com fluxos semelhantes
ou mais significativos”. O director comercial é
defensor da realização mais frequente deste
tipo de eventos. “O impacto económico e social
é bastante elevado”, defende.
Também a actividade de táxis teve algumas
diferenças durante os dias de Sopcom. João
Antunes, taxista, relata que “o movimento aumentou
em dias que não é muito habitual”.
O serviço de táxis da Covilhã está
marcado pelas “corridas” com os estudantes
da UBI nas proximidades do fim-de-semana, mas “a
meio da semana passada, em especial ao final da tarde,
houve muitos pedidos de transporte para os hotéis”.
Balanço “mais que positivo” |
Paquete de Oliveira (à esquerda) não
podia estar mais satisfeito |
Para António Fidalgo, presidente da Comissão
Executiva dos congressos, o balanço destes quatro
dias de trocas científicas sobre a comunicação
resume-se à expressão “missão
cumprida”. O presidente da Unidade de Artes e Letras
da UBI congratulou-se com a forma positiva como tudo decorreu,
agradecendo a todos os participantes e aos membros da
organização.
Quanto aos congressos da Sopcom, o objectivo, segundo
José Paquete de Oliveira, presidente da instituição,
é realizar-se a cada três anos. O próximo
terá lugar em Aveiro. Para o presidente da Sopcom,
“o congresso foi um êxito e superou todas
as expectativas”. O sucesso, refere, estende-se
não só à quantidade de participantes,
cerca de 800, número “incomum em congressos
de qualquer domínio científico”, mas
também à qualidade científica, a
avaliar “pelo balanço de colegas de várias
nacionalidades que têm salientado a qualidade das
comunicações apresentadas” durante
os últimos quatro dias, o que significa, para Paquete
de Oliveira “por um lado a afirmação
cada vez maior das Ciências da Comunicação
em Portugal e, por outro, um progresso conjunto a este
nível”.
Paquete de Oliveira lamentou apenas o facto de, enquanto
presidente da Sopcom e Lusocom, ter sido “obrigado”
a estar presente numa série de reuniões
formais e mesas paralelas que o impossibilitaram de “assistir
a tudo o que desejava”.
*com Ana Maria Fonseca e Adriana
Moreira
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