Urbi et Orbi-
Qual foi o seu percurso na Universidade até chegar
agora a Vice-Reitor?
João Queiroz - O meu descanso e a minha
paz em termos de investigação e trabalho
docente acabaram no dia em que fiz o doutoramento. Acho
que só nessa altura me integrei completamente na
Universidade.
Logo que fiz o doutoramento fui convidado para secretário
do Conselho Científico, era dos mais novos na altura,
entre 96 e 98. Apresentei uma proposta para a criação
da licenciatura em Bioquímica. Isto foi em 97 e
a licenciatura abriu em 98.
Entretanto assumi a direcção do Departamento
de Química com o objectivo de levar a bom termo
o curso de Bioquímica. Já então considerei
que o curso tinha de ter uma componente na área
da saúde. Introduzimos várias cadeiras que
hoje fazem a intersecção com a Medicina.
Estive durante quatro anos à frente do Departamento,
sensivelmente o tempo de implantação do
curso.
Depois disso fiz as provas de agregação
em Bioquímica em 2002, e entretanto surgiu a oportunidade
de vir para a Faculdade de Ciências da Saúde,
porque também já era pró-reitor desde
2000 para a avaliação e sucesso escolar.
Nesse ano surgiu o convite para vir ajudar a instalar
o curso de Medicina quer em termos de contratação
de docentes, quer de recursos humanos e materiais. Depois,
de 2002 a 2004 fui Pró-Reitor para a Saúde.
U@O - Tem sido um desafio aliciante até
agora?
J.Q. - Na verdade, não me tem dado muito
sossego, mas gosto muito do desafio. Entrei devagarinho,
só mais tarde me apercebi da dimensão que
representa instalar um curso de Medicina em Portugal.
É muito difícil, mas extremamente aliciante.
O diálogo que se estabelece com os parceiros das
unidades de saúde, responsáveis de outras
faculdades, tutores, alunos, e algo que me tem atraído,
as novas metodologias de aprendizagem que se usam na medicina.
Acho que todos deviam perceber um bocadinho do que se
passa aqui para entender porque é que Bolonha tem
de aparecer. Tem sido tam-bém muito interessante
montar um centro de investigação na área
da saúde. Integrar pessoas com formações
diferentes mas objectivos comuns não foi fácil
numa fase inicial, mas neste momento acho que já
entrámos nos carris e temos um projecto coeso que
inclui pessoas de química e bioquímica,
de farmácia e medicina, alguns médicos,
pessoas da Faculdade, dos hospitais, alunos de doutoramento
e de pós-doutoramento e também vários
projectos aprovados.
É difícil cada novo ano, uma luta, novos
problemas que têm de ser ultrapassados. Acho que
um dos papéis muito importantes da Faculdade e
da licenciatura em Medicina tem sido não só
junto dos médicos mas também das próprias
unidades de saúde.
Já pusemos computadores com acesso à nossa
intranet nos hospitais, nos centros de saúde, estamos
a pôr livros nos hospitais onde os nossos alunos
estão, já mexemos um bocadinho com a orgânica
dos serviços e dos próprios médicos.
É também um esforço que lhes estamos
a pedir, mas acho que no futuro isto vai trazer vantagens
específicas para a região.
U@O - Então pode dizer-se que a Faculdade
de Ciências da Saúde está no bom caminho?
J.Q. - Se disser que é fácil o
dia-a-dia nesta Faculdade estou a mentir. Neste momento,
em relação às expectativas, acho
que está a correr bastante bem. E tenho também
feedback de várias entidades, há reacções
e vê-se que as pessoas já reconhecem de uma
maneira geral o projecto da Faculdade.
Claro que ainda há muito para construir e por isso
não posso dizer que é um sucesso. Ainda
temos muito que trabalhar até podermos respirar
um pouco mais de alívio. Mas posso dizer que temos
uma licenciatura em Medicina com qualidade. Todos os dias
a aprender e a corrigir. No ano passado tivemos um fórum
com todos os alunos e docentes do primeiro e segundo anos,
conseguimos fazer alguns ajustamentos, e esses dois anos
correm sem problemas.
É assim que as coisas se vão construindo.
Estamos a afirmar-nos pela qualidade, temos uma postura
de muito trabalho, mas sempre na perspectiva de afirmação
de um projecto de qualidade.
U@O - Um dos próximos passos é
a construção da nova Faculdade. Como está
esse projecto?
J.Q. - Está a andar muito bem e não
posso deixar de realçar o mérito do Sr.
Reitor neste âmbito porque tenho-o acompanhado de
perto e de facto ele fez aquilo que ninguém conseguiria
para ter o projecto aprovado pela tutela para ser adjudicado,
só falta o visto do Tribunal de Contas mas as obras
já vão começar, já há
candidatura ao PRODEP para as instalações
e equipamentos. O Sr. Reitor tem tido protagonismo num
projecto que considero espectacular, na forma como tem
conseguido levar o projecto adiante, contra as dificuldades
e os cortes que tem havido em todo o País, e nesta
região. É importante estar tudo programado
para que em 2005 tenhamos a obra pronta e acho que isso
também é uma vitória da nossa Universidade.
U@O - Que valências terá o novo
edifício?
J.Q. - A Faculdade terá uma entrada dotada
de alguns anfiteatros só para plenários
e congressos. Um terá cerca de 500 lugares e os
outros cerca de cem. Temos uma parte de direcção
e , em dois pisos, uma parte só dedicada ao ensino,
completamente adaptada ao modelo de aprendizagem seguido
em Medicina, com salas de auto-aprendizagem, de tutoria,
gabinetes médicos e gabinetes para os docentes.
Outra parte é dedicada à investigação
e terá vários laboratórios. Diria
que estes são os três grandes corpos da Faculdade,
a parte de ensino, a de investigação e a
de direcção e apoio.
Acho que será uma obra emblemática para
a UBI e para a região, penso que terá um
grande impacto. Tudo está projectado para o futuro.
|
"Temos de apostar mais na investigação"
|
U@O - Projectos como o SAMURAI e o SEMENTE contribuem
para o desenvolvimento de novas tecnologias usadas na
Medicina?
J.Q. - Sim, temos vários projectos aprovados,
como é o caso do SAMURAI, que têm ajudado
imenso a continuar a implementar as novas tecnologias
no ensino da Medicina, e também a difusão
dessas valias para os hospitais. Qualquer médico
que colabore connosco tem um computador com ligação
à nossa intranet. Temos uma candidatura a um projecto,
o SEMENTE que nos vai permitir a produção
de mais e melhores conteúdos para a intranet. Estamos
todos empenhados em levar o projecto a bom termo e principalmente
com qualidade, na área da investigação,
do ensino médico e das novas metodologias aplicadas
com recurso a às novas tecnologias de informação.
Nesse aspecto considero que a Faculdade tem sabido responder
a todos os desafios e tem estado sempre à frente
daquilo que lhe é exigido.
U@O - Como Vice-Reitor para a investigação
o que pretende desenvolver?
J.Q. - A investigação é
também um desafio muito interessante porque a UBI
teve uma fase extremamente decisiva para a afirmação
pela qualidade. Nos últimos quatro ou cinco anos
a imagem da Universidade tem mudado significativamente.
Chegámos a uma fase em que temos de apostar mais
na reorganização da investigação
e forçar um pouco os investigadores e docentes
a publicarem artigos. Fizemos muitos doutoramentos e mestrados
nos últimos anos. Agora falta transformar tudo
isto em publicações de qualidade.
A afirmação da nossa investigação
acontece quando é publicada em revistas internacionais,
sujei-ta a um processo de revisão por especialistas,
e quando publicamos nos mesmos sítios onde publicam
outros grandes centros de investigação.
Não quer dizer que não se faça investigação
de qualidade na UBI, mas tem de se afirmar, publicando-se.
Esse é um desafio extremamente importante para
a UBI neste momento.
U@O - Como gostaria de ver a UBI a médio
prazo?
J.Q. - Em termos de áreas de conhecimento,
acho que é preciso afirmar alguns projectos. Um
dos mais emblemáticos em termos de imagem da Universidade
e da região é a licenciatura em Medicina.
Acho que esse é um projecto que não pode
falhar e de que a Universidade no seu conjunto não
se pode alhear. É claro que consolidar as novas
áreas que têm vindo a ser desenvolvidas é
também extremamente importante. Há áreas
que já estão mais consolidadas porque funcionam
há muitos anos, há outras que ainda estão
a crescer.
Olhando para os meus pelouros, diria que os considero
muito importantes para a imagem da Universidade no futuro.
Acho que a parte da afirmação da qualidade
do ensino da Medicina e a integração em
todas as unidades de saúde, a formação
de médicos com maior qualidade, é essencial
porque o futuro será a prestação
de melhores cuidados de saúde às populações.
|