António Fidalgo

Métodos e espírito de aprender


Não há métodos de ensino milagreiros, que levem os alunos a aprender sem esforço, que acabem de pé para a mão com o insucesso escolar ou que melhorem significativamente o desempenho, muito fraco como todos sabem, dos alunos portugueses nas avaliações internacionais. Há quem julgue, com efeito, que o problema reside nas metodologias usadas, centradas no professor que ensina de cátedra. A isso contrapõem um ensino que não é bem ensino, mas antes uma auto-aprendizagem, onde o professor será um mediador ou facilitador de conteúdos, e em que o aluno é o verdadeiro centro do processo de ensino e aprendizagem.
Desde há dois mil e quinhentos anos, pelo menos, que o problema se coloca de como ensinar a quem não sabe ou de aprender o que se não se sabe. Muitas e diversas respostas têm sido dadas á questão pedagógica, a de saber como transmitir o conhecimento, de evitar que cada um comece do zero, mas que continue o trabalho iniciado por outros, sem que, por isso, os alunos se convertam em meros sujeitos passivos. A universidade foi e continua a ser uma forma privilegiada de criação e de transmissão do saber, a forma de uma comunidade de professores e alunos à volta do propósito central de que os professores não transmitam apenas o saber que adquiriram de outros antes deles, numa cadeia extensa, tão antiga, quanto a história da ciência, mas que o façam, aumentando-o numa pesquisa permanente de que os estudantes fazem necessariamente parte.
Mais importante que qualquer metodologia, que todas as metodologias, por mais revolucionárias que sejam, é o espírito que tem de reinar nessa comunidade de professores e estudantes. Trata-se de um espírito de trabalho e de esforço. Sejam quais forem os métodos de ensino, o trabalho individual do professor e dos alunos é algo imprescindível. Há a intelecção da matéria que o aluno tem de fazer, e que tem de fazer por si. O professor pode ajudar, deve ajudar, mesmo exigir, mas o momento, verdadeiramente mágico, em que o aluno compreende, entende, uma questão, resolve um problema, esse é um momento dele próprio, operado no seu íntimo. Nesse momento faz-se luz e o professor já não é mais preciso, porque o aluno entendeu, percebeu o problema, e agora vê directamente por ele próprio. O que se pretende no ensino é justamente esse ponto em que o aluno se dá conta directamente de uma questão e da sua resolução, não porque o professor o ensina assim, mas porque o aluno por ele compreende que é assim e porque é assim. Neste momento cumpre-se o ensino.
Há certamente melhores e piores métodos de ensinar, mas nenhum prescinde da participação dos alunos, do seu esforço, da vontade de aprender, do querer de verdade aprender. Criar esse espírito de ensino e aprendizagem, de suscitar a curiosidade dos estudantes, de a alargar, a preencher e de, novamenente, a alimentar, num movimento sem fim, é a melhor forma e método pedagógico.