José Geraldes

Cobardia de Pilatos


Com o actual regime fiscal, os divorciados pagam menos impostos Pilatos com a atitude tomada tornou-se menos livre e menos verdadeiro. Quando se têm responsabilidades, devem-se assumir com toda a frontalidade. E coragem.

“Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou aquele que fora metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam”.
A narrativa da Paixão do evangelista Lucas que era médico, anota, com rigor, a decisão de Pôncio Pilatos, o governador romano da Palestina.
Nenhum pormenor falha à observação de Lucas. Pilatos cede perante a multidão, quer para libertar um assassino confesso, Barrabás, quer para oferecer-lhe Cristo e ser assim crucificado.
A multidão ulula, grita, vocifera e Pilatos enche-se de medo. Não deseja ser mal visto. E, por nada deste mundo quer perder o seu lugar de governador. Procura estabelecer um jogo de equilibrismo.
Pilatos é um homem dividido. Faz tudo para salvar Jesus mas não está nos seus propósitos desagradar à multidão. É a figura do cobarde que não assume as suas responsabilidades no momento próprio.
A lógica que Pilatos adopta perante Jesus, baseia-se numa fuga sistemática em se mostrar um homem vertical e coerente. De “antes quebrar do que torcer” como dizia Sá de Miranda.
Veja-se o seu comportamento. Primeiro quer descartar-se de Jesus. E manda-o para Herodes com quem estava de relações cortadas. Não deixa de ser irónico que Pilatos se reconcilia com o seu feroz inimigo. “ Herodes e Pilatos que eram inimigos, ficaram amigos nesse dia” – regista Lucas.
A seguir usa todas as artimanhas para serem os responsáveis judeus a libertar Jesus. Não consegue este intento. Então, procura dar a impressão de agradar-lhes, sendo ele a decretar a liberdade de Cristo.
Em última instância, dá a escolher ao povo entre Barrabás e Jesus. Pilatos está convencido de que o povo vai pedir a libertação de Jesus por incarnar os seus interesses.
O que ele não esperava, é que iria dar-se precisamente o contrário. Pilatos entra em pânico. Tenta ainda virar a multidão a seu favor. Fala de novo. Mas sem resultado. É um inocente que vai ser condenado.
E o governador que queria livrar-se de responsabilidades, sente-se fraco e faz o que a multidão pede. Ele não quer perder o seu lugar. Sabe que em Roma há muitos que desejam as suas funções. E, depois, que dirá o imperador Tibério se não for simpático para com a multidão? A intriga levá-lo-ia à queda. E o seu gesto de cobardia ficou registado para todo o sempre.
Pilatos com a atitude tomada tornou-se menos livre e menos verdadeiro. Quando se têm responsabilidades, devem-se assumir com toda a frontalidade. E coragem.
Em contraponto com Pilatos, Jesus cumpre a sua missão em toda a liberdade e assumindo as fraquezas de todos homens. Ele é o homem da coragem, da verdade, da justiça. Ao ódio responde com o perdão e a todos aponta como critério de vida, o amor. Amor que o leva a dar a sua própria vida.
Paulo de Tarso escreverá mais tarde, em fórmula lapidar, que Jesus, sendo de condição divina, se auto-humilhou não se valendo da sua igualdade com Deus. E assim aceitou a morte pela cruz. Para quê ?
Para que desta morte os homens tivessem uma vida nova. E nascesse um mundo novo. Onde reine a paz, a liberdade, a santidade, a verdade, a justiça e o amor. É este o sentido da Páscoa.