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Promoção,
ciência e ensino superior
Nos últimos anos, têm sido criados departamentos
em universidades e politécnicos, cujos objectivos
são a promoção a nível mercadológico
(venda de cursos) e/ou de imagem corporativa (relações
públicas). Em algumas instituições
de ensino superior, existem políticas planificadas
de marketing e relações públicas,
mas noutras persiste uma tímida informação
pública, uma persuasão intuitiva e pouca
ou nenhuma comunicação entre dirigentes,
docentes, assessores, públicos e clientes.
Os principais motivos que explicam a ausência de
ciência na promoção de universidades
e politécnicos são de tipo administrativo,
académico e profissional. Entre todas as causas,
o nepotismo e a “cunha” constituem verdadeiras
pragas no mercado de emprego e entraves à imparcialidade
na contratação de profissionais competentes.
Um assessor de relações públicas/marketing
pode ter formação geral, formação
especializada, pós-graduação, mestrado
e/ou doutoramento, mas de nada servem as qualificações,
se não existir equidade profissional e dominar
“a lei da selva”.
Na área administrativa, a carência de recursos
humanos qualificados, especializados e técnicos,
a escassez de orçamentos significativos para a
política de marketing/relações públicas
e os recentes cortes orçamentais na administração
pública portuguesa (motivados pela crise das finanças
públicas) condicionam a promotion das instituições
de ensino superior.
Em termos académicos, a estrutura hierárquica
elitista, baseada na autoridade científica dos
dirigentes académicos restringe, frequentemente,
o reconhecimento das competências gerais e específicas
dos assessores, considerados como “técnicos
e de menor valor”. A pouca ou nenhuma informação
sobre as vantagens do marketing e das relações
públicas no ensino superior, bem como a falta de
especialistas com competências avançadas
de ciência aplicada são consequências
da fraca legitimação profissional e da tímida
maturidade científica do marketing e das relações
públicas em Portugal. As instituições
de ensino superior originariamente ensinam, transmitem
e difundem o conhecimento universal (na Idade Média
a Universidade admitia todos aqueles que quisessem aprender,
excepto os marginais e os doentes graves, com o objectivo
ético de ensinar todas as ciências) e o conhecimento
técnico (Politécnico), mas em muitos casos
não promovem a investigação científica
e especializada em matéria de relações
públicas e/ou marketing – paradoxo “teoria
sem prática”. Paralelamente, um dos efeitos
nefastos das leis da autonomia nas instituições
de ensino superior e do poder dos respectivos lobbies
consiste na inexistência de avaliação
das práticas de marketing e relações
públicas, por entidades externas independentes,
facto que permitiria criar mecanismos de auto e hetero
regulação.
As causas centrais da insuficiente promoção
das universidades e dos politécnicos, no âmbito
profissional, manifestam-se no triângulo burocracia-rotina-cumplicidade.
Cada ângulo é um indicador anti-profissional
de ineficiência, falta de excelência e trabalho
“em cima do joelho” ou “seat-of-the-pants”.
O ângulo burocracia interage com a rotina, resultando
em práticas promocionais com deficiente cultura
científica e persistente amadorismo. Em algumas
instituições de ensino superior, o chamado
assessor (ou técnico) de relações
públicas/marketing não é mais do
que um mero secretário de direcção
que pratica acções burocráticas de
rotina (administração, logística
e protocolo), as quais se traduzem na escassez de tempo
para a planificação estratégica.
Invariavelmente, quando existe disponibilidade de tempo
para a planificação de estratégias
científicas de relações públicas/marketing
não se verificam, por vezes, preocupações
de ciência aplicada, por parte dos dirigentes académicos.
No ângulo rotina, o mecanicismo e a improvisação
nas instituições de ensino superior impedem
a criação de uma cultura corporativa de
responsabilidade social que valorize o planeamento estratégico.
O individualismo, associado ao laxismo e contrário
aos valores originários de universalidade, é
um entrave ao consenso e ao trabalho cooperativo (actualmente
o ensino superior convive, em alguns casos, com o anonimato
entre dirigentes, estudantes e funcionários).
O ângulo cumplicidade é constituído
por elementos psico-sociais. O nepotismo garante a contratação
de quadros superiores (ou técnicos) sem formação
científica geral, avançada e/ou comprovada
em matéria de relações públicas
e marketing, desde que possuam relações
de proximidade familiar com dirigentes de instituições
de ensino superior. A “cunha” permite que
quadros superiores (ou técnicos) sem formação
científica geral, avançada e/ou comprovada
em matéria de relações públicas
e marketing sejam contratados, devido à proximidade
afectiva ou cumplicidade de favores com dirigentes de
instituições de ensino superior.
Pelos motivos apresentados, anteriormente, justifica-se
a existência de projectos de consultoria realizados
por estudantes, licenciados, pós-graduados, mestres
e doutores capazes de contribuir para a transformação
da realidade social, a gestão por objectivos e
a excelência no marketing e nas relações
públicas das instituições de ensino
superior portuguesas. Para promover o ensino superior
é imprescindível saber, saber fazer e poder
fazer. Formulo votos, para que as universidades e os politécnicos
sejam receptivos à assessoria científica
em marketing e relações públicas.
* Licenciado pela UBI
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