Para se chegar à Guarda, partindo da Covilhã, ainda é preciso uma hora e um quarto
Ligação Covilhã-Guarda
Automotora renovada, mas tão lenta quanto antes

Composição nova em linha velha. A automotora que ligava Covilhã e Guarda foi substituída por uma composição moderna e as pontes foram reforçadas. O tempo de viagem é que não muda.


Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


Oito meses depois de terem sido interrompidas para obras de melhoramento na linha, as viagens de automotora entre a Covilhã e a Guarda foram retomadas na última sexta-feira, 16.
O nova automotora é mais confortável. Tem assentos estofados, é maior e até sistema sonoro que permite ouvir rádio durante as viagens. Luxos que os utentes agradecem mas que não vêm alterar, em nada, o tempo médio das viagens. É que, apesar das obras na linha e da renovada carruagem, a viagem entre as duas cidades continua a demorar cerca de uma hora e um quarto. “O comboio é novo mas a linha é velha”, comenta um passageiro. De qualquer modo, continua, “ainda é melhor do que viajar de autocarro”.
Aliás, durante os meses em que a linha esteve interrompida (desde Agosto de 2003), a maioria dos utentes regulares, teve que fazer a viagem num autocarro que a CP colocou à disposição. Mas as recordações não são as melhores. “Já andava farto daquilo”, comenta António Dias, um habituée da antiga automotora. Com 61 anos, conta que há mais de 20 usa o comboio regularmente para se deslocar entre a Guarda e a Covilhã. “Não há nada melhor para estas ‘aldeolas’ todas que ficam pelo meio”. Da anterior composição também não guarda muitas saudades. “Era fria no Inverno e quente no Verão e chegava a chover cá dentro”, explica. E agora? “Agora parece que viajamos de primeira classe”. O tempo de viagem, que se mantém, apesar das melhorias, também não incomoda o “veterano”. António Dias não se importa. Diz que tempo é coisa que não lhe falta. Mas, atira, “para os mais apressados, isto deve ficar mais rápido quando acabarem as obras em definitivo”.
Com efeito, apesar da linha já estar aberta, e se efectuarem seis viagens diariamente (três em cada sentido), ainda não está tudo feito. As obras continuam em algumas das pontes que asseguram o percurso e só deverão estar prontas em 2005.
O NC fez, na sexta-feira, a segunda viagem do dia entre a Guarda e a Covilhã. Um percurso que contou com poucos viajantes. Alguns explicam que, apesar de raramente encher, “normalmente há mais passageiros, principalmente às sextas-feiras, com os estudantes da universidade. Só que poucos sabiam que hoje já havia comboio”. E mesmo os que foram avisados, remata, “não acreditaram”.
O maior conforto em relação à antiga composição Allan, com mais de cinquenta anos, é notório. No entanto, e apesar do reforço das pontes, a locomotiva continua a atravessá-las a 10 quilómetros hora, e a velocidade máxima raramente ultrapassa os 50 quilómetros hora. Para além disso, queixam-se alguns passageiros, o “barulho é o mesmo e continua a abanar por todo o lado”. Ainda assim, a opinião é unânime, “é o melhor meio de transporte entre a Guarda e a Covilhã”.

Guarda e Covilhã mais próximas por estrada

Mesmo que no final das obras a linha entre Guarda e Covilhã possibilite uma viagem mais curta em termos de tempo, muito dificilmente conseguirá ultrapassar os tempos conseguidos por estrada. O NC fez a viagem entre as duas cidades pela Nacional 18 e pela A23 e constatou que, em qualquer dos casos, o tempo de viagem é muito mais curto, mesmo cumprindo todos os limites de velocidade impostos pela sinalização. Pela N18, em que o automobilista não pode exceder os 90 quilómetros por hora, e em que a existência de inúmeras povoações e “zonas perigosas” obriga a abrandar até aos 70 e aos 50. Ainda assim, foi possível efectuar a viagem entre as estações de caminhos de ferro das duas cidades em 45 minutos. Tempo que diminui substancialmente quando a via utilizada é a auto-estrada. Pela A23, e mais uma vez cumprindo os limites de velocidade que obrigam a abrandar para os 80 quilómetros por hora nos túneis da Benespera, a viagem não demora mais do que 32 minutos. Isto, saindo da auto-estrada no nó Covilhã-Norte.