Assistir a uma peça
de teatro de olhos vendados foi o desafio lançado
pelo Teatrubi. Os espectadores entregaram-se às
palavras e deixaram-se guiar pelos outros sentidos. A
peça "O essencial invisível" estreou-se
quarta-feira, 24, no Teatro Cine.
O texto foi a base de todo o trabalho para apelar aos
sentimentos dos presentes. Mário Gomes, actor da
peça, salienta que "a principal intenção
sempre foi estimular a imaginação do público".
De olhos vendados, sem ter a visão do meio que
os rodeia, os espectadores assistiram ao "essencial
invisível". Odores, sensações,
pedidos de ajuda, ou simplesmente o encontro das personagens
com o público através do tacto foram alguns
dos momentos da peça.
O público encontrava-se no palco, no meio dos actores,
funcionando como "cenário, actores, participantes
e espectadores". O envolvimento inquietava alguns
dos presentes, que se mostravam tímidos e confusos
durante o desenrolar da peça.
A cor, a postura dos actores, a forma como interpretavam
as personagens ou, simplesmente, os gestos e expressões
usados por estes não estavam no campo visual do
público. Os espectadores tinham que imaginar um
cenário, as personagens, e criar a sua própria
história, baseados no texto que ouviam e nas sensações
que viviam. Num mundo de sensações invisíveis
a palavra foi enaltecida. Palavras soltas, gritos e silêncio
foram pedaços soltos responsáveis por tocarem
as sensações dos presentes.
Henrique Pereira assistiu pela primeira vez a uma peça
de teatro de olhos vendados. Para o espectador, a peça
tem bastante interesse pelo facto de apelar aos sentidos
retirando às pessoas o sentido mais usado, a visão.
"Quando estamos privados da visão, estamos
perante um desafio, porque somos obrigados a apelar à
imaginação e recorrer aos outros sentidos
para tentarmos perceber o que está a acontecer
à nossa volta", salienta.
Ana Rita Carrilho, a encenadora da peça, sublinhou
que o "essencial invisível" "a que
assistimos foi apenas uma estreia e, portanto, ainda tem
um longo caminho a percorrer para ser aperfeiçoado".
Um espectáculo invisível para visuais de
olhos vendados que, num futuro próximo, pode ser
trabalhado para pessoas invisuais.
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