A qualidade dos alimentos
que ingerimos diariamente e os cuidados com a saúde
são algumas das preocupações dos
cidadãos. A investigação científica
em Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer. A
criação de laboratórios para desenvolver
estudos na área da bioquímica e a sensibilização
dos alunos universitários para este problema pode
contribuir para uma melhoria da saúde pública.
O UBIQuímica promoveu, pelo segundo ano consecutivo,
as jornadas nacionais que tiveram lugar a 26 a 28 de Março.
Os oradores deram a conhecer a investigação
que está a ser feita em Portugal.
Segurança alimentar
O aumento das necessidades alimentares pressupõe
o crescimento da eficácia produtiva. Produzir grandes
quantidades a um custo reduzido é o principal objectivo
dos agricultores, no entanto as substâncias usadas
para gerar os produtos alimentares podem ter implicações
na saúde do consumidor.
A globalização dos recursos alimentares
provoca um intercâmbio dos alimentos entre países,
por isso a Comunidade Europeia teve necessidade de criar
medidas para fiscalizar a qualidade dos alimentos e proteger
a saúde dos consumidores.
A criação de uma agência responsável
por dar ao consumidor uma informação clara
e científica é uma medida que deve ser implementada
em Portugal. O que acontece normalmente é que os
portugueses comem sem saber se os produtos são
de boa qualidade. A rotulagem obrigatória é
um elemento essencial no controlo da qualidade dos alimentos,
mas é necessário sensibilizar as pessoas
para a importância da segurança alimentar.
Actualmente, existem testes e análises periódicas
responsáveis por detectar e controlar os níveis
de resíduos contidos nos alimentos. O objectivo
é diminuir os riscos para a saúde pública.
Contudo, as medidas existentes não são suficientes
para garantir aos consumidores segurança alimentar.
Ema Fonseca, professora da Escola Superior de Biologia,
salienta que é preciso "implementar as normas
e a legislação existente, e criar laboratórios
de análises para controlar as substâncias
que existem nos alimentos".
A agricultura biológica é uma forma de produzir
alimentos reduzindo o teor de pesticidas e de substâncias
tóxicas que podem trazer problemas para a saúde
pública. A Comunidade Europeia está a apostar
cada vez mais neste tipo de produção, no
entanto, Portugal "tem que apostar cada vez mais
na agricultura biológica" e contrariar a situação
actualmente existente. Produzir alimentos biológicos,
no nosso País, tem custos elevados que dão
origem a produtos inacessíveis à maioria
das bolsas.
As neurociências
O sistema nervoso comanda o funcionamento do nosso organismo.
A alteração e excitação dos
neurónios pelo consumo abusivo de drogas transformam
completamente o funcionamento do organismo.
O consumo excessivo de drogas gera uma habituação,
que passa a dependência e posteriormente dá
origem a uma viciação. Substâncias
como a cocaína, a heroína, o álcool
e os alucinogénios, exercem uma influência
directa na regulação do comportamento, no
controlo da dor e na regulação autonómica
do sistema respiratório e gastrointestinal.
Os toxicodependentes têm o seu sistema nervoso completamente
alterado, o que provoca um sentimento de compulsão
exacerbado na procura e consumo da droga. Actualmente,
há tratamentos para os toxicodependentes com drogas
alternativas, como é o caso da administração
da metadona que tem um efeito lento mas leva os sistemas
a agir com normalidade. No entanto, os neurocientistas
defendem que as psicoterapias são as mais eficazes
no tratamento da viciação, na medida que
a pessoa arranja mecanismos de recompensa naturais que
ajudam a superar a compulsão.
Existem alguns medicamentos que contêm substâncias
canabinóides(as chamadas drogas leves) na sua composição.
É importante que o medicamento esteja direccionado
para os receptores do sistema imunitário e não
para o sistema nervoso, se bem que estas substâncias
tenham sempre efeitos adversos no organismo. A neurotoxicidade
significa a morte dos neurónios derivada de doenças
neurodegenerativas como acidentes vasculares cerebrais
e doenças de Parkinson e Alzheimer.
A morte dos neurónios pode ter origem em vários
factores. A falta de glucose e de antioxidantes no organismo,
bem como a formação genética, são
algumas das causas responsáveis por este problema.
Uma alimentação saudável, rica em
fruta e vegetais, acompanhada de uma actividade de estimulação
cerebral e de exercício físico moderado
contribui para a prevenção da neurotoxicidade.
O stress, a "fast-food", uma vida sedentária
e o envelhecimento da população são
características das sociedades modernas que podem
originar a morte neuronal. Este problema conduz a vários
desequilíbrios da função normal do
cérebro, nomeadamente à diminuição
da capacidade cognitiva, à alteração
da coordenação dos movimentos e à
perda da memória. Os estudos mais recentes apontam
para a possibilidade de uma terapia das doenças
neurodegenerativas com base na reparação
neuronal através do transplante cerebral de células
estaminais (são células não diferenciadas
com capacidade de autorenovação e divisão).
As II Jornadas de Bioquímica serviram para alargar
os conhecimentos dos alunos, visto que "as disciplinas
leccionadas ao longo da licenciatura não mostram
todos os campos onde o bioquímico pode exercer
a sua profissão", afirma Ana Rita Rafael,
presidente do UBIquímica.
Inscreveram-se cerca de 107 alunos, que se mostraram muito
interessados e participativos.
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