António Fidalgo

Formação Profissional


É opinião praticamente generalizada e comum de que um dos graves problemas de Portugal é o défice de formação profissional. Temos um ensino básico e secundário que desemboca apenas no ensino superior, não oferecendo alternativas profissionais a quem não se sinta vocacionado para os estudos. Hoje ninguém duvida que foi um erro grave ter-se acabado com as escolas industriais e comerciais. A uniformização de todo o ensino que se seguiu levou a um perigoso nivelamento por baixo, de que os fracos resultados dos alunos portugueses nas avaliações internacionais são manifestação clara.
Apesar do muito dinheiro que se tem gasto na educação, os resultados estão muito aquém do desejado e mesmo do exigido. Continuamos a ter uma população com um dos piores níveis de formação escolar e profissional em toda a Europa, o abandono escolar é preocupante, e o desempenho dos que terminam os estudos não é de modo algum satisfatório. A educação e a formação são, e têm de continuar a ser, prioridades nacionais.
Mas não é deitando mais dinheiro para cima dos problemas que estes se resolvem. Com efeito, há quem julgue, sobretudo dentro da classe professores, que a solução está em contratar mais docentes, diminuir o número de alunos por turma, dotar as escolas de mais meios informáticos, de conseguir melhores infra-estruturas. Trata-se de um engano, quando não por vezes de um embuste.
O problema é, sobretudo, de natureza cultural; reside na sociedade em geral, e nos pais e nos alunos em particular. A formação é um bem e como bem que é deve ser visto como tal. Não se pode ver a formação como um frete que uns senhores de Bruxelas impõem às famílias e aos desempregados portugueses, frete que tem de ser pago aos formandos. O dinheiro abundante que entrou em Portugal pelos fundos comunitários deu azo a muita palhaçada formativa que de verdadeira formação escolar e profissional nada tinha. Constituíram-se à pressa empresas de formação a fim de apanhar facilmente os dinheiros de Bruxelas. Claro que o dinheiro desapareceu e formação que era suposto ter lugar nunca aconteceu. A culpa obviamente é só nossa, do maldito facilitismo que caracteriza a sociedade portuguesa.
Promova-se a formação profissional, sim, apoiem-se como deve ser as novas escolas profissionais, enquadrem-se estas devidamente no terceiro ciclo do ensino básico e no ensino secundário, mas não se esbanje o dinheiro em cursos de formação profissional que de nada têm nem de formação, nem de profissional.
E fique sempre na mente de todos, que a melhor de todas as formações profissionais é, antes de tudo o mais, uma escola básica bem feita, o saber ler e escrever bem.