António Fidalgo
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A UBI e a
Comunidade Urbana
O fracasso na constituição da comunidade
urbana da Beira Interior, que juntasse os distritos de
Castelo Branco e da Guarda, é um revés também
para a UBI. Porquê um revés, perguntar-se-á,
se a Universidade é frequentada por alunos de todos
os pontos do País, se o seu financiamento provém
fundamentalmente do orçamento do Estado, e o regionalismo
é o pior defeito de uma universidade? À
primeira vista, a constituição administrativa
e política da Beira Interior seria algo perfeitamente
indiferente à UBI. Vistas melhor as coisas, porém,
a UBI prende-se à região em que se insere
e os desaires da região reflectem-se no desenvolvimento
da Universidade.
A UBI é uma universidade concreta, situada num
contexto geográfico bem determinado, que partilha
os destinos da envolvente económica, social, cultural
e política. O passo de gigante que a UBI deu em
1998 e 2000 ao criar as novas faculdades de Ciências
da Saúde e de Arte e Letras gozou claramente da
intenção do Governo de António Guterres
de avançar com a criação das regiões
em Portugal, em concreto com a da Beira Interior. Houve
o propósito geral de desenvolver o Interior beirão
e a UBI aproveitou a boa vontade existente para alargar
e consolidar o número e a natureza das suas licenciaturas.
As universidades jovens precisam de um ambiente político
e administrativo que lhes seja favorável e com
o qual haja identificação, como acontece
com as universidades do Minho, do Algarve, dos Açores
e da Madeira. Ora a Beira Interior continua a ser um conceito
programático, mas ainda vazio do ponto de vista
político. Falta-lhe, além do mais, um sólido
substracto de realizações concretas. Além
da UBI, que transporta no próprio nome o desígnio
da formação da região, poucas entidades
assumem a Beira Interior como princípio, intenção
ou estratégia.
Pode-se dizer, é verdade, que a UBI também
tem responsabilidades no fracasso da constituição
da Beira Interior. Certamente não será apenas
por bairrismo de Castelo Branco ou da Guarda ou de qualquer
outro concelho da região, que a UBI é vista
como universidade da Covilhã. Houvesse uma maior
identificação da região, de Vila
Velha de Rodão a Figueira de Castelo Rodrigo, com
a UBI, e talvez hoje os dois distritos estivessem integrados
na mesma comunidade urbana.
Os processos de identificação, de criação
de uma identidade comum, são lentos, muito lentos,
e sujeitos a muitas contingências. É evidente
que a Auto-Estrada da Beira Interior é crucial
para juntar populações, para criar interesses
comuns, mas por si não basta de modo algum. É
preciso que haja uma vontade comum de união, de
conjugação de esforços. Neste momento,
porém, as rivalidades, os bairrismos, os sentimentos
feridos de pretensas superioridades e inferioridades,
falam mais alto que os melhores argumentos a favor da
união dos dois distritos.
A UBI pode e deve ter um papel activo na promoção
da Beira Interior. Não só porque o próprio
nome a isso a obriga, mas porque uma região próspera,
coesa social, económica e politicamente, é
uma condição essencial para o seu desenvolvimento.
Quanto mais a UBI der à região envolvente,
mais dela lucrará em troca. A influência
é recíproca. É disso que todos devem
tomar consciência. Ora a melhor forma de a UBI contribuir
para a sua área envolvente é, antes de mais,
ser uma Universidade de qualidade, reconhecida e respeitada
como tal por todos, de perto e de longe. O reconhecimento
e o respeito aproximam. Fora a UBI já a universidade
que desejamos ser, de grande renome dentro e fora de fronteiras,
e com certeza que todos do Tejo ao Douro gostariam de
pertencer à região da Beira Interior, à
região da UBI. Assim sendo, o que a UBI deve continuar
a fazer é procurar a excelência do ensino
e da investigação e, desse modo, promover
a Beira Interior. Por outro lado, a UBI deve contribuir
muito activamente para o desenvolvimento científico,
tecnológico, social e económico da região.
Assumir a nova noção de universidade, a
de ser um alfobre vivo de iniciativas empresariais, e
rejeitar a ideia antiga de universidade, desligada do
seu meio ambiente.
Com o fracasso da comunidade urbana perdeu-se um batalha,
é certo. Mas não significa que se tenha
perdido a guerra. Para os que acreditam que do Tejo ao
Douro somos beirões, há boas razões
para persistir na ideia de uma Beira Interior alargada.
Temos dois politécnicos, uma universidade, uma
excelente via de comunicação, a A-23, a
Auto-Estrada da Beira Interior, temos uma zona turística
de grande valor, a Serra de Estrela. Haja vontade de cada
um e de todos para chegar à excelência no
que fazemos e, então, da proximidade surgirão
a união e a região.
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