Fundão
Água ao domicílio chega aos Enxames
A rede pública
de água passou a abranger todas as freguesias do
concelho do Fundão. Uma aspiração
antiga da população dos Enxames que foi
sendo adiada.
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Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi
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“O meu maior gosto era que os meus pais estivessem
vivos para ver a água chegar à terra e ver
o que tem acontecido na freguesia nos últimos dois
anos”, diz Maria José Afonso. Antigamente
ia buscar o precioso líquido com um cântaro
ao pinhal. Nos tempos mais recentes abastecia-se “num
furo que é de várias pessoas” e foi
preciso chegar aos 65 anos para ver os Enxames com água
da rede pública, a única freguesia do concelho
do Fundão que não estava ainda dotada com
este serviço.
A inauguração foi feita na manhã
do último domingo, 18, pelo presidente da Câmara
do Fundão, Manuel Frexes, durante a visita do executivo
à aldeia, que coincidiu com as festividades da
senhora do Fastio, padroeira da terra. O depósito
tem capacidade para 150 mil litros e a água é
captada em terrenos da Portucel na encosta norte da Gardunha,
na zona do Malagão, perto do Alcaide.
Devido às características da povoação,
bastante dispersa e sem um aglomerado de casas, os 800
habitantes dos Enxames, a cerca de 10 quilómetros
do Fundão, tiveram de esperar até ao século
XXI para ter água canalizada ao domicílio.
Neste momento a água ainda não corre nas
torneiras das casas, mas a rede permite abastecer 80 por
cento da população. Basta agora fazer a
requisição dos contadores para que se faça
a ligação das tubagens. Segundo o presidente
da Junta, José Paulino, os casos que ficam muito
afastados do centro da freguesia serão analisados
posteriormente.
Até agora fazer uma casa implicava, quase necessariamente,
fazer um furo. E era assim que se fazia a captação
de água. “Quem não tem um furo tem
um poço, ou então recorre ao dos vizinhos”,
conta Alice Monteiro, para quem a grande vantagem da água
da rede pública está em ser controlada e
dar garantias do que se bebe. O que não acontece
com a água dos furos, a maioria não aconselhável
para ingerir. Em muito devido também à falta
de saneamento básico, de que a freguesia ainda
não dispõe.
Falta o saneamento básico
“Aqui as pessoas têm um furo e uma fossa,
no mesmo quintal, e por vezes a água fica imprópria.
Nesse caso tem que se ir a um vizinho”, explica
Alice Monteiro. Esta é outra necessidade básica
que a população gostava de ver resolvida,
tal como José Paulino, que também alerta
para o problema. “É indispensável,
até para evitar a poluição das linhas
de água, porque aqui toda a gente tem uma fossa
ao critério de cada”. O presidente da Junta
espera que as obras possam começar ainda no decorrer
do seu mandato, que termina em Outubro do próximo
ano. Mas, segundo Manuel Frexes, esse momento deverá
ainda demorar “mais um mandato”. Para já,
e no âmbito da revisão do Plano Director
Municipal (PDM), é necessário definir o
perímetro urbano da aldeia, um trabalho que nunca
foi feito.
O autarca fundanense lembra que o saneamento está
concessionado às Águas do Zêzere e
Côa e adianta que “os responsáveis
ambientais disseram que isso necessita de uma malha urbana
mais consolidada”. Manuel Frexes diz que a intenção
está numa fase de estudo e sublinha que “no
mapa de tratamento de afluentes das Águas do Zêzere
e Côa os Enxames nem sequer aparecem”. “Vamos
apostar no planeamento correcto e a partir daí
fazer o planeamento das redes que irão servir o
território urbano. É necessário que
esta terra comece a ganhar densidade em termos urbanísticos,
porque não é possível continuar a
crescer deste modo”, salienta.
Durante a visita foram ainda inauguradas quatro ruas.
Seis quilómetros de caminhos que foram asfaltados
e permitem às pessoas chegarem de carro até
às suas casas sem problemas. No total as intervenções
na localidade representam um investimento de 500 mil euros
e que se traduzem, no entender de Manuel Frexes, num “passo
decisivo na melhoria da qualidade de vida das pessoas
desta terra”.
Para José Paulino fica ainda a faltar a construção
de um centro de dia na Liga dos Amigos dos Enxames e um
polidesportivo, “porque a freguesia tem muitos jovens,
só no primeiro ciclo andam 26”. Uma situação
que deixa Manuel Frexes “satisfeito por saber que
a terra está a crescer”. “É
um sintoma claro de rejuvenescimento e vitalidade que
nos traz alegria”.
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