Este ano, as comemorações
do Dia do Estudante fizeram-se em Lisboa e decorreram
em forma de contestação. A Associação
de Estudantes da Universidade da Beira Interior (AAUBI)
providenciou 2 autocarros para levar os cerca de 100 alunos
da UBI que estiveram na “manif”, diminutivo
pelo qual quase todos tratavam a manifestação
nacional, na última quarta feira, 24. As principais
queixas apresentadas recaem no aumento das propinas, na
necessidade de reforço da acção social
e na revogação do sistema de prescrições.
Na viagem de ida, Luís Franco sente-se esperançado
com “as possibilidades” da “manif”,
mas sabe que “o dia de hoje não vai ter resultados
automáticos”. O presidente da AAUBI pretende
“defender as posições dos estudantes
da UBI, a nível particular, e de todos os que estão
no Ensino Superior (ES), a nível geral”.
”Queremos condenar a política deste Governo
e exigir que se façam mudanças na linha
política para o ES”, clarifica.
A concentração das massas, junto ao Instituto
Superior Técnico, principia às 15h. Desfraldam-se
as faixas e bandeiras. Os vários grupos de estudantes
estão um pouco confusos, tendo algumas dificuldades
em descortinar qual seria a ordem de cada um na “manif”.
Acabam por se posicionar aleatoriamente. O grupo da UBI
fica bem no meio da “manif”.
O percurso, com destino final a rua de São Bento,
iniciou-se na Alameda, mas a concentração
inicial contava apenas com cerca de 300 pessoas. Por momentos,
pensou-se o pior. “Serão só estes?”,
indagavam alguns. A marcha começou por volta da
15h30, com os estudantes do Porto a liderar. Alguns autocarros
cheios de estudantes chegam ao local da concentração
quando esta já tinha partido e apressam-se a alcançá-los.
À medida que os primeiros minutos passavam a “manif”
fica um pouco maior, aumentando para cerca de 3 mil pessoas
15 min após o seu arranque.
Meia hora passada, já em plena Avenida da Saldanha,
ouve-se na rádio um número: 5 mil. Por esta
altura, Luís Franco considera que a “manif”
está a correr “bem”. O presidente da
AAUBI salienta que “o número de manifestantes
tem aumentado e continua a crescer”, destacando
que “só importam os que cá estão”.
Seis carrinhas da PSP seguiram
todo o percurso dos manifestantes
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As autoridades aguardavam cerca de 5 mil estudantes na
manifestação, pelo que foi montado um sistema
de prevenção que incluiu o Corpo de Intervenção
da PSP. Os agentes acompanharam de perto a marcha da manifestação,
mas não intervieram em qualquer momento, apesar
da manifestação se ter realizado sem a autorização
do Governo Civil. Os dirigentes académicos deverão
ser julgados pelo crime de desobediência pública.
A PSP “não impediu a realização
da manifestação para não criar uma
situação de alteração da ordem
pública, mas foi levantado um auto de notícia
pelo crime de desobediência pública e a partir
daqui vai decorrer um inquérito para apurar os
responsáveis", disse o sub-intendente Neto
Gouveia à Lusa.
Os dirigentes académicos garantem que desconheciam
esta situação. "Mandámos um
fax para o Governo Civil onde só faltava a nossa
identificação, mas não nos chegou
nenhuma resposta", replicou Luís Semedo, presidente
da Associação Académica de Lisboa.
Por volta das 17h30, na Avenida Marquês do Pombal,
a comitiva de estudantes vindos de Coimbra junta-se aos
restantes colegas na marcha. A “manif” atinge
o seu auge, em termos numéricos. A partir desta
altura, com o avolumar do número de protestantes,
a marcha demorava cerca de 15 min a passar por um ponto
fixo das ruas de Lisboa.
A chegada à Assembleia da República deu-se
por volta das 18h. Os manifestantes formam um bloco na
rua de São Bento e gritam frases de ordem, com
o intuito de chamar a atenção dos deputados
da Assembleia da República (AR). “Bolsas,
sim, propinas, não”, “Durão,
ladrão, dá-nos a nossa educação”
são exemplos do que ecoava frente ao Parlamento.
Vislumbram-se algumas figuras nas varandas, mas nada acontece.
Parece que os estudantes nem sequer estão lá.
Quase passam despercebidos. Os transeuntes da capital
nem olham duas vezes. “Não têm mais
para fazer?”, reclama Jorge Alves, um anónimo
que por ali passava.
Odete Santos, deputada do Partido Comunista, desce a escadaria
até junto dos estudantes. Dá autógrafos.
Mais discreto, na rua, Francisco Louçã,
do Bloco de Esquerda, olha de trás a “manif”.
Questionado pelo Urbi et Orbi, o deputado reconhece estar
“do lado dos estudantes”. “O Bloco foi
o mais crítico durante as discussões das
novas leis de bases do ES na AR”, argumenta. Louçã
concorda com a iniciativa dos estudantes, porque “é
a forma democrática que têm para demonstrar
que estão descontentes com a política do
Governo”.
Os dirigentes das diversas associações académicas
reúnem-se com elementos da Juventude Social Democrática
(JSD) e, por volta das 19h30, restam poucas pessoas em
São Bento.
Todos procuram uma refeição rápida
para poder tomar o autocarro de regresso. A Avenida 24
de Julho está repleta de autocarros. Os estudantes
da UBI começam a desesperar pelo seu transporte
que tarda em aparecer. Só às 21h30 é
que a viagem de regresso se inicia.
De novo em viagem, o presidente da AAUBI pensa que se
“demonstrou que ainda estamos activos. A contestação
não acabou, algo tem de ser mudado, e têm
de nos dar ouvidos”. Na reunião com elementos
de grupos parlamentares que apoiam o Governo “foram
apontadas algumas diligências e pudémos expor
as nossas questões”. Não houve qualquer
resposta, mas “conseguir expor as nossas posições
é melhor do que sermos ignorados”, avalia.
“Agora temos de ter paciência e esperar que
sejam feitas alterações de fundo na política
do ES. Estou cansado, mas muito satisfeito”. Luís
Franco, que já não dormia há 2 dias,
passou a viagem de volta à Covilhã em sono
profundo. À uma da manhã, os autocarros
chegam à Covilhã.
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